No Brasil, produção acelerou nos últimos anos com a alta mecanização. (karandaev/Getty Images)
Tais Laporta
Publicado em 18 de agosto de 2019 às 08h25.
Última atualização em 18 de agosto de 2019 às 08h25.
O momento é realmente muito difícil para cafeicultores. Os preços estão em baixa, as supersafras do Brasil aumentam o excesso de oferta global e pequenos agricultores da América Central fogem do setor. Agora, o mal-estar econômico que abala os mercados financeiros traz outra má notícia a essa commodity já frágil.
Pode ser difícil acreditar que o cenário econômico desempenhe um papel importante na demanda por café, uma vez que os viciados em cafeína geralmente podem obter sua dose diária pagando relativamente pouco. Mas, embora a maioria das pessoas não renuncie à sua adrenalina matinal para começar o dia, as xícaras extras podem parecer um luxo e acabam sendo eliminadas quando é hora de apertar os cintos.
"A perspectiva para a demanda não é muito promissora", disse Hernando de la Roche, vice-presidente sênior da INTL FCStone, em Miami, que comercializa café há mais de três décadas. “Em geral, uma recessão reduziria a demanda por café, especialmente nas cafeterias. Pessoas que costumavam tomar uma ou duas xícaras pela manhã em casa e, depois, talvez uma xícara fora, provavelmente vão abrir mão da última."
É uma má notícia para um mercado que já está cambaleando.
Os preços do grão arábica, a variedade suave preferida por empresas como Starbucks, acumulam queda de quase 10% em 12 meses e, em maio, atingiram o menor nível desde 2005. Na semana passada, a Organização Internacional do Café elevou a previsão de superávit para o mercado global, que também inclui grãos robusta. Na quarta-feira, a Olam International, uma das maiores traders de café da Ásia, culpou os preços mais baixos do café e vendas menores pela queda na receita da unidade de confeitos e bebidas.
A desvalorização dos preços atinge em cheio cafeicultores, especialmente em países com custos mais elevados, como Honduras, El Salvador e Guatemala. A concorrência se tornou tão acirrada e os preços tão baixos que a cafeicultura se tornou insustentável para muitos pequenos cafeicultores. Com isso, os herdeiros evitam o negócio.
Enquanto isso, no Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo, a produção acelerou nos últimos anos com a alta mecanização, e não há sinais de reversão dessa tendência. A desvalorização do real em relação ao dólar também estimulou as exportações do país. Os exportadores estão prontos para vender quando houver oportunidade, dadas as preocupações sobre a demanda. Na Colômbia, o segundo maior produtor de arábica, o peso também está mais fraco em relação ao dólar. Os carregamentos de café geralmente são precificados em dólar.
"Com a volatilidade criada pela guerra comercial, as pessoas se tornarão mais cautelosas", disse de la Roche.