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As ações que ganham ou perdem com a alta do dólar

O que acontece com cada setor e como as empresas devem reagir na bolsa ao dólar cotado acima de R$ 2

Dólar impresso (Joe Raedle/Getty Images)

Dólar impresso (Joe Raedle/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 18 de maio de 2012 às 06h00.

São Paulo – Dólar cotado acima dos 2 reais era algo que não acontecia desde 2009. A moeda não só voltou a registrar esse patamar como parece que ficará nele por algum tempo ainda.

Nesse cenário, os analistas do J.P. Morgan elaboraram um relatório que aponta quais empresas têm ações que podem ganhar ou perder com o enfraquecimento da moeda brasileira.

A conclusão geral dos analistas é de que empresas de mineração, celulose, alimentos e aeroespacial tendem a ganhar enquanto companhias aéreas e empresas com dívida em dólar são os perdedores naturais.

Siderurgia e mineração

Como a maior parte das receitas de empresas de mineração é gerada em dólares, um real mais fraco é positivo para companhias, conforme aponta o analista Rodolfo de Angele em relatório enviado para clientes. “O impacto positivo da depreciação do real deve mais que anular uma alta nos custos denominados em dólares”, afirma. Para as empresas que trabalham com aço, o cenário muda e, segundo o analista, depende de como o câmbio pode afetar o mercado e os preços.

Quem ganha: As ações da Vale são apontadas como sendo as mais bem posicionadas. “A Vale tem 100% de sua receita denominada em dólares, enquanto 60% de seus custos estão em reais”, afirma o analista. Ele ressalta que a companhia tem cerca de 97% de sua dívida denominada em dólares, o que pode ter algum impacto negativo, mas os benefícios devem compensar. As ações ON e PN da Vale são classificadas como overweight (alocação sugerida acima da média de mercado).

Quem perde: A siderúrgica Usiminas é a ação com pior posicionamento no setor para aproveitar a depreciação do real. Segundo o analista Rodolfo de Angele, a empresa perde, ao menos no curto prazo, por ter forte exposição aos preços de matérias-primas denominados em dólares, com mais de 80% de sua receita sendo originada no Brasil. As ações USIM5 são classificadas como underweigth (alocação sugerida abaixo da média de mercado).

Serviços públicos

O analista Gabriel Salas ressalta que a maior parte dos lucros e prejuízos das empresas de serviços públicos no Brasil é denominada em reais. O item em dólares mais relevante é o de custos, que pode incluir, dependendo da empresa, gastos com combustíveis para termoelétricas, por exemplo.

Quem ganha: O banco destaca a Eletrobras como uma das empresas do setor que ganha com um real fraco, já que o lucro líquido aumenta com a depreciação da moeda. A classificação para os papéis é de underweight.

Quem perde: Cesp e Sabesp são apontadas como perdedoras no setor. Segundo o analista, as empresas têm 40% e 35% da dívida, respectivamente, sem hedge (proteção) contra oscilações do dólar, o que pode causar forte impacto negativo nos lucros.

As ações da Cesp têm recomendação neutra, enquanto os papéis da Sabesp são classificados como underweight.


Papel e Celulose
Para esse setor, o analista Lucas Ferreira destaca que o Brasil, quando se trata de celulose, tem os menores custos de produção, e as empresas seriam beneficiadas com maior lucratividade no longo prazo com um real mais fraco. Para os produtores de papel, a vantagem é maior poder de competição com importados.

Quem ganha: Para o analista, a Fibria é a empresa do setor melhor posicionada para ganhar com um real fraco, já que suas vendas são denominadas em dólares e a maior parte dos custos em reais. A estimativa do analista é de que um dólar cotado numa faixa entre 1,90 e 2 reais acrescentaria mais 14% ao Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Um ponto de preocupação, porém, é que boa parte da dívida da empresa também é denominada em dólar, o que poderia causar algum impacto negativo. As ações têm recomendação neutra.

Quem perde: A Duratex, que fabrica painéis de madeira, laminados e louças, não tem muitas chances de aproveitar o dólar forte. O analista ressalta que a maior parte dos números da empresa vem de atividades denominadas em real, mas que sua baixa exposição ao dólar ainda poderia causar um impacto marginalmente negativo em seu balanço e seus papéis. Ainda assim, a recomendação para as ações é de ‘overweight’.

Setor aéreo

A atividade que a empresa desenvolve dentro do setor aéreo é definitiva para saber se ela se beneficia ou não do enfraquecimento da moeda. Segundo o analista Joseph B. Nadol, a tendência é de que fabricantes de aeronave de fora dos Estados Unidos sejam beneficiadas e fiquem mais competitivas.

Mas se a ela atuar no setor de transportes, o analista Fernando Abdalla destaca que a empresa pode estar exposta a custos em dólar.

Quem ganha: A ação da Embraer pode ganhar com um real fraco, já que a maior parte das vendas da companhia é feita em dólares. A recomendação para os papéis é de ‘overweight’.

Quem perde: A GOL é uma das fortes prejudicadas no setor de transportes. Apesar de ter sua receita muito atrelada ao real, o analista Fernando Abdalla lembra que importantes custos da empresa são calculados em dólar.

Alimentos, bebida e tabaco

A princípio, a tendência é que um dólar mais forte poderia beneficiar mais os resultados operacionais das empresas de alimentos do que de bebida e tabaco, afirma Alan Alanis no relatório. Mais ainda as empresas produtoras de carne, que tem parte da receita em dólar e maior parte dos custos em reais. Porém, essas empresas têm muita dívida denominada em dólares, o que poderia anular esses benefícios.

Quem ganha: ninguém. Por conta da alta dívida, os analistas recomendam ficar com Ambev e Souza Cruz, sem arriscar com empresas de alimento.


Petróleo e gás
De uma maneira geral, como tanto custos quanto receitas e investimentos são gerados em dólar, as variações não teriam muito efeito para empresas do setor, avalia o analista Caio Carvalhal.

Quem ganha e quem perde: O analista afirma que a OGX seria a empresa menos exposta a variações na moeda. A Petrobras teria um impacto de neutro a levemente negativo com a depreciação do real (já que as receitas aumentariam, mas os gastos também), e a Braskem teria maiores receitas que seriam ofuscadas por maiores custos.

Varejo, consumo e saúde

Segundo análise de Andrea Teixeira esses setores, muito ligados à economia doméstica, têm pouco impacto provocado com oscilações do dólar.

Quem ganha: As ações da Natura poderiam ganhar se a alta do dólar impactasse os negócios da concorrente Avon no Brasil.
 

Quem perde: A maior prejudicada, na visão do J.P. Morgan, seria a Hypermarcas, que possui dívidas denominadas em dólar. Empresas varejistas que trabalham com itens sujeitos à variação cambial também podem sofrer, como B2W, que trabalha com eletrônicos. De uma maneira bem mais sútil, Hering, Renner e Guararapes poderiam sofrer algum impacto com itens importados mais caros.

No setor de saúde, os laboratórios Diagnósticos da América e Fleury poderiam sofrer leve impacto, já que usam produtos para análises suscetíveis a variações de preço de acordo com dólar.

Construção civil e imobiliário

Esses setores, a princípio, não sofrem impacto direto do câmbio, como avalia Adrian Huerta. O impacto seria apenas indireto, caso o real fraco se refletisse em inflação alta, aumentando os custos, que repassariam aos consumidores.

Quem ganha: A BR Malls pode ser uma das beneficiadas, mas de maneira bem indireta. Os shoppings, de maneira geral, poderiam ser beneficiados num cenário de inflação alta que pudesse vir com o dólar forte. Isso porque os contratos de aluguel são ajustados pelos índices de preço. Nesse cenário, a BR Malls é a preferida do J.P. Morgan.

Quem perde: A MRV poderia ser uma perdedora com um sinal de inflação alta, por sua forte exposição aos consumidores de baixa renda.

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