Análise fundamentalista: indicador preço/lucro pode ser um bom ponto de partida na busca por oportunidades na bolsa (krisanapong detraphiphat/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 1 de setembro de 2020 às 18h36.
Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 10h34.
Não é porque uma ação custa 5 reais que ela é mais barata do que outra de 100 reais. A afirmação, à primeira vista, pode soar absurda, mas o preço do ativo pouco diz se ele está caro ou barato. Isso porque, no meio do caminho, existe uma série de variáveis, como quantidade de ações e os rendimentos que ela gera. Embora existam muitas divergências no mercado financeiro, uma coisa é certa entre os grandes investidores: é preciso se atentar mais ao valor da ação do que ao preço.
Na análise fundamentalista, que como o próprio nome ilustra, busca encontrar os fundamentos de cada empresa, uma das principais ferramentas é o indicador preço/lucro, o P/L. Em tese, o P/L revela quantos anos serão necessários para que o lucro da empresa cubra a quantia paga por sua ação.
Mas, claro, “em tese” porque tanto o lucro quanto o preço das empresas são variáveis e não dão garantia de que uma ação que custe duas vezes o lucro garanta, em dois anos, a quantia gasta na ação. Também há a possibilidade de a empresa usar o lucro para reinvestimentos e não distribuir nada aos acionistas. Ainda assim, a métrica pode ser um ótimo ponto de partida para encontrar os melhores descontos na bolsa. Afinal, ninguém quer pagar caro.
“O ideal é o investidor sempre olhar a fundo. Mas o múltiplo serve para pegar uma primeira ideia, comparar com empresas similares e tentar vislumbrar possíveis distorções”, explica Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research.
Conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos, as ações de distribuidoras de energia elétrica têm alguns dos menores múltiplos do Ibovespa, de acordo com dados da plataforma de informações financeiras, Economatica. Entre elas, o menor P/L é da Eletrobras, de 5,9x. CPFL Energia, Taesa, Engie, Energisa e EDP (Energias BR) aparecem com respectivos múltiplos de 11,6x, 7,3x 13,2x e 8,3x.
Veja o levantamento (foram retiradas ações com P/L negativo e com média de volume de negociação inferior a 100.000 reais nos últimos 12 meses):
No entanto, por essa métrica, são as ações dos bancos de varejo que apresentam a melhor relação P/L entre os componentes do Ibovespa. Entre as ações do índice, as do Banco do Brasil são as mais descontadas, com P/L de 5,6x. Itaú, Bradesco e Santander têm múltiplos de 11,5x, 10,4x e 8x, respectivamente.
No outro extremo, as ações de empresas ligadas à tecnologia possuem os maiores múltiplos da bolsa. Entre elas, Linx lidera com P/L de 2.152x, enquanto Sinqia e Locaweb estão com múltiplo de 692x e 405x, respectivamente.
Mas além do setor, a expectativa de crescimento também influencia o P/L. O banco Inter, por exemplo, tem P/L de 692x, enquanto os grandes bancos de varejo, com negócio já consolidado, estão com múltiplos abaixo de 12x. Por outro lado, caso a empresa não apresente o crescimento esperado, suas ações correm o risco de sofrerem fortes ajustes para baixo.
Apesar de ser uma poderosa ferramenta, o P/L pode ter pouca utilidade na análise de companhias com prejuízos. Porém, isso não significa, necessariamente, que elas sejam ruins, já que é comum empresas em pleno crescimento apresentarem perdas antes de se tornarem rentáveis ou até mesmo grandes e bem estruturadas corporações passarem por momentos ruins — o que também pode se revelar um bom timing de investimento. Embora não existam fórmulas exatas para encontrar as melhores oportunidades da bolsa, uma boa análise é sempre o melhor ponto de partida.