O experiente investidor Mark Mobius, especialista em mercados emergentes: ele conta a sua visão sobre o próximo governo | Foto: Simon Dawson/Bloomberg (Simon Dawson/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 25 de janeiro de 2022 às 14h30.
Última atualização em 25 de janeiro de 2022 às 14h34.
Mark Mobius, investidor veterano em países emergentes, alerta para um quadro complexo no Brasil em meio a um ambiente político doméstico incerto e à alta das taxas de juros.
“O cenário para o Brasil é um pouco nublado, com nuvens carregadas aparecendo”, disse Mobius, que deixou a Franklin Templeton Investments em 2018 para montar a Mobius Capital Partners.
Conhecido por seu otimismo usual com mercados de economias em desenvolvimento, Mobius previu a recuperação do Ibovespa na segunda metade de 2020, após os ativos brasileiros terem sido esmagados no início da pandemia do coronavírus.
Desta vez, as ações brasileiras tentam se recuperar após a primeira queda anual desde 2015 no ano passado, quando o Ibovespa teve a segunda pior performance entre índices acionários ao redor do mundo.
Embora os múltiplos descontados já incorporem boa parte das más notícias, pode haver espaço para pressão adicional dado que as autoridades -- dentro e fora do Brasil -- se movem para reverter sua política monetária, de acordo com Mobius.
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“Até certo ponto, muitas dessas variáveis foram colocadas no preço, e temos visto alguma recuperação do mercado”, disse Mobius. Mas, se esses ventos contrários persistirem, “será um ambiente de mercado difícil”, afirmou em entrevista à Bloomberg News.
Inflação elevada contínua, juros em alta e impacto de novas variantes do Covid-19 são os principais riscos para os mercados brasileiros neste momento, segundo ele.
A exposição a Brasil do investidor tem se mantido relativamente estável nas últimas semanas, com Fleury (FLRY3), Lojas Americanas (AMER3) e Totvs (TOTS3) entre suas principais apostas no mercado local.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem liderado as pesquisas de opinião até agora, deve vencer a eleição presidencial marcada para outubro, de acordo com Mobius. O candidato do Partido dos Trabalhadores enfrentará adversários que incluem o atual presidente Jair Bolsonaro e o ex-juiz Sergio Moro.
“Seria perigoso presumir que uma eleição do Lula seria ruim para o mercado”, disse Mobius, observando que o mercado apresentou boa performance após o petista ter sido eleito pela primeira vez em 2002, depois de um período de “hesitação e medo” por parte dos investidores.
Lula poderia ser bom para o mercado, afirmou Mobius, mas comentários de pessoas próximas a ele em relação a um programa de gastos públicos elevados “podem significar problemas em termos de dívida mais alta e impostos maiores” pela frente.
Em uma entrevista recente, Nelson Barbosa, um dos assessores econômicos de Lula e ex-ministro da Fazenda no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, disse que o próximo governo terá que elevar os gastos públicos para combater o aumento da pobreza e o desemprego.
“Se assumirmos uma eleição de Lula, precisamos esperar maior burocracia e gastos do governo”, disse Mobius. Isso “inicialmente poderia dar um impulso à economia, mas, a longo prazo, não seria bom.”