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Argentina: por que o mercado não vê caminho fácil, apesar de disparada da bolsa?

ETF atrelado à bolsa de Buenos Aires sobe mais de 10% em Nova York, mas analistas questionam propostas de presidente eleito

Javier Milei é eleito presidente da Argentina (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei é eleito presidente da Argentina (Luis Robayo/AFP)

Publicado em 20 de novembro de 2023 às 17h58.

Última atualização em 20 de novembro de 2023 às 18h12.

O ETF ARGT, que representa as empresas listadas em Buenos Aires, fechou o pregão desta segunda-feira, 20, em alta de 11,30% nos Estados Unidos. Parte significativa desse movimento é explicada pela disparada da petrolífera estatal YPF, que ocupa 17% de peso no índice de referência do ETF e que disparou 40% em Nova York.

Antecederam a forte valorização da estatal as promessas de privatização, reafirmadas nesta segunda pelo presidente eleito da Argentina Javier Milei. Milei foi eleito presidente da Argentina neste domingo, 19, com 55,69% dos votos contra 44,30% do candidato de situação Sergio Massa.

Em entrevista à "Rádio Mitre", Milei afirmou que irá privatizar "tudo o que puder estar nas mãos do setor privado", inclusive a petrolífera. 

A YPF, mesmo com a alta de hoje, vale apenas US$ 15,2 bilhões. O montante equivale a menos do dobro do valor de mercado da maior petrolífera privada do Brasil, a PetroRio, que tem menos de 10% da produção da YPF.

Incerteza e volatilidade

O prêmio de risco embutido na discrepância de preços é apenas um dos sinais das incertezas que rondam há décadas a economia argentina. A volatilidade, afirmaram analistas da Julius Baer nesta segunda, deverá marcar presença no mercado argentino até o cronograma da agenda de reformas. Reformas que prometem alterar todo o sistema econômico do país a começar pela mudança da moeda e pela extinção do Banco Central.

A dolarização da economia argentina foi uma das peças-chave no discurso eleitoral de Milei. Mas, no mercado, há dúvidas tanto quanto à capacidade política quanto econômica de o plano se tornar viável.

Do lado econômico, restam dúvidas sobre como dolarizar uma economia em que a escassez de dólares tem mantido o preço da moeda local em constante trajetória de queda. Do lado político, os questionamentos são quanto à governabilidade de Milei, que terá será minoria no Legislativo.

"A dolarização total exigiria a aprovação do Congresso e recursos adicionais. Ao longo do caminho, porém, o presidente eleito terá de estabilizar a economia, introduzindo um ajuste dos preços relativos, incluindo a taxa de câmbio, seguido de um plano de estabilização, que terá de incluir um grande ajuste fiscal e um compromisso de eliminar os custos diretos e financiamento monetário indireto", escreveram os analistas do BTG Pactual em relatório. 

O dia de amanhã

Ao menos para 2024, as previsões do Goldman Sachs para a economia da Argentina são preocupantes.

"Esperamos que a economia se contraia pelo segundo ano consecutivo. A  inflação anual está próxima dos 150% e espera-se que continue a subir nos próximos meses. A taxa de câmbio está sobrevalorizada, as reservas internacionais estão em níveis críticos, as reservas líquidas são significativamente negativas, o desequilíbrio fiscal persiste, as obrigações soberanas são negociadas em níveis difíceis e o governo não tem acesso aos mercados financeiros internacionais", pontuou Armella.

No curto prazo, acrescenta Armella, a Argentina ainda enfrentará pagamentos externos em moeda forte ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

As reações na Argentina serão sentidas, de fato, apenas nesta terça-feira, quando Buenos Aires reabre após o feriado do Dia da Soberania Nacional. Amanhã, ao menos a soberania do peso amanhecerá em xeque.

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