Taxa de 50% ao Brasil: Embraer é apontada como principal companhia brasileira afetada pelos analistas. (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Mercados
Publicado em 10 de julho de 2025 às 16h40.
A Embraer (EMBR3) se manifestou nesta quinta-feira, 10, enquanto é citada como a empresa que mais deve sofrer devido à taxa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros. Em nota divulgada, a multinacional afirmou estar trabalhando com as autoridades competentes visando “reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico.”
A Embraer afirmou ainda que avalia os possíveis impactos caso o decreto de Trump se aplique à indústria de aviação no Brasil, que serão abordados na próxima conferência de resultados do segundo trimestre, marcada para dia 5 de agosto.
Nesta tarde, as ações da companhia lideravam as quedas do índice Ibovespa, chegando a cair mais de 7%. A Embraer é apontada como principal companhia brasileira afetada pelos analistas.
Segundo relatório do Bradesco BBI, a receita da companhia depende em cerca de 60% dos Estados Unidos. O impacto potencial estimado no lucro operacional da empresa em 2025 é de US$ 220 milhões, ou cerca de 35% do total projetado para o ano.
O efeito seria parcial em 2025, já que a tarifa entra em vigor somente em agosto. Parte da linha de jatos executivos da companhia, como o Phenom, já é produzida nos EUA, o que pode reduzir o efeito direto. Modelos como o Praetor têm montagem final feita no país. Ainda assim, a extensão da isenção para casos de produção parcial não foi esclarecida.
A Embraer poderá repassar parte do aumento de custo para clientes, via reajuste nos preços de novas encomendas e serviços pós-venda. Em aviação comercial, a incerteza pode levar companhias aéreas a adiar entregas.
Analistas do UBS BB também projetam um impacto negativo para Embraer. Se os EUA aumentarem as tarifas de importação em 10%, a empresa pode ter um custo extra de cerca de US$ 70 milhões. Isso também pode derrubar o lucro líquido de 2026 em cerca de 13%. O cálculo considera somente o segmento de jatos executivos, onde 40% dos Phenom e 60% dos Praetor seriam afetados pela nova tarifa.
No total, 75% das vendas de jatos executivos da Embraer vão para os EUA — ou seja, a maioria das receitas desse segmento está em risco.
Já a equipe da XP Investimentos considera que a empresa pode ter um aumento de US$ 80 a 90 milhões em custos anuais para cada aumento de 10 pontos percentuais nas tarifas. Esse aumento de custos pode reduzir a margem Ebit (lucro operacional) da empresa em cerca de 1 ponto percentual.
Se a tarifa de 50% for implementada, o impacto seria de 5 a 6 pontos percentuais na margem Ebit da Embraer, o que reduziria a previsão de lucro operacional de 7,5% a 8,3% para 2025.
Apesar disso, a Embraer poderia tentar repassar os aumentos de custo para os preços dos jatos executivos ao longo do tempo, conforme as encomendas da sua carteira atual forem sendo entregues. No entanto, as vendas já acordadas limitam a possibilidade de melhora significativa da rentabilidade nos próximos anos.
“Além do impacto direto sobre os custos dos jatos executivos, as tarifas de 50% também poderiam afetar os jatos comerciais (como os E1s), gerando um efeito indireto: as entregas para os Estados Unidos poderiam ser postergadas, como já aconteceu com a Alaska Air”, afirmam os analistas da XP.
O governo dos Estados Unidos vai aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto de 2025. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira, 9, pelo presidente Donald Trump em carta oficial. Empresas brasileiras que operam fábricas em território americano ficarão isentas da taxa.
Ainda não está claro se a nova tarifa se somará a tributos já aplicados por setores específicos, como o de autopeças. Se houver acúmulo, a alíquota total pode chegar a 75% para algumas categorias, somando os 25% atuais ao novo adicional de 50%.