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Após desvalorização de 80%, aéreas têm futuro incerto

Com viagens restritas e fronteiras fechadas para combater o avanço da doença, o setor vive a pior crise dos últimos anos

Voos: o bilhete especial te leva a 14 países.  (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Voos: o bilhete especial te leva a 14 países. (Kai Pfaffenbach/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de março de 2020 às 06h44.

Última atualização em 20 de março de 2020 às 07h30.

O coronavírus Covid-2019 infectou o mercado financeiro, mas nenhum setor sentiu tanto seu potencial de letalidade quanto as companhias aéreas. Embora os impactos financeiros ainda sejam imensuráveis, o setor já sofre perdas bilionárias nas bolsas de valores.

Desde o início do ano, a Delta Air Lines, uma das principais linhas aéreas dos Estados Unidos e do mundo, viu suas ações despencarem 63% e seu valor de mercado se reduzir 24 bilhões de dólares. Com desvalorização semelhante, sua concorrente American Airlines perdeu 7,9 bilhões de dólares de capitalização de mercado. No mesmo período, o S&P 500, principal índice de referência do mercado americano caiu 25,4%.

Com viagens restritas e fronteiras fechadas para combater o avanço da doença, o setor vive a pior crise dos últimos anos. Somente desde o início de março, as duas companhias aéreas com capital aberto na B3, GOL e Azul, tiveram respectivas quedas de 82,6% e 78,8%, enquanto o Ibovespa recuou 40,9%.

Com risco de não conseguirem pagar todas suas despesas devido à forte redução da receita, o setor tem recebido atenção especial dos governos. Por aqui, foi publicada, na quarta-feira, 18, a medida provisória 925/2020, que aumenta o prazo de reembolso de viagens canceladas de sete dias para doze meses.

Adriana Simões, sócia do escritório de advocacia Mattos Filho e especialista em Direito Aeronáutico, considera a MP positiva para as empresas aéreas, porém, longe de ser o suficiente para salvá-las da crise. “Isso dá um fôlego para as companhias aéreas. É um primeiro passo, mas elas vão precisar de muito mais ajuda”.

Para a advogada, uma das medidas mais urgentes seria uma linha de crédito com condições especiais. “Isso ajudaria a manter o capital de giro para elas operarem durante esse momento”. Caso novos estímulos não venham, ela não descarta a possibilidade de falências no setor. “Com o tamanho da crise que estamos vivendo, tudo é possível.”

Simões também não desconsidera a chance de a Azul e a Gol serem compradas por uma empresa de outro país, já que, em 2019, a ANAC permitiu que as aéreas brasileiras pudessem ser formadas por até 100% de capital estrangeiro.

Como se não bastasse o efeito coronavírus, as companhias brasileiras ainda precisam lidar com a valorização do dólar, que já entra na casa dos 5,10 reais. “A alta do dólar sempre atrapalha o setor porque o combustível [que representa cerca de 30% das despesas do setor] é dolarizado”, disse Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. Desde o início do ano, o dólar acumula valorização de 27,2% frente ao real.

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