Petrobras: companhia era a mais valiosa da bolsa, com um market cap de 405 bilhões de reais. (Daniel Acker/Bloomberg)
Tais Laporta
Publicado em 6 de novembro de 2019 às 10h39.
Última atualização em 6 de novembro de 2019 às 13h36.
São Paulo - Após abrirem em alta, as ações da Petrobras passaram a operar com instabilidade. Os negócios foram suspensos entre 13h20 e 13h40, o que significa que os papéis entraram em leilão. Mais cedo, chegaram a recuar mais de 4% e derrubaram o Ibovespa nesta quarta-feira (6), enquanto todas as atenções permaneciam voltadas para o leilão de quatro campos da cessão onerosa do pré-sal. Os papéis ordinários (PETR3) subiam 0,34% e os preferenciais (PETR4) avançavam 0,4% por volta das 13h.
A queda aconteceu depois que a Petrobras arrematou a área de Búzios no pré-sal da Bacia de Santos, considerada a mais atrativa da disputa. A companhia entrou com 90% de participação junto dos consórcios chineses Cnooc e Cnodc e pagará R$ 61,38 bilhões em bônus de assinatura à União pelo bloco.
O campo de Búzios já está em produção pela Petrobras. A estatal tem o direito de explorar até 3,15 bilhões de barris de óleo, volume já declarado comercial pela petroleira, a partir do contrato original da cessão onerosa.
Não houve outra oferta pelo bloco e apenas a Petrobras fez oferta pelo bloco Itapu, o que frustrou expectativas sobre o megaleilão do pré-sal. com a oferta de 18,15% de excedente em óleo à União. Com a vitória, a empresa pagará 1,77 bilhão de reais em bônus de assinatura à União pelo bloco.
O resultado confirmou os temores de que as empresas estrangeiras não seriam tão agressivas nos lances para a cessão onerosa.
As ADRs (recibos de ações da companhia negociados em Nova York) também operaram com instabilidade. Chegaram a cair mais de 6% no pré-mercado, após subirem quase 2% mais cedo, negociadas a 16,65 dólares.
Analistas apontaram que a Petrobras enfrentava um dilema difícil neste leilão: por um lado, se via na obrigação de demarcar território e conquistar áreas estratégicas para exploração futura. Por outro, existia a preocupação de que o tamanho de sua participação na disputa possa comprometer a trajetória de seu endividamento.
O ponto de atenção ficou no fato de que, para comprar duas áreas pelas quais a estatal demonstrou interesse (Búzios e Itapu), ela pode deixar de pagar dívidas e não conseguir atingir a meta financeira do ano que vem.
O mercado teme que, caso a empresa gaste acima do ressarcimento da União, no valor de 9,058 bilhões de dólares, seu plano de desalavancagem (redução do endividamento) possa ser comprometido.
Os dois campos que são alvos da Petrobras custam cerca de 70 bilhões de reais, valor que deve ser pago ao Tesouro até 26 de junho de 2020. Além do bônus de assinatura, quem levar as áreas também será obrigado a compartilhar parte do lucro com a União.
Com o interesse das empresas estrangeiras abaixo do esperado, a Petrobras precisou elevar sua fatia nos campos para garantir o sucesso do leilão. “E lances superiores a 50% de cada bloco podem provocar dúvidas sobre o processo de redução no nível de endividamento da estatal”, pontuou o estrategista-chefe da Levante, Rafael Bevilacqua.
Por outro lado, havia expectativas de uma possível compensação. A disputa poderia ajudar a Petrobras a pagar suas dívidas, já que as demais petroleiras que levarem as áreas leiloadas vão indenizar a estatal pelos investimentos antecipados.
Na última sessão, os investidores adotaram uma posição mais defensiva em relação à petrolífera, empurrando o Ibovespa para baixo, apesar do viés positivo no cenário externo. A possibilidade de que nem todos os quatro campos recebessem ofertas após a desistência das gigantes inglesa BP e francesa Total esfriou, em boa dose, os ânimos do mercado.
As ações ordinárias (PETR3) e preferenciais (PETR4) da Petrobras caíram 1,27% (32,55 reais) e 2,34% (29,65), respectivamente. No entanto, ainda acumulavam ganhos acima de 13% desde o início do mês. A companhia era a mais valiosa da bolsa, com um market cap de 405 bilhões de reais.
Somente em outubro, a petrolífera ganhou 34,8 bilhões de reais em valor de mercado, segundo a provedora de informações financeiras Economatica. Em 2019, os papéis PN da companhia avançavam acima de 30% até a véspera, enquanto as ações ON tinham valorização de 28,64%.
Tudo começou em 2010, quando o governo concedeu à Petrobras o direito de produzir 5 bilhões de barris em áreas do pré-sal, uma camada rochosa localizada nas profundezas do oceano).
Contudo,novas explorações da região deram conta de que a área possuía até o triplo do volume a ser explorado, um excedente que passou a ser chamado de cessão onerosa.
Como a Petrobras só tinha acesso aos 5 bilhões iniciais, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) decidiu realizar um leilão para que mais empresas pudessem ter direito a explorar o pré-sal - incluindo a própria estatal.