Banco do Brasil acha que o pior já passou, mas o mercado discorda (SOPA Images/Getty Images)
Repórter de mercados
Publicado em 16 de maio de 2025 às 15h23.
Depois de divulgar resultados bem abaixo do mercado, o Banco do Brasil (BBAS3) tentou passar uma mensagem de que o “o pior já passou”. Mas o mercado não está querendo pagar para ver, com inadimplência forte do agro e impactos de uma nova regra de provisionamento dando pouca clareza sobre a qualidade efetiva da carteira de crédito.
As ações negociam em queda de cerca de 13%, liderando com folga as baixas da bolsa desde o começo do pregão.
“Os resultados foram muito mais fracos que o esperado em quase todas as linhas, com a margem financeira, que caiu 11% no tri contra tri sendo o culpado principal e sem uma solução rápida”, afirmaram os analistas do Itaú BBA em relatório.
Com forte exposição agro, que soma R$ 400 bilhões na carteira, o banco já vinha sofrendo com o aumento das recuperações judiciais no setor.
Mas nesse trimestre uma nova regra imposta pelo Comitê Monetário Nacional, a 4966, trouxe ainda mais pressão. Pela nova resolução, os bancos precisam fazer provisões sobre ‘perda esperada’, tendo uma visão ainda mais conservadora sobre a qualidade dos seus ativos, o que impacta o reconhecimento de ativos problemáticos.
Antes, os bancos podiam reconhecer no balanço, por exemplo, as receitas em renegociação e com mais carência – o que mudou com a nova regra.
A presidente do BB, Tarciana Medeiros, afirma que parte do problema é praticamente uma questão ‘técnica’ e disse que a está abrindo conversas com o Banco Central para levar propostas de tratamento diferente para a carteira do agro.
“Tínhamos dúvidas sobre como ia se comportar a carteira agro, que tem suas características e um fluxo de pagamento diferente, tem um período de cura diferente. Então estamos com essas conversas com o regulador”, afirmou a executiva em teleconferência.
Essa foi das razões pelas quais o banco suspendeu seu guidance – fato que deixou o mercado ainda mais sem parâmetro para balizar suas projeções.
Segundo Medeiros, o aumento da inadimplência ficou “um pouco acima” do esperado. “Só que no agro, como os volumes são muito elevados, qualquer variação de inadimplência que ocorra fora da previsão tem um impacto muito grande nas provisões”, disse.
“O que estamos passando agora é a implementação de uma nova norma, no ápice da inadimplência da carteira rural. Os agricultores precisam comercializar a safra para depois acertar suas contas.”
A executiva afirmou que cerca de 80% dos clientes que estão inadimplentes neste momento tem relacionamento longo com o banco e são bons pagadores. “Então, há a expectativa de honrar essas dívidas ainda no segundo trimestre”, diz.
O CFO Geovanne Tobias reforçou a mensagem.
“Este é o pior balanço porque o banco vislumbra uma safra recorde e os resultados financeiros podem melhorar de acordo com a colheita. A meta é estabilização da carteira conforme o calendário agro”, ressaltou.
Diante das incertezas, o JP Morgan ressaltou que vai esperar mais clareza.
“Embora os fatores que influenciam a contabilidade não ajudem, não temos certeza se isso é apenas um contratempo (“as coisas melhorarão no próximo trimestre?”, questiona o banco) ou se levará mais tempo, já que parte das tendências desanimadoras depende do ciclo de crédito do agronegócio e de outros produtos, que continua a se deteriorar”, escreveram os analistas do banco em relatório.
O BB reportou um lucro líquido fraco de R$ 7,4 bilhões, 20% abaixo do esperado pelo mercado, e retorno sobre patrimônio de 16,7%, o menor desde o terceiro trimestre de 2021.
O Itaú BBA afirmou que o resultado teria sido ainda pior se não fosse por um imposto baixo: o Banco do Brasil pagou um IR de 4% no trimestre, contra 16% no quarto trimestre.
A margem financeira (NII) foi de R$ 23,9 bilhões, uma queda de 7% na comparação anual.
O principal vilão para a deterioração dos resultados foi a piora da inadimplência na carteira de crédito rural, que alcançou 4,5% considerando atrasos superiores 90 dias, um aumento de 59 pontos-base no trimestre.
Mas os segmentos de pessoas físicas e jurídicas também apresentaram aumentos de 54 e 55 pontos-base, respectivamente, em relação ao trimestre anterior.
A eficiência operacional também piorou: o índice, que mede o quanto das receitas são consumidas por despesas, saltou para 41%, frente aos 32,9% do trimestre anterior.
O Safra revisou para baixo suas estimativas de lucro para 2025 e agora projeta que o ROE do banco fique nos "dois dígitos baixos". Ainda assim, manteve a recomendação de compra pelo valuation atrativo.
Apesar da decepção com os números, o BTG vai na mesma linha.
“Nosso instinto inicial foi considerar rebaixar a recomendação, mas não acreditamos que isso ajudaria os investidores. A mudança contábil revela que o ROE acima de 20% não é sustentável — mas o mercado nunca precificou o papel para isso", escreveram os analistas.