Produtos da Kraft Heinz: companhia anunciou uma baixa contábil de 15 bilhões de dólares dos ativos intangíveis e de patrimônio de marca (Oli Scarff/Getty Images)
Natália Flach
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 12h46.
Última atualização em 11 de julho de 2019 às 17h27.
São Paulo - Não foram apenas os investidores que penalizaram a Kraft Heinz pelos resultados divulgado na noite de quinta-feira, 21. Analistas que fazem a cobertura do papel passaram a questionar as reais chances de crescimento da companhia e sua capacidade de seguir com planos de aquisição. Levantamento feito pela Bloomberg mostra que JPMorgan, Stifel, Piper Jaffray, Barclays e UBS mudaram suas recomendações depois que a gigante controlada pelo 3G e pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, reduziu a distribuição de dividendos e diminuiu as expectativas de margem de lucro. As casas de análise escreveram que os papéis estão “abaixo da média de mercado” (underperform) ou sugeriram aos acionistas “manter” (hold) ou “ficar neutro” (neutral) em suas posições. Segundo John Baumgartner, analista do Wells Fargo, em relatório, “a série de desapontamentos” não dá subsídios para recomendar compra, mesmo com a queda de 27,6% da ação para 34,84 dólares, às 12h25 desta sexta-feira, 22.
Já a gestora GEO Capital, que detém papéis da Kraft Heinz em seus fundos, está analisando "de que forma essa dinâmica de ‘maior crescimento de receita, com margem menor’ impacta a nossa visão de valor intrínseco de longo prazo", segundo Daniel Martins, sócio-fundador da asset. A questão é que alguns pontos citados pelos analistas como negativos, como o corte dos dividendos, é entendido como positivo por Martins. “Esta é uma medida que muita gente não gosta, porque usa ‘dividend yield’ como métrica de valuation. Por trás dessa decisão da companhia está o objetivo é acelerar a desalavancagem”, afirma.
O que preocupa Martins, na verdade, é a baixa contábil de 15 bilhões de dólares dos ativos intangíveis e de patrimônio de marca (diferença entre o valor pago para uma empresa adquirir outra e o valor patrimonial dessa mesma empresa), principalmente relacionados a US Refrigerated and Canada Retail e determinados produtos das linhas Kraft e Oscar Mayer. Apenas como referência, a Kraft Heinz carregava cerca de 105 bilhões de dólares em ativos intangíveis (incluindo o patrimônio de marca), logo, a baixa contábil (não-caixa) representaria cerca de 14% desses ativos (ou cerca de 12% dos ativos totais).
Outra fonte de preocupação, segundo Martins, é a projeção de Ebitda ajustado para algo entre 6,3 bilhões de dólares e 6,5 bilhões de dólares, em 2019, ou seja, cerca de 15% a menos do que o mercado estimava. Os motivos para essa revisão foram os impactos do aumento das despesas de marketing e dos projetos de redução de custos que estariam sendo postergados/cancelados. “A companhia tem conseguido apresentar o crescimento orgânico esperado de cerca de 2% a 3% ao ano; no entanto, tem orçado um esforço de marketing maior para o futuro. Além disso, a baixa contábil realizada, por mais que tenha sido ‘não-caixa’, deve estar ligada a uma percepção menor de valor de marca, o que também coloca em questão o poder de preço de longo prazo”, diz.