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Amor em baixa? Por que os aplicativos de namoro, como Tinder e Bumble, desabam 80% na bolsa

Após ter atingido o ápice na bolsa durante a pandemia, setor passa por crise de confiança no mercado; desaceleração e queda de usuários pagos preocupam

Aplicativos de relacionamentos: ações do Bumble e tinder acumulam queda de 80% desde máximas históricas

Aplicativos de relacionamentos: ações do Bumble e tinder acumulam queda de 80% desde máximas históricas

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 17 de fevereiro de 2024 às 07h00.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2024 às 10h20.

O amor da sua vida pode estar mais perto do que você imagina, provavelmente, a apenas alguns cliques de distância. Isso é o que sugere um extenso estudo realizado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que mostra que 60% dos casais atuais estão sendo formados pela internet. Essa proporção veio crescendo desde o fim dos anos 1990 e se tornou o principal meio para os casais se conhecerem nos anos 2010. O período remete à oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do Match Group, dono de uma série de aplicativos de namoro, como Tinder e Hinge.

Do flerte à crise com o mercado

As ações do Match Group bateram pico durante a pandemia. Sem a possibilidade de encontros em bares ou mesmo no trabalho e faculdade, o meio virtual se tornou uma ferramenta ainda mais importante para encontrar aquele crush. O momento positivo para o setor levou o Bumble, outra gigante, a abrir capital. O IPO saiu a US$ 43 por ação e ainda no primeiro dia de negociação o preço saltou para US$ 76,5. O que ninguém sabia era que aquele seria um dos últimos dias de amor entre o mercado e os aplicativos de namoro. A partir de então, as ações do Match Group e Bumble passaram a acumular perdas avassaladoras.

Desde os picos de 2021, a dona do Tinder já caiu 80% e a da Bumble, 82%. As quedas são relacionadas a questionamentos sobre a sustentabilidade do nível de crescimento que esses aplicativos vinham apresentando.

Após o súbito crescimento apresentado durante a pandemia, o número de usuários pagos do Match Group vem caindo desde 2022. Em 2023, a baixa foi de 5%, sendo de 8% no Tinder, o principal aplicativo da holding. Esse declínio ocorre após a plataforma ter aumentado o preço de suas assinaturas nos Estados Unidos. No quarto trimestre, a receita média por usuário pago do Tinder teve alta de 21% para US$ 16,49.  Esse grupo é formado, majoritariamente, por homens que buscam maior exposição na plataforma e curtidas ilimitadas.

"Estimamos que o impacto das otimizações de preços de 2023 sobre os pagantes esteja praticamente completo e continuamos confiantes de que as mudanças de preços criaram uma base de pagadores mais sustentável e saudável no futuro", afirmou o Match Group na apresentação de resultado.

Os números mais baixos, no entanto, ligam o alerta sobre se este mercado já não estaria saturado. São 15 milhões de usuários pagos no Match Group, sendo 10 milhões apenas no Tinder. Dois anos atrás, eram 16 milhões de usuários.

A quantidade de usuários pagantes do Match Group desde 2021 é semelhante à entrada de 800.000 pagantes nas plataformas do Bumble. Com aplicativo focado em oferecer uma melhor experiência para o público feminino (são as mulheres que sempre iniciam as conversas, por exemplo), o Bumble tem ganhando terreno nos últimos anos. Mas a queda da taxa de crescimento de receita já acendeu a luz amarela na empresa.

O aumento anual do faturamento, que foi de 47% em 2021, desacelerou para 23% no terceiro trimestre 2023, o último divulgado pela companhia. Pior: isso tudo acompanhado de quedas sucessivas no valor médio recebido por usuário pago. Nesses dois anos, o recuo foi de 7,16% para US$ 28,38. O crescimento, portanto, tem sido sustentado exclusivamente pelo maior número de usuários pagos em sua base, que chegou a 2,6 milhões no Bumble e em 3,8 milhões em toda o grupo, que também abarca os aplicativos Badoo e Fruitz. 

A nova aposta do Bumble para reacelerar o crescimento foi a troca de CEO, com a saída da fundadora Whitney Wolfe Herd e entrada da brasileira ex-CEO do Slack Lidiane Jones. No Match Group, a mudança veio mais cedo, em maio do ano passado, com a chegada do novo CEO Bernard Kim. Ambos tem em mãos os desafios de tornar seus produtos suficientemente atrativos a ponto de seus usuários aceitarem pagar por vantagens nas plataformas. Ainda mais considerando que, se der certo demais no amor, seus usuários deixarão de assinar seus aplicativos.  Aos investidores cabe a tarefa de tentar decifrar qual é o tamanho desse mercado potencial e se as ações dessas empresas já não caíram o suficiente. 

Ficou barato?

Entre os analistas que cobrem o setor há um forte consenso de compra para esses papéis, segundo compilação da Nasdaq. Mas nem os mais otimistas esperam que as ações subam rapidamente para o patamar em que estavam em 2021, quando o mundo ainda vivia sob os efeitos da pandemia. A mediana do preço-alvo de 26 analistas para as ações do Tinder está em US$ 44,2, representando um potencial de alta de 17,3%. Já o preço-alvo mediano de 22 analistas para o Bumble é de US$ 16,5, com upside de 21% em relação à cotação atual.

A favor essas empresas tem o fato de terem conseguido apresentar sucessivos aumentos de receita nos últimos anos, mesmo em um cenário mais desafiador para o setor. Outras duas vantagens é que o negócio é facilmente escalável e, por terem gastos relativamente baixos, possuem margens elevadas. No quarto trimestre, o Match Group lucrou US$ 362 milhões, 26% a mais que no mesmo período de 2022, com uma margem de 27%. Já o Bumble vem de uma queda de lucro de 12% para US$ 26 milhões, puxada por maiores gastos administrativos e com propaganda.

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