Sem mencionar a empresa, o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, classificou o caso como uma fraude isolada (Flora Pimentel/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 8 de fevereiro de 2023 às 12h58.
Mesmo sem ser citada nominalmente, a Americanas tem sido o grande destaque dos balanços dos bancos. Principais credores da varejista, os bancões tiveram que aumentar os gastos com provisionamento para devedores depois que a companhia entrou em recuperação judicial – e não foi diferente com o Itaú.
O maior banco privado do Brasil viu seu lucro líquido encolher 5,1% na base trimestral, para R$ 7,7 bilhões devido à provisão de crédito corporativo para um “evento subsequente”, ou seja, que ocorreu depois do fechamento do trimestre em dezembro. Trata-se do impacto da Americanas, que tem pendências de R$ 2,9 bilhões com o Itaú. Não fossem as provisões com a varejista, o lucro do banco teria sido de R$ 8,4 bilhões, acima das expectativas dos analistas.
Sem mencionar a empresa, o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, classificou o caso como uma fraude isolada, que não afeta o apetite de crédito do banco para o atacado, seguimento de concessão para grandes empresas.
“Fizemos uma revisão da carteira [após o caso] e, com as informações que temos hoje, entendemos que foi um caso isolado que não tem um efeito de contaminação. Não há restrição de crédito por causa desse evento”, afirmou em coletiva com jornalistas nesta manhã sobre o balanço do Itaú divulgado na véspera.
O CEO, no entanto, reconhece um aumento nas preocupações com o crédito para grandes empresas. A projeção para os custos de crédito no atacado subiram para o intervalo entre R$ 36,5 e R$ 40,5 bilhões, aumento expressivo em relação aos R$ 32 bilhões de 2022, que já contém toda a provisão relacionada à Americanas.
“Existe um avanço e uma normalização no mundo do atacado. É um período bastante atípico, que já vínhamos observando [os efeitos] na pessoa física em 2021 e 2022. É esperado uma normalização também na carteira do atacado”, explicou Maluhy Filho.
Diferente do que ocorre no crédito para pessoa física, nas grandes empresas o foco de atenção não é a inadimplência, mas o perfil de pagamento de crédito. O objetivo é observar, caso a caso, a capacidade da companhia em pagar sua dívida e iniciar as provisões antes que a empresa cesse os pagamentos.
E nestes casos o problema não é o efeito Americanas, mas as consequências do ambiente macroeconômico para a sustentabilidade das empresas brasileiras. Em um momento de juros altos, as companhias estão tendo maior dificuldade para se financiar, e pipocam no mercado casos de renegociações de crédito e recuperações judiciais.
Para citar alguns exemplos, a Oi iniciou os processos para entrar em uma nova RJ, enquanto a Light contratou a Laplace Finanças – que recentemente assessorou a Oi – para buscar “estratégias financeiras visando a melhoria da estrutura de capital”. Hoje mais cedo, a Marisa anunciou a renúncia do CEO e de um dos membros do conselho em meio à contratação da BR Partners para assessorar a empresa no processo de renegociação de dívidas e da Galeazzi Advogados, no aperfeiçoamento de sua estrutura de custos.
Perguntado sobre a Oi, Maluhy Filho afirmou que não comenta casos específicos, mas que o nível de provisionamento da carteira está adequado.