Thiago Silva, CFO da Ambipar (Ambipar/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 8 de novembro de 2022 às 16h26.
O balanço do terceiro trimestre da Ambipar (AMBP3) pode ter sido o último antes da listagem da divisão Response, de atendimento a emergências ambientais, na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE, na sigla em inglês). Essa, ao menos, é a expectativa da direção da empresa.
"Ainda depende da burocracia do mercado americano. Mas tem tudo para a listagem ocorrer ainda neste ano. Aí já entraria no balanço do quarto trimestre", disse Thiago Silva, CFO da Ambipar, em entrevista à Exame Invest.
A operação está prevista desde o meio do ano, quando a Ambipar aprovou a fusão da Response com a HPX, sociedade de propósito específico (SPAC, na sigla em inglês), que prevê a listagem na NYSE e a capitalização de, no mínimo, US$ 168 milhões. A divisão seguirá como subsidiária do grupo, que continuará com 71,8% de seu capital.
Pelas projeções da Ambipar, a conclusão do negócio fará com que o nível de alavancagem da Ambipar caia pela metade, dando um novo gás ao crescimento inorgânico e aliviando a pressão financeira do balanço.
No resultado do terceiro trimestre, divulgado na última noite, a companhia mais uma vez sofreu com o aumento do custo da dívida líquida, que encerrou o período em R$ 3 bilhões, o dobro do mesmo período do ano passado. Como consequência do aumento da dívida e da alta da Selic, a Ambipar reportou um prejuízo financeiro de R$ 158,3 milhões, 270% superior ao do terceiro trimestre de 2021.
O lucro líquido, pressionado pela despesa financeira, caiu 24% para R$ 33,2 milhões -- mesmo com o Ebitda positivo de R$ 272,6 milhões, 69,1% superior na comparação anual. A margem Ebitda foi de 27,8%. Com o menor nível de endividamento, a expectativa é de que sobre mais para a última linha do balanço.
A previsão inicial era de que todo o processo de listagem já estivesse concluído. Mas a escolha foi engordar ainda mais a operação da Response antes da estreia no mercado americano.
"Com a compra da Witt O'Brien, tivemos que esticar um pouco o cronograma para colocar os números dentro do formulário de referência da bolsa americana. Mas estamos numa toada forte. Já passamos pela segunda rodada de exigências [para listagem em Nova York]", disse Silva.
A compra da Witt O'Brien, acertada em setembro e concluída em outubro, praticamente dobra o tamanho da Response em termos de faturamento. Em 2021, a companhia, líder global no setor de gerenciamento de crises, teve receita de R$ 1,034 bilhão, enquanto a Response terminou o último trimestre com receita acumulada de R$ 1,3 bilhão em doze meses.
"O crescimento com pequenas aquisições nos colocou numa posição de olhar para aquisições maiores, como foi com a Witt O'Brien. É uma empresa muito complementar no nosso portfólio de serviços no mercado norte-americano. Fizemos muitas aquisições de empresas que atuam no atendimento da emergência e a O'Brien, que é muito forte no gerencimaento, sempre terceirizava o atendimento em si", explicou Silva.
Parte da estratégia de aquisição da Ambipar visa as vendas cruzadas, em que a base de clientes de uma empresa passa a comprar outros serviços do grupo. Essa sinergia, disse Silva, tem ocorrido de forma bastante rápida. "Algumas outras tem levado mais tempo, até seis meses."
Por meio das sinergias com aquisições e crescimento orgânico, o faturamento da Ambipar segue em expansão. No terceiro trimestre, a receita líquida da companhia estabeleceu um novo recorde, de R$ 980 milhões, 59,1% acima na comparação anual. A receita acumulada nos nove primeiros meses do ano, de R$ 2,599 bilhões, já mais de o dobro da registrada no mesmo período de 2021.
Com a Ambipar passando a incorporar os resultados da Witt O'Brien no quarto trimestre, a possibilidade de um novo recorde de receita é praticamente certa. A grande expectativa estará com a lucratividade.
Pelas projeções de Silva, o resultado final deve seguir uma tendência de melhora, dado que já houve um avanço em relação ao segundo trimestre, quando o lucro líquido foi de apenas R$ 4 milhões. "A curva de juros está com viés de baixa daqui para frente. Então, o lucro líquido tende a expandir, assim como a margem. Esse [queda do lucro] é só um efeito temporal, que vai ser resetado pela melhora de margem e crescimento da companhia", afirmou.
Na parte de custos, a Ambipar manteve praticamente estável o nível de capex (investimentos) em Environment, com queda de 1,5% na comparação anual para R$ 126,3 milhões. "Ainda está em um patamar que reflete o nível de crescimento da companhia. Mas acredito que esse número tende a ficar menor no futuro próximo." Esses valores, explicou o CFO, também inclui gastos com aparelhos para impulsionar o crescimento de empresas adquiridas, como a compra de helicópteros, por exemplo.
Por outro lado, a empresa segue atenta a potenciais oportunidades de aquisição. Na frente de Response, para a qual a empresa tem voltado seus planos de crescimento no exterior, o capex teve alta anual de 82,1% para R$ 79 milhões no último trimestre.