ARI DE SÁ, NA NASDAQ: “Nós somos mais low profile mesmo” / Divulgação
Denyse Godoy
Publicado em 26 de setembro de 2018 às 19h42.
Última atualização em 26 de setembro de 2018 às 20h05.
Sem alarde, a Arco Educação, holding cearense dona da plataforma de ensino SAS, arrecadou 194,5 milhões de dólares com a venda de uma fatia de 22,8% na companhia em uma oferta pública de ações na bolsa Nasdaq nesta semana. Com isso, a companhia chegou a um valor de mercado de 1,2 bilhão de dólares. Os papeis saíram a 17,50 dólares, valor máximo estimado no prospecto da operação. A opção por abrir o capital da empresa nos Estados Unidos está relacionada ao maior conhecimento e interesse do investidor americano pelo setor de tecnologia, segundo Ari de Sá Neto, presidente da Arco e membro da família que criou o grupo. O empresário falou por telefone a EXAME de Nova York após acompanhar nesta quarta-feira a estreia das ações no pregão, com uma alta de 34%.
Essa alta tão notável de uma ação no primeiro dia de negociações costuma indicar que os investidores poderiam até ter comprado mais papeis durante a oferta. Como foi a demanda na venda inicial?
A demanda foi fortíssima. Realmente, o fato de as ações estarem performando tão bem no final do dia de hoje mostra a confiança dos investidores na companhia, pelos resultados que já gerou, pela qualidade da gestão e do seu time. Muitos investidores estão montando uma posição maior no papel. Estamos muito felizes inclusive com a qualidade dos investidores que participaram, foi uma operação muito bem-sucedida. Usaremos os recursos em novos investimentos em nossos produtos e na tecnologia de ensino.
Os investidores não manifestaram preocupação com os potenciais efeitos da instabilidade política e da letargia da economia sobre o setor de ensino privado?
O fato de a empresa ter crescido a um ritmo de 40% ao ano nos últimos cinco anos, quando o Brasil enfrentava a pior recessão da história, mostra a satisfação dos clientes com a plataforma, que consegue efetivamente impulsionar o aprendizado dos alunos e gerar valor. A companhia possui fundamentos muito sólidos, uma história reconhecida e ótimas perspectivas. No Brasil, o mercado da educação básica é regulado pela qualidade, e quem oferece as melhores soluções atrai mais alunos. Atualizamos o nosso material diariamente a partir do feedback que recebemos de nossos alunos e escolas. Nos últimos anos, mesmo durante a crise, o mercado ficou mais ou menos constante, porque educação é uma prioridade para as famílias.
A oferta foi direcionada a investidores nos Estados Unidos, porém mesmo nesse caso as empresas brasileiras costumam conversar mais com o mercado financeiro local durante a venda inicial, e pouquíssimo se ouvir falar do IPO da Arco no Brasil até agora. Por quê?
Nós somos mais low profile mesmo. Achamos que ficar falando da venda tiraria nosso foco da operação, por isso adotamos uma postura conservadora. Além disso, escolhemos a Nasdaq, que está em um contexto de tecnologia, com investidores que atuam nessa área, têm mais conhecimento e podem aportar mais do seu capital. Analisamos os benefícios de a companhia fazer parte do mercado de ações dos EUA. Isso nos ajuda a construir uma empresa melhor.
Diante da forte volatilidade do dólar e da bolsa brasileira nos últimos tempos, tanto por conta do crescimento fraco da economia quanto pelas incertezas políticas, o senhor vê mais empresas optando por abrir capital em Nova York?
Depende muito do modelo de negócio, do tipo de empresa, mais do que do cenário de mercado. Várias outras empresas de tecnologia brasileiras fizeram esse caminho recentemente.