Invest

"Alta não é exagerada e dólar pode ir a R$ 6 se o governo não mudar o discurso", diz Alfredo Menezes

Moeda americana encerrou a semana no maior patamar desde janeiro de 2022; no ano, o real está entre as piores performances do mundo, mesmo em relação a emergentes

Alfredo Menezes: "Devemos ver o dólar batendo a máxima do ano no último trimestre, a não ser que o governo mude o discurso. Se não mudar, o dólar pode ir a R$ 6 facilmente" (Leandro Fonseca/Exame)

Alfredo Menezes: "Devemos ver o dólar batendo a máxima do ano no último trimestre, a não ser que o governo mude o discurso. Se não mudar, o dólar pode ir a R$ 6 facilmente" (Leandro Fonseca/Exame)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 28 de junho de 2024 às 18h17.

Última atualização em 28 de junho de 2024 às 18h50.

Tudo sobreDólar
Saiba mais

O dólar atingiu a máxima desde janeiro de 2022 nesta sexta-feira, 28, com a moeda sendo negociada a R$ 5,60. A valorização ocorreu após um novo discurso agressivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou que "gostaria de fazer o ajuste fiscal em cima da rentabilidade dos banqueiros, que ganham dinheiro fazendo especulação na bolsa de valores." A alta no ano é de 15,3%.

O patamar, embora bem acima do consenso do mercado para o fim do ano (de R$ 5,15), não é exagerado, na avaliação de Alfredo Menezes, CEO da Armor Capital. Embora a projeção dos principais bancos ainda seja de dólar abaixo de R$ 5,30 para o próximo ano, Menezes acredita que há razões bastante concretas por trás da valorização do dólar no Brasil. "Não vejo o BC intervindo pela hipótese de o mercado não ser funcional, pois está funcional ainda. O que me preocupa é que, dado o nível do dólar, vai deteriorar a expectativa de inflação para o ano que vem e os agentes de mercado vão cobrar uma alta de juros para controlar a inflação. É um cenário bem complicado."

A alta do dólar no Brasil tem relação com sua apreciação no mundo, dada a menor urgência do Federal Reserve (Fed) em cortar as taxas de juro dos Estados Unidos, diante de dados ainda fortes para a inflação e atividade econômica americana. A expectativa do mercado, que chegou a ser de sete cortes de juros ainda neste ano, hoje é de apenas dois. O real, no entanto, é o maior destaque negativo do ano, mesmo se comparado a outras moedas emergentes. O peso mexicano e a lira turca, por exemplo, tiveram respectivas quedas de 9,7% e 7,3% ante o dólar. A pior performance, afirma Menezes, é justificada em grande parte pela piora da percepção fiscal.

"Devemos ver o dólar batendo a máxima do ano no último trimestre, a não ser que o governo mude o discurso. Se não mudar, o dólar pode ir a R$ 6 facilmente", disse Menezes em entrevista à EXAME Invest. Menezes, que foi chefe de tesouraria do Bradesco e é uma das principais referências do mercado brasileiro em câmbio, afirmou estar apostando na desvalorização do real.

Dólar a R$ 6?

A solução para o câmbio, na avaliação de Menezes, seria o governo buscar um maior equilíbrio fiscal pelo lado dos gastos, já que o espaço para aumento de impostos teria atingido um limite. "Mas os sinais ainda são de aumento de arrecadação. Se esse cenário continuar, vamos ter um nível de atividade pior para o ano que vem. É importante mantermos um crescimento constante para a relação dívida/PIB não se deteriorar rapidamente. Seria muito bom se o governo alinhasse seu discurso com as necessidades fiscais."

Mas não é só o fiscal que preocupa o gestor. As contas correntes, diz, têm piorado de forma acelerada, com as importações subindo mais rápido que o esperado. Já do lado das exportações, a expectativa é de que o melhor já tenha ficado para trás. "O primeiro trimestre é o momento de melhor fluxo para o real. É quando há maior exportação de grãos. No último trimestre, não há nenhuma grande pauta de exportações e as importações de bens duráveis tendem a subir, um pouco devido às importações de carros modelo 2025 e às importações de Natal. Além disso, há uma remessa de juros e dividendos bem expressiva, o que deve explicar o dólar mais forte no último trimestre."

Menezes conta que havia, entre investidores, a expectativa de que grandes exportadoras estivessem com dólares represados no exterior e que, no momento de internalizar esses recursos, o real iria valorizar. "Só que nós temos analisado as 19 principais exportadoras do Brasil e elas não têm aumentado o caixa fora do país. É um colchão de liquidez que o mercado achava que existia e não existe. Então, qualquer momento de estresse realmente vai impulsionar o preço do dólar para cima."

O gestor aponta ainda que a política monetária, que vinha jogando a favor do real nos últimos anos, não é um diferencial. "A diferença de juros em relação ao externo, considerando o cupom cambial interno, está muito baixa. É um cupom de 3,30%. Os próprios juros locais não estão protegendo a moeda." O que poderia ajudar a moeda no curto prazo, diz, seria o Fed iniciar o corte de juros em setembro. "Mas acredito que ficará apenas para novembro."

Acompanhe tudo sobre:DólarCâmbioGestores de fundos

Mais de Invest

Qual a diferença entre herdeiros necessários e testamentários?

Mercado pressiona Fed por novo corte de 50 na próxima reunião

Quais são os documentos necessários para fazer um inventário extrajudicial?

Petrobras bate recorde de investidores, mesmo com queda de CPFs na B3