Capital: o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse na segunda-feira que a forte saída de recursos em renda fixa em março deve estar relacionada ao ciclo de alta de juros nos EUA (Oleg Golovnev / EyeEm/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de agosto de 2022 às 11h48.
Última atualização em 1 de agosto de 2022 às 12h17.
A aceleração da alta dos juros pelos bancos centrais dos países desenvolvidos para conter a inflação está intensificando a saída de capital do mercado financeiro dos países emergentes, incluindo o Brasil.
Julho caminha para ser o quinto mês consecutivo de fuga de recursos da região, nas bolsas e na renda fixa, o que, se confirmado, deve ser o maior número de meses consecutivos de retiradas de dinheiro já registrado por esses mercados, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), organização que reúne os 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington.
No Brasil, os dados do fluxo cambial, um dos melhores termômetros do apetite do investidor estrangeiro, mostram que, até fevereiro, o País recebia uma enxurrada de recursos externos considerando o canal financeiro (que exclui exportações e importações).
Em março, esse movimento mudou, e houve saídas líquidas de US$ 4 bilhões, coincidindo com a invasão da Ucrânia pela Rússia e o início da elevação dos juros nos Estados Unidos. Em abril, houve nova retirada de US$ 3,7 bilhões. E, em maio (último dado disponível), a saída foi de US$ 6,142 bilhões. No acumulado do ano até maio, o fluxo financeiro registra saída de US$ 4,87 bilhões.
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, disse na segunda-feira que a forte saída de recursos em renda fixa em março deve estar relacionada ao ciclo de alta de juros nos EUA.
"O mundo está passando por um dos maiores choques de taxas de juro da memória recente", ressalta relatório recente do IIF. Nas primeiras duas semanas de julho, a estimativa é de que mais US$ 5,6 bilhões tenham deixado os países emergentes. Desde março estes países estão perdendo bilhões de dólares por mês, tanto na renda fixa quanto nas bolsas, revertendo o movimento de fevereiro, quando haviam recebido US$ 17,6 bilhões.
Na bolsa brasileira, esse movimento ainda é instável. Em junho houve um respiro na B3, com fluxo positivo de R$ 427 milhões, que ocorreu após a retirada de R$ 14 bilhões em abril e maio. Na sessão de quarta-feira passada, quando o Ibovespa fechou o pregão em alta de 1,67%, aos 101,4 mil pontos, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 1,09 bilhão. Em julho, a B3 teve o ingresso de R$ 1,55 bilhão de investidores do exterior (diferença entre compras acumuladas de R$ 216,6 bilhões e das vendas de R$ 215,1 bilhões).
Já os investidores institucionais retiraram R$ 657,8 milhões da bolsa na sessão. Em julho, eles retiraram R$ 5,56 bilhões da bolsa (compras de R$ 100,2 bilhões e vendas de R$ 105,8 bilhões). Em 2022, a retirada soma R$ 77,8 bilhões.
No mesmo dia, os investidores individuais retiraram R$ 435,8 milhões. No mês, aportaram R$ 1,7 bilhão (compras de R$ 63,7 bilhões e vendas de R$ 62,0 bilhões). Neste ano, o ingresso é de R$ 1,2 bilhão.
Enquanto isso, as instituições financeiras retiraram R$ 13,0 milhões da B3 na sessão. Em julho, a entrada líquida no segmento foi de R$ 431,1 milhões na bolsa. A soma de capital investido totaliza R$ 5,8 bilhões em 2022.
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