Camil; empresa foi a oitava a estrear na Bolsa neste ano (foto/Reprodução)
Repórter Exame IN
Publicado em 10 de maio de 2023 às 12h50.
A Camil (CAML3) mudou. Foi para além do arroz e feijão e comprou café, biscoitos e massas secas. Essa nova cara de indústria de alimentos se refletiu nos números da companhia, de forma positiva para o operacional, mas também nas pressões de curto prazo. As ações da companhia no pregão desta quarta-feira, 10, caíam 7,97%.
Terminado em fevereiro de 2023, o ano fiscal de 2022 mostrou um avanço de 13% na receita líquida da companhia, para R$ 10,20 bilhões, e um ganho de 19% no lucro bruto, que somou R$ 2,12 bilhões, com margem de 20,8% (1 ponto percentual maior que um ano inteiro). No último trimestre do ano fiscal, a receita avançou 10,8% e o lucro bruto, 12,9%.
Grande parte desse avanço veio das marcas novas e as categorias em que a Camil entrou, trazendo maior valor agregado e, portanto, maior margem, conta Flávio Vargas, diretor de relações com investidores, em entrevista à EXAME Invest. "A gente cresceu quase 140% por conta dessa integração", diz. Em 2022, o Ebitda (lucro líquido antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 919,8 milhões, ficando 13,6% maior. O lucro líquido, no entanto, ficou 26% menor no ano, a R$ 353,7 milhões, e até 89% menor no trimestre, somando R$ 15,9 milhões.
"A gente tem dado foco em crescer em categorias que tem um nível de rentabilidade diferenciada e que a gente entende que tem uma capacidade de conseguir ter um crescimento diferenciado, conquistando uma parte desse segmento", diz. No entanto, as dificuldades de venda que começaram a ser observadas no terceiro trimestre fiscal (encerrado em novembro) permaneceram ao longo do trimestre terminado em fevereiro.
"Houve uma assincronia entre o sell in (venda para o varejo) e sell out", explica Vargas ao falar das categorias de maior valor agregado. Com custo de capital mais alto, o varejo precisou ser mais cauteloso no capital de giro. Nas categorias básicas, porém, o impacto foi menor de volume. Agora, no entanto, a empresa já observa alguma melhora.
A queda robusta do lucro líquido, em especial na comparação trimestral, veio pela pressão da despesa financeira, que se acelerou. No trimestre, a despesa financeira saltou 52%, para R$ 80,3 milhões. No ano, o resultado financeiro
líquido atingiu uma despesa de R$290,6 milhões, um avanço de 127,7%, em função, principalmente, de juros sobre financiamentos com aumento da taxa de juros no período, variação monetária e derivativos.
"A diferença [no lucro] veio nas despesas financeiras por duas questões. Um dos efeitos veio da companhia pelas aquisições, que foram mais de R$ 1 bilhão em investimento. O outro é o aumento dos juros. O custo financeiro para as companhias aumentou de três a quatro vezes no último ano", observa Vargas.
Com as aquisições, a alavancagem da companhia terminou o ano fiscal em 3,0x, com principal pressão vindo das dívidas de curto prazo, que somaram R$ 1,15 bilhão. "A gente tem ativamente buscado as maneiras de fazer refinanciamento. Estamos conversando com os nossos parceiros, avaliando todas as alternativas. Sejam alternativas de crédito bancário, alternativas de mercado", diz Vargas. "Acho que do ponto de vista de refinanciamento a gente tem muito conforto que o nível de alavancagem que a gente tem que é aliado com o perfil do nosso negócio, que é mais conservador, com menos volatilidade de mercado", argumenta.