Gestoras de recursos estão apostando que os índices acionários já precificaram as perdas nos títulos dos EUA (Andrew Kelly/Reuters)
Bloomberg
Publicado em 28 de março de 2022 às 14h45.
Enquanto as perdas no mercado global de títulos de dívida se aprofundam, estrategistas de instituições como Goldman Sachs e JPMorgan Chase tentam tranquilizar os investidores das bolsas. Para os especialistas, não é preciso entrar em pânico por causa da inversão da curva de juros dos títulos do Tesouro americano.
“As recessões não começam antes de a curva se inverter, a demora pode ser grande, de até dois anos”, escreveram estrategistas do JPMorgan liderados por Mislav Matejka. “Além disso, durante esse período, o desempenho das ações tende a superar generosamente o dos títulos”, afirmou o relatório, acrescentando que o pico no mercado acionário historicamente acontece um ano após a inversão.
O estrategista-chefe de ações globais do Goldman Sachs, Peter Oppenheimer, tem opinião semelhante. “À medida que o risco vai em direção à inflação, as ações ficam mais atraentes em termos relativos, são um ativo real, os dividendos sobem ao longo do tempo com a inflação”, disse Oppenheimer em entrevista à TV Bloomberg nesta segunda-feira, 28.
As ações dos EUA estão prestes a registrar o melhor mês do ano, apesar da guerra na Ucrânia e da perspectiva de aumentos mais agressivos na taxa básica de juros pelo banco central (Federal Reserve) para combater a inflação. O salto nos preços das commodities trouxe preocupações para a perspectiva econômica, agravando as perdas no mercado de títulos. Mas até agora, as ações permanecem imunes ao temor de recessão.
“As recessões só começam, em média, 16 meses após a inversão no spread, nunca antes”, afirmaram estrategistas do JPMorgan. Como a curva que acompanha os títulos com vencimento em 10 anos e dois anos “não está totalmente invertida no momento, a contagem ainda não começou” e “as ações ainda oferecem uma equação favorável entre risco e retorno no médio prazo.”
Mais gestoras de recursos estão apostando que os índices acionários já precificaram as perdas nos títulos, em meio a indicações abrangentes de que a economia dos EUA permanece saudável.
Alguns sinais de compra contrários estão surgindo. O indicador Bull & Bear do Bank of America manda comprar ações pela primeira vez desde o início da pandemia, em março de 2020.
“Normalmente, quando o Fed está na trajetória de aumento rápido dos juros, as condições financeiras estão ficando mais apertadas, restringindo empréstimos e pesando sobre as perspectivas de crescimento, o que pode pressionar as ações para baixo”, explicou Jeffrey Kleintop, estrategista-chefe de investimentos globais na Charles Schwab. “Mas isso não está acontecendo agora. As condições financeiras nos principais países, incluindo os EUA, na verdade estão ficando mais flexíveis.”
À medida que os rendimentos dos títulos sobem, o destino de empresas lucrativas e não lucrativas fica mais divergente, segundo Ankit Gheedia, responsável pela estratégia para ações europeias e derivativos no BNP Paribas. Para ele, os investidores precisam dar preferência a empresas de qualidade e lucrativas em todo o mundo.
O encarecimento dos empréstimos também deve pesar sobre ações caras, que têm o preço baseado nas expectativas de crescimento futuro. “Os rendimentos reais devem começar a subir, o que é prejudicial às ações com perfil de crescimento, mas dá sustentação às ações com perfil de valor”, disse Joachim Klement, responsável pelas áreas de estratégia, contabilidade e sustentabilidade da Liberum Capital.