Vale: papéis da empresa tornaram-se novamente atraentes com a maior demanda chinesa pelo minério de ferro (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 16 de janeiro de 2013 às 16h53.
Um ambiente externo marcado por menor nível de incertezas e perspectivas de recuperação da economia brasileira devem renovar o apetite de investidores por ativos de risco, beneficiando ações de empresas expostas à dinâmica global, além de papéis ligados aos setores de infraestrutura, consumo e educação.
Analistas consultados pela Reuters citaram fatores como menor risco de ruptura na União Europeia e sinais de recuperação da economia chinesa como positivos para as ações brasileiras, apesar das preocupações com o impasse fiscal nos Estados Unidos.
"Uma perspectiva melhor para o cenário externo ajuda o Brasil, tanto pelo lado das exportações quanto pelo avanço das commodities, o que deve impulsionar setores como mineração, siderurgia e alimentos neste ano", disse o sócio-gestor da Rio Verde Investimentos, Eduardo Cavalheiro, em São Paulo.
Esse seria o caso da mineradora Vale, que ganharia com uma aceleração da atividade chinesa e consequente demanda mais robusta por minério de ferro. A China é o principal mercado para a companhia brasileira.
A ação voltou a figurar entre as preferidas por bancos de investimento e corretoras neste início de ano, após ter sido excluída de carteiras em 2012, com investidores procurando reduzir exposição aos riscos externos.
"O mercado agora tende a voltar a olhar mais para setores ligados a commodities, apostando que 2013 vai ser um ano com um nível de incertezas mais controlado que em 2012", disse o economista Daniel Cunha, da XP Investimentos, em São Paulo.
Segundo ele, um cenário de abundante liquidez global e a defasagem do Ibovespa, referencial do mercado brasileiro, em relação aos principais mercados internacionais também deve ajudar a atrair investimentos externos para a bolsa paulista.
Em janeiro, até dia 14, o saldo de recursos externos na Bovespa estava positivo em 3,06 bilhões de reais --o montante é bem superior ao saldo acumulado no ano passado, quando os estrangeiros voltaram ao mercado brasileiro com 1,8 bilhão de reais.
"2013 é para se esperar um ano melhor para a bolsa brasileira", disse Cunha. "Ainda existem riscos, mas o espaço para decepções foi bastante encurtado", acrescentou.
CENA DOMÉSTICA
A expectativa de que este também seja um ano melhor para a economia brasileira, após um crescimento que deve ter ficado apenas próximo de 1 por cento em 2012, ajuda a embasar apostas em ações de empresas de infraestrutura, bancos, consumo e educação.
"Temos um 'call' de retomada de crescimento brasileiro...mas com algumas dúvidas ainda no meio do caminho", disse o estrategista para a pessoa física da Itaú Corretora, Lucas Tambellini, em São Paulo.
A casa espera que o Brasil crescerá 3,2 por cento em 2013, mas fatores como o nível de investimento na economia, o endividamento dos consumidores e o risco de um racionamento de energia poderiam frustrar essa expectativa.
"Temos que monitorar alguns pontos para ver se não vamos ter um déjà-vu de 2012, quando tivemos ao longo do ano uma série de revisões para baixo, tanto de PIB como de projeção de lucro por ação (das empresas)", afirmou Tambellini.
Caso isso não aconteça, a percepção no mercado é de que os pacotes de investimento em logística anunciados pelo governo federal no ano passado --num total de mais de 200 bilhões de reais em recursos públicos e privados nos próximos 25 anos-- possam trazer estímulo adicional para ações ligadas ao setor.
"O governo brasileiro parece ter mudado um pouco as prioridades, migrando de uma estratégia de estímulo ao consumo e passando a convocar mais investimentos em infraestrutura", disse o sócio da Órama Investimentos Álvaro Bandeira, no Rio de Janeiro.
Embora os efeitos dessas medidas não sejam imediatos, analistas avaliam que isso abre boas perspectivas para companhias de equipamentos e bens de capital, além de alguns nomes no setor de construção.
O cenário deve permitir ainda uma recuperação de ações de bancos, segundo analistas. Após o tombo no ano passado, em meio à pressão do governo por redução de tarifas e spread, a visão é de que as instituições financeiras estão conseguindo se ajustar à nova realidade, reduzindo custos e provisões com devedores duvidosos, por exemplo.
Nomes de consumo, saúde e educação também foram citados entre as principais apostas para 2013. Embora em geral tenham mostrado desempenho positivo no ano passado, analistas acreditam que ainda há espaço para mais valorização dessas ações.
"A visão é otimista para a bolsa em 2013, ainda existe oportunidade de ganho, mas é um ano para se elaborar uma estratégia focada em análise de papéis específicos e depois monitorar e rever essa estratégia constantemente ao longo do ano", disse Cavalheiro, da Rio Verde Investimentos. "Não dá para cravar uma estratégia que sirva para o ano todo", concluiu.