Ferrari: novo guidance frusta analistas e ações despencam
Repórter de finanças
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 11h56.
Última atualização em 9 de outubro de 2025 às 12h51.
As ações da Ferrari (BIT: RACE) operam em queda de dois dígitos e ficaram US$ 60 dólares mais baratas do dia para a noite. A grife dos automóveis esportivos revisou suas projeções para os próximos cinco anos e se mostrou menos ambiciosa em termos de produção de carros elétricos.
O guidance de curto e longo prazo foram anunciadas durante o evento Capital Markets Day da companhia e, após o encontro, analistas demonstraram frustração com as novas estimativas, dizendo que elas ficaram aquém do esperado.
A companhia informou que seu lucro anual em 2030 deve chegar a 3,6 bilhões de euros. Para este ano, a previsão é de 2,72 bilhões. A projeção implica em desaceleração de crescimento, em relação ao guidance que a Ferrari havia soltado três anos atrás.
Os papéis da companhia chegaram a cair 16% no pior momento do dia e as negociações chegaram a ser temporariamente suspensas.
A disputa bilionária pela herança do patriarca da Fiat vai respingar até na FerrariA Ferrari afirmou também que pretende que sua linha de carros esportivos de 2030 seja composta por 40% de veículos a combustão interna (ICE), 40% híbridos e 20% totalmente elétricos.
A companhia explicou que a meta revisada — inferior ao objetivo anterior de alcançar 40% das vendas com veículos elétricos até o fim da década — reflete uma estratégia mais centrada no cliente, além de considerar o cenário atual e suas perspectivas de evolução.
Essa revisão foi anunciada no momento em que a montadora italiana apresentou a tecnologia que impulsionará seu primeiro carro elétrico. Durante um workshop de tecnologia e inovação, a Ferrari exibiu o chassi e o powertrain prontos para produção do modelo “elettrica” e informou que as entregas estão previstas para o fim de 2026.
O lançamento global do veículo completo está programado para ocorrer no próximo ano.
Em relatório do Citi, obtido pela CNBC, os analistas disseram que o guidance da Ferrari “ficou abaixo de nossas estimativas de ‘cenário de menor crescimento’ [...] e reflete uma postura conservadora da gestão, em nossa visão”.
O Citi acrescentou: “Dado que o guidance, ainda que conservador, implica uma alavancagem operacional limitada no próximo ciclo, acreditamos que há algum risco para o consenso de lucro por ação e para os múltiplos no curto prazo.”
Já os analistas do JPMorgan mostraram otimismo após os anúncios apresentados no Plano Estratégico 2030 da Ferrari.
“Temos grande confiança na capacidade da gestão de executar seu plano de longo prazo, dado o amplo conjunto de evidências de que a demanda atualmente supera com folga a oferta”, disseram analistas do JPMorgan em nota.
Eles também afirmaram que estimam “que a empresa se beneficie do estilo de liderança do CEO Benedetto Vigna, que tem desafiado a companhia a aproveitar a colaboração para acelerar o ritmo de inovação. Um lançamento iminente de um novo supercarro também pode ter potencial para impulsionar os lucros”, diz o relatório do banco.
A redução da ambição elétrica da Ferrari está alinhada com o mercado. Diversas montadoras globais reduziram suas metas de vendas de veículos elétricos nos últimos meses, informou a CNBC, citando fatores como falta de modelos acessíveis, avanço mais lento do que o esperado da infraestrutura de recarga e concorrência intensa da China.
A sueca Volvo Cars, por exemplo, desistiu do plano amplamente promovido de comercializar apenas veículos elétricos até 2030, alegando, em setembro do ano passado, a necessidade de adotar uma postura “pragmática e flexível” diante das mudanças nas condições de mercado.
Já a Ferrari, cujo número de clientes ativos atingiu 90 mil — alta de 20% em relação a 2022 —, declarou que pretende lançar, em média, quatro novos modelos por ano no período entre 2026 e 2030.