Fuselagem do avião acidentado da Air France Rio-Paris (AFP/AFP)
Começa nesta segunda-feira, 10, o processo contra a companhia aérea Air France e a fabricante de aviões Airbus pelo acidente do voo AF 447 Rio de Janeiro - Paris, ocorrido em 2009.
Mais de treze anos após o desastre aéreo que matou 228 pessoas, os juízes da 31ª câmara correcional do tribunal de Paris decidirão sobre a responsabilidade da Air France e a Airbus. Os 476 parentes das vítimas, reunidos na associação "Entraide et Solidarité AF447" e os sindicatos estão travando uma longa batalha judicial contra as duas empresas.
A ação já chegou a ser encerrada em 2019, quando os magistrados franceses arquivaram o caso. Entretanto, a acusação recorreu e em 2021 a Câmara de Instrução decidiu que deveria ser realizado um processo por homicídios involuntários contra as duas empresas. As audiências estão marcadas até dia 8 de dezembro.
No dia 1º de junho de 2009, o voo AF447 que decolou do Rio de Janeiro em direção a Paris caiu no meio da noite no Atlântico, cerca de 3 horas e 45 minutos após a decolagem. No acidente faleceram todos os 216 passageiros e os 12 tripulantes. Foi o pior desastre da história da Air France. O avião era um Airbus A300, que precipitou de 11.500 metros de altura em em uma velocidade de três mil quilômetros por hora (km/h).
Os corpos das vítimas foram encontrados nos dias seguintes ao acidente, mas todos os destroços do avião só foram localizados dois anos depois, em abril de 2011, em uma profundidade de 3.900 m abaixo do nível do mar, em um local cercado por altos relevos subaquáticos.
As investigações mostraram que os pilotos, surpreendidos por uma tempestade, ficaram desorientados por causa do congelamento sondas de velocidade Pitot e não conseguiram se recuperar do estol da aeronave, que ocorreu em menos de cinco minutos.
Ao final da investigação, o tribunal considerou que havia acusações suficientes contra a Air France, por ter "se abstido de implementar treinamento adequado" e fornecer "as informações para as tripulações necessárias" sobre o congelamento das sondas. Essa falha teria "impedido que os pilotos reagissem como deveriam" . A empresa contesta esta leitura e pretende pleitear a libertação, considerando que "não teve culpa no acidente".
A Air France sempre defendeu o “profissionalismo” de seus pilotos e questionou a confiabilidade do alerta de estol da aeronave, cujas “múltiplas ativações e desligamentos” “contribuíram consideravelmente para a dificuldade da tripulação em analisar a situação”.
“A Air France renova sua confiança em todos os seus pilotos e tripulantes e lembra que a segurança de seus clientes e funcionários é seu imperativo absoluto. A empresa vai recordar a memória das vítimas deste terrível acidente”, informou a companhia aérea em comunicado de imprensa.
Por sua vez, durante a investigação, a Airbus argumentou que "o gelo das sondas Pitot não pode ser a causa do acidente", que eles disseram ser devido a "erros cometidos pela tripulação". Da mesma forma para os juízes de instrução que concluirão pelo arquivamento do caso, "o evento das três sondas Pitot por um transbordamento de gelo não está definitivamente ligado ao acidente, pois foi compensado pela existência de procedimentos aplicáveis a esse tipo de situação ”.
Caberá aos juízes franceses decidir se há responsabilidades criminais e qual o nexo de causalidade com o acidente.