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Abilio Diniz de volta ao GPA? Qual o futuro do varejista com a venda pelo Casino

Após anúncio do controlador francês, ações da rede dona do Pão de Açúcar caíram mais de 5%

Pão de Açúcar: dívida ficou R$ 2 bilhões menor
(Foto: GPA/Divulgação) (GPA/Divulgação)

Pão de Açúcar: dívida ficou R$ 2 bilhões menor (Foto: GPA/Divulgação) (GPA/Divulgação)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 26 de junho de 2023 às 19h29.

Última atualização em 26 de junho de 2023 às 19h49.

Abilio Diniz de volta à empresa fundada por seu pai? Enxurrada de ações do GPA (PCAR3) na bolsa? Entrada de novos fundos estrangeiros em uma das mais tradicionais redes de supermercado do país? Muitas dúvidas permearam a ação do grupo dono do Pão de Açúcar e do Extra nesta segunda-feira, 26, depois que o Casino, seu controlador, anunciou um plano estratégico para tentar sobreviver ao bolo de dívidas que acumulou ao longo dos anos. Mas uma coisa é certa: a tarefa não será fácil para a empresa comandada por Jean-Charles Naouri.  

Em anúncio feito na França na manhã desta segunda-feira, o Casino informou que pode vender, em até três anos, suas operações na América Latina para reforçar seu caixa. A notícia veio como uma bomba para a ação do GPA e o papel fechou em queda de mais de 5% no pregão da B3. 

  • PCAR3: -5,21%, para R$ 16,75

Nos países da América Latina, os franceses são donos de 40,9% do capital social do GPA e são donos da rede colombiana Éxito, com operações também no Uruguai e na Argentina (o GPA detinha 97% do capital social do grupo colombiano, mas em recente operação de cisão ficou com 13% das ações). As atividades na América Latina representaram um faturamento de € 17,8 bilhões (R$ 92,7 bilhões) em 2022, pouco mais de metade do total do grupo no ano: € 33,6 bilhões (R$ 174,9 bilhões). 

Na avaliação de um executivo do setor ouvido pela EXAME Invest, uma venda por ações na bolsa — de forma similar ao que aconteceu com o Assaí desde o fim do ano passado — seria um desastre do ponto de vista de valor do ativo. “Se for por follow on (oferta subsequente de ações), vai ser uma pressão muito grande para o papel. GPA está fazendo um trabalho de turnaround e melhorando seus números, mas ainda não é suficiente. Com a possibilidade de comprar ação do Carrefour, do Grupo Mateus ou do Assaí, por que um investidor compraria GPA? É uma empresa muito menor e sem perspectiva de crescimento”, diz.

Qual é a saída para o Casino?

Por isso a grande aposta é de que o grupo francês busque interessados em ficar com suas ações no GPA, num “M&A clássico”. Foi com essa perspectiva que o mercado voltou a ventilar o nome do empresário Abilio Diniz, filho do fundador do Pão de Açúcar e que saiu da empresa após os avanços dos franceses.  

Diniz deixou de vez o negócio em 2013, quando os franceses assumiram. Agora, o empresário detém pouco mais de 7% do capital social do concorrente Carrefour Brasil e também é acionista minoritário do Carrefour na França. “Para o Abilio, GPA é página virada. No máximo poderia incentivar o Carrefour para comprar, mas acho bem pouco provável”, diz outro executivo do setor. Procurada pela reportagem, a Península Participações, gestora de investimentos do empresário brasileiro, disse que não comenta “rumores de mercado”.  

Por isso, é de esperar que a procura do Casino para compradores seja por grandes grupos. O Carrefour poderia ser uma possibilidade. Os dois grupos franceses já trocaram flertes no passado, mas o namoro nunca vingou e, agora, há mais fatores que complicam esse caminho. O primeiro deles, dizem pessoas com conhecimento do mercado, é o risco de veto ou remédios muito amargos pelo Cade. O aparente desinteresse de Abilio no negócio também afasta o Carrefour, que ainda precisa digerir o recente processo de expansão com a compra do Grupo BIG. Hoje, a alavancagem do Carrefour Brasil está na casa de 3,16 vezes. “Mas poderia ser interessante considerando que o Carrefour não opera no modelo de supermercados”, pondera uma pessoa com conhecimento da operação. 

A aposta no mercado é de que o Casino vai buscar ativamente por interessados. Quanto mais gente na mesa para negociar, melhor. Até dois anos atrás, observa outro agente de mercado, um dos grandes varejistas generalistas poderia ter interesse, como o Magazine Luiza já havia sinalizado a disposição em entrar no setor alimentar. Agora, porém, o entendimento é de que isso ficou mais difícil.  

Outro caminho para a venda será encontrar fundos de investimento interessados, o que poderia se estender a fundos nacionais e estrangeiros. Mas nada nesta equação é simples, há pouca perspectiva de “upside” (valorização do ativo), o que deixa a busca dos franceses por uma solução mais demorada. “A venda do Éxito deve ser mais rápida, pelos números operacionais melhores”, diz uma das pessoas ouvidas pela reportagem. 

Como fica o GPA com a possibilidade de venda?

Em processo de reestruturação, o GPA ainda tem muito o que organizar na casa. Chamado de novo GPA, a operação, que exclui números dos hipermercados Extra (vendidos ao Assaí ou convertidos a Pão de Açúcar e mercados Extra) e do grupo colombiano Éxito, registrou um prejuízo líquido de R$ 269 milhões, 245% maior do que a perda de R$ 78 milhões no mesmo período de 2022. A operação ainda não consegue gerar caixa.  

Isso ajuda a explicar a diferença da reação do papel do GPA com a possibilidade da venda e concretização da saída do Casino do Assaí, observa o analista de ações do TC, Malek Zein. Na sexta-feira, 23, concluído leilão dos 11,7% das ações detidas pelos franceses na rede de atacarejo, as ações do Assaí (ASAI3) saltaram mais de 7%. “O Assaí tem um desafio relevante de dívida a ser resolvido, em especial de curto prazo, mas tem um operacional muito forte”, explica.   

O temor é quanto a venda proeminente pode impactar o negócio. O cenário de incerteza já existia e a saída dos franceses já era pauta dentro do GPA há algum tempo. Por isso, o risco de debandada de funcionários, por exemplo, é baixo. Especialistas, no entanto, observam que o anúncio de hoje do Casino pode ser entrave para investimentos na operação do GPA. “Vão liberar capex para abertura de novas lojas nesse momento? Quanto mais tempo levar para conseguirem uma solução, maior será a restrição de investimento”, diz um dos executivos ouvidos pela EXAME Invest.  

No último dia 19, o GPA anunciou a venda de 11 lojas por R$ 330 milhões. Os imóveis serão posteriormente alugados pela própria companhia. O objetivo é melhorar a liquidez da empresa, hoje com R$ 6,56 bilhões em dívida bruta. Ainda dentro do contexto do plano de redução da alavancagem, a companhia espera concluir a venda de ativos que não são seu principal negócio, melhorias operacionais que resultarão na meta de margem Ebitda ajustada de 8% a 9% em 2024, redução do excesso do estoque das lojas e a venda na participação do grupo Éxito. 

E como fica o Casino? 

Com uma dívida de € 6,4 bilhões, sendo grande parte dos vencimentos no curto prazo, o Rallye Groupe, de Naouri, está colocando todas suas cartas na mesa para tentar manter o controle do Casino. Hoje, a empresa detém 51,7% do capital social da companhia.  

Recentemente, o grupo obteve um acordo do Estado francês para adiar o "pagamento de impostos e encargos sociais", em uma quantia correspondente a € 300 milhões (R$ 1,57 bilhão). Os credores receberam o pedido de suspensão de pagamento de juros e vencimentos da dívida até outubro. 

Mas tem, além dos credores, outros interessados em assumir o controle dos negócios. Um deles é o empresário tcheco Daniel Kretinsky, que controla 10% das ações do Casino. Ele propôs a vários credores a troca de até 40% da dívida por liquidez ou ações, ou ambas. Kretinsky ofereceu um aporte de € 750 milhões (R$ 3,9 bilhões) para um aumento de capital de mais de € 1 bilhão (R$ 9 bilhões). 

Outra oferta, apresentada pelo trio de empresários franceses Xavier Niel, Matthieu Pigasse e Moez-Alexandre Zouari, também prevê oferecer aos credores a oportunidade de "reinvestir em capital". 

A única possibilidade que o Naouri tem é tentar renegociar para baixo a dívida com os bancos e fazer um acordo com os grupos [interessados] para maximizar sua participação na empresa combinada”, explica um executivo do setor supermercadista que já atuou tanto na França quanto no Brasil. “Honestamente não vejo como ele poderia manter o controle, mas se ele conseguir sair com 10% a 20% já é um milagre.” 

O anúncio feito hoje a investidores e analistas colocou a operação francesa do Casino em foco. Ao citar a venda do Assaí — operação longe de sanar o tamanho de sua dívida — e colocar na mesa os ativos de GPA e Éxito, Naouri quis dar o recado ao mercado de que a operação francesa é geradora de caixa e tem potencial de crescimento, tendo mais valor do que se está precificando atualmente no mercado. Em um ano, a ação do Casino negociada em Paris caiu 43%, com a empresa passando a ser avaliada em apenas € 836,1 milhões.  

“A venda desses dois ativos não vai ser suficiente, não vai resolver o problema. Com essa apresentação longa e detalhada, o que ele está tentando fazer é vender a operação da França maximizando preço. Ele vai falar aos interessados: tudo bem, você quer comprar, mas o ativo vale mais do que está na bolsa”, diz uma pessoa com conhecimento do negócio ouvida pela EXAME Invest. Além de Kretinsky e do trio de bilionários franceses, agentes de mercado acreditam que Casino pode procurar o Carrefour e o Auchan para negociar.  

Acompanhe tudo sobre:GPA (Grupo Pão de Açúcar)PCAR4Casino

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