Volatilidade nos mercados: saber tomar a melhor decisão pode representar a diferença entre o lucro e o prejuízo (DNY59/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 16 de novembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 16 de novembro de 2020 às 10h13.
Como um marinheiro que aprende a navegar em meio à tempestade, cerca de 1,5 milhão de pessoas que entraram na bolsa neste ano estão tendo que lidar com uma turbulência vista poucas vezes até mesmo pelos profissionais mais experientes do mercado. Em menos de um ano, esses novos investidores viram o Ibovespa, principal índice da B3, bater em 119.527 pontos, cair para 63.569, e recuperar e perder a casa dos 100.000 pontos oito vezes.
Todo esse vaivém pode ser traduzido por meio da volatilidade histórica, que é uma das formas mais simples – de uma série de maneiras – de estimar quanto o valor de um ativo pode variar para mais ou para menos. No caso do Ibovespa, sua volatilidade histórica anualizada de um ano está em 45%. No mesmo período de 2019, esse indicador estava em cerca de 19%.
“No ano passado, era muito fácil alguém dizer que aguentava volatilidade. Quando a volatilidade é para cima, todo mundo fala que aguenta. Mas tentar ganhar mais também significa estar sujeito a perder mais”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “Tem que se testar como investidor para saber se a volatilidade anda de acordo com perfil e se não é o momento de investir com mais segurança.”
Com incertezas sobre a condução fiscal e ruídos políticos constantes, a volatilidade pode se manter elevada por mais tempo no mercado brasileiro. Porém existem diversas formas de atenuar essas oscilações nas carteiras de investimentos.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual Digital, explica que a forma mais fácil de fazer isso é reservando uma parte do portfólio para ativos descorrelacionados com o mercado de ações.
“Existem instrumentos bem acessíveis que servem como colchão de volatilidade, que são os fundos atrelados ao ouro ou ao dólar. Ter de 10% a 15% do portfólio de risco em ouro ou dólar ajuda a suavizar a volatilidade”, afirma.
“Também dá para fazer isso com ativos mais resilientes, com volatilidade inferior à do índice. O setor de energia elétrica costuma ter uma volatilidade muito menor”, diz Zanlorenzi. A volatilidade histórica de um ano das units da transmissora de energia Taesa (TAEE11), por exemplo, é de 24,8% -- quase a metade da volatilidade do Ibovespa. “Enquanto o índice varia 8%, essas ações variam 4%”, exemplifica.
Professor e especialista em fundos imobiliários da Exame Research, Arthur Vieira de Moraes ainda ressalta a que as cotas de fundos imobiliários costumam ter uma volatilidade muito menor do que ações. "Para quem investe em ações para longo prazo, é muito importante incluir FII no portfólio. A volatilidade histórica do IFIX [principal índice de fundos imobiliários] é a metade do Ibovespa - e com retorno maior", afirma.
Embora a volatilidade elevada cause alguns sustos nos investidores que chegaram agora à bolsa, para algumas estratégias, ela pode ser muito bem-vinda. “Para quem faz day trade, o melhor momento para operar é na volatilidade, porque dá para tirar proveito das oscilações”, explica Jefferson Laatus, trader e estrategista-chefe do Grupo Laatus.
“Mas a maioria tenta fazer day trade e não sabe como fazer, aí se arrebenta. A volatilidade é o ápice para um day trader profissional, e a morte para quem não é especialista.”
Já para quem investe visando o longo prazo, Laatus recomenda não entrar em pânico nem fazer movimentos bruscos em momentos de alta volatilidade. “Claro que o investimento pode negativar, mas, se os motivadores pelos quais o investidor comprou a ação não mudarem, ele pode ficar tranquilo. Não tem segurança maior do que saber o que está fazendo”, afirma.