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A visão contra o consenso do gestor da Asa sobre a bolsa da China: "é a melhor do mundo"

Marcio Fontes, head de multimercados e renda fixa da Asa Investments, conta em entrevista à Exame que esta é a única posição que possui em ações

Márcio Fontes, gestor do Asa Hedge: "A china não vai para o buraco" (Leandro Fonseca/Exame)

Márcio Fontes, gestor do Asa Hedge: "A china não vai para o buraco" (Leandro Fonseca/Exame)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 18 de março de 2024 às 07h15.

Última atualização em 18 de março de 2024 às 09h24.

Perspectivas de crescimento mais fracas e uma crise de dívida que assola há anos o mercado imobiliário da China têm mantido investidores avessos a colocar dinheiro no país. As consequências se refletem na bolsa de Xangai, que, no ano, chegou a acumular mais de 13% de queda e quase 30% em relação ao maior patamar de 2021. A dinâmica é semelhante na bolsa de Hong Kong, que está 50% abaixo dos níveis de 2021. Tudo isso enquanto os mercados do mundo inteiro atingem máximas históricas.

Apesar do desempenho negativo, é na bolsa da China onde Marcio Fontes,  head de multimercados e renda fixa da Asa Investments, vê as melhores oportunidades em ações. Em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest, Fontes contou que a posição é uma das três principais do Asa Hedge, o maior fundo da empresa, cuja gestão é realizada por Fontes.

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"É a única posição em bolsa que nós temos hoje e estamos pensando em aumentar. Nenhuma outra bolsa oferece uma relação de risco/retorno tão favorável", afirma Fontes.

Engenheiro de formação, Fontes está há três décadas no mercado, com passagens pelo BNP Paribas, J.P. Morgan, Safra, além de ter fundado as gestoras Fidúcia e Kondor. Seu fundo, o Asa Hedge, foi trazido da Kondor e caminha para completar 10 anos em setembro. Nesse período, o fundo rendeu 195%, equivalente a 130% do CDI. O modelo de investimento, sempre guiado pelo cenário macroeconômico, é o de concentrar as apostas em oportunidades com potencial de gerar retornos significativos  o que Fontes classifica como "par de ases". "Eles não surgem a toda hora, mas, quando surgem, é preciso saber identificá-los", diz.

A bolsa da China, na avaliação do gestor, seria um desses pares de ases que tanto persegue.  "A China não vai para o buraco."

Fontes, ao contrário do mercado, rechaça a possibilidade de uma grande fuga de empresas da China para o Ocidente. Essa tese, conhecida como nearshoring, seria motivada por desavenças geopolíticas e potenciais riscos de quebra de cadeia de suprimentos evidenciados durante a pandemia. "Mas nenhum país do mundo consegue concorrer com a infraestrutura para a exportação da China."

O gestor ainda ressalta os investimentos que a China tem realizado em semicondutores. "O país que será dominante no futuro será o detentor da tecnologia, não o que coloca as pessoas para consumir. Esses ficam mais expostos aos ciclos econômicos."

Mas, mais do que o potencial de crescimento que a China tem para o futuro, Fontes considera que o principal atrativo para investir na bolsa local são os preços atualmente praticados. "O múltiplo é o menor da histórica, com preços próximos de 7 a 8 vezes lucro. Tem empresas, como o Alibaba, que se desvaloriza mesmo apresentando lucros crescentes. A relação preço/lucro está caindo e está muito barato para ignorar não investir. A economia não precisa estar espetacular para comprar bolsa com esse múltiplo."

Zerado em bolsa brasileira

Fontes também descorda do mercado quanto à bolsa brasileira. Para ele, o cenário não é tão favorável quanto parte do mercado acredita. "Gostamos de entrar em apostas em que corremos o risco de perder 1 para ganhar cinco. E esse não é o caso da bolsa brasileira."

O cenário macroeconômico, na avaliação de Fontes, não deve ajudar muito daqui para frente. Sua perspectiva é de que o crescimento seja "medíocre" e de que a taxa de juros não caia para os patamares pré-covid, próximo de 5%.

O melhor momento da bolsa local, segundo ele, já ficou para trás. "Quando o Ibovespa estava em 100.000 pontos, compramos bolsa brasileira porque estava ridiculamente barata. Agora, historicamente, está perto do patamar 25% mais barato. Na ausência de gatilhos, não é um ponto que me deixa otimista para comprar bolsa. Mas também não vejo motivo para apostar na queda.'"

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