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A tenebrosa previsão do J.P. Morgan para a bolsa americana em 2024

Mesmo com queda de juros, banco projeta cenário econômico adverso para este ano e S&P 500 em queda

Bolsa de Valores de Nova York (NYSE): J.P. Morgan projeta queda de mais de 10% do S&P 500 em 2024 (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Bolsa de Valores de Nova York (NYSE): J.P. Morgan projeta queda de mais de 10% do S&P 500 em 2024 (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 2 de janeiro de 2024 às 14h40.

A chegada de um novo ano costuma ser acompanhada de esperanças renovadas e otimismo. Mas não foi assim a virada para 2024 no J.P. Morgan. Ainda no fim de 2023, analistas do banco divulgaram um relatório com previsões sombrias para o mercado americano. Bastante incomum entre analistas, o relatório considera a queda da bolsa americana como o cenário mais provável para este ano.

A projeção do J.P Morgan é de que o S&P 500, principal índice de ações dos Estados Unidos, fechará o ano a 4.200 pontos, 12% abaixo do encerrado em 2023. A estimativa também é bem pior que a do consenso da FactSet, que prevê uma alta próxima de 6%.

O S&P 500 subiu 22% em 2023, a despeito dos temores de recessão 13,7% somente nos últimos dois meses. Além da badalação do mercado com a inteligência artificial, as expectativas de que o Federal Reserve (Fed) inicie os cortes de juros ainda no primeiro trimestre contribuíram para o desempenho das bolsas americanas e de todo o mundo em 2023.

Os diretores do Federal Reserve projetam que o juro americano, hoje entre 5,25% e 5,50%, termine 2024 entre 4,5% e 4,75%. Nesse sentido, o J.P. Morgan está mais otimista, com um cenário-base em que o Fed corta suas taxas para entre 3,75% e 4%.

Apesar da expectativa de queda de juros, o J.P. Morgan avalia que o pior do aperto monetário ainda está por vir.

"Não estamos otimistas quanto ao desempenho dos ativos de risco e às perspectivas macro para os próximos 12 meses. A principal razão é que o choque nas taxas de juro (ao longo dos últimos 18 meses) terá um impacto negativo na atividade", afirma Marko Kolanovic, estrategista-chefe de mercados globais e co-diretor global de research do J.P. Morgan.

Essa premissa, na prática, se traduz em perspectivas mais pessimistas para o desempenho das empresas em 2024. As margens, segundo o J.P. Morgan, deverão ser mais apertadas nos Estados Unidos, com crescimento de lucro entre 2% e 3%. A projeção, mais uma vez, está mais pessimista que a do consenso da FactSet, de uma expansão anual de 11,8% no lucro das empresas do S&P 500 em 2024.

Mas o mercado está otimista demais, segundo o J.P. Morgan, que espera contração do dinheiro disponível, com redução dos balanços dos principais bancos centrais e taxas de juro ainda em níveis restritivos para o consumo e empresas. O banco afirma ainda que o excesso de poupança entre as famílias americanas caiu de um pico de US$ 3,4 bilhões para US$ 1 bilião e deverá “se esgotar em grande parte” até ao segundo trimestre de 2024.

Risco de recessão mal precificado

A esses fatores, o J.P. Morgan  acrescenta os riscos geopolíticos atrelados às guerras na Ucrânia e em Gaza e as eleições americanas previstas para o segundo semestre. "Esperamos por uma maior volatilidade no mercado de ações em 2024." O quão intensa será essa volatilidade, afirmou, dependerá do momento e da gravidade de uma eventual recessão.

As ações americanas, na avaliação do J.P. Morgan, estão caras e o risco de recessão neste ano está mal precificado pelo mercado.

O risco de uma recessão americana costuma ser maior entre 14 e 24 meses após o início da inversão da curva de rendimento dos títulos do Tesouro, apontou o banco. "Esse período cobrirá a maior parte de 2024 e deverá torná-lo mais um ano desafiador para os participantes do mercado", pontua Kolanovic.

A inversão da curva ocorre quando o título de longo prazo passa a remunerar menos que o de curto. O fenômeno é tido como um indício de que uma recessão se aproxima por indicar a necessidade de corte de juros, normalmente feito para estimular uma economia em desaceleração. As curvas de rendimentos dos títulos de 2 e 10 anos dos Estados Unidos se inverteram em março de 2022 e, desde outubro daquele ano tem se mantido constantemente invertida.

Nem tudo está perdido

Apesar do pessimismo com Wall Street, o J.P. Morgan afirma estar otimista com outros mercados desenvolvidos, como o britânico e o japonês. A melhor composição setorial e níveis de preços mais atrativos é o que sustentam a tese. As perspectivas do banco também são mais favoráveis ao mercado brasileiro, com projeção de Ibovespa a 142.000 pontos. Dada a percepção de uma melhor posição relativa, na visão do J.P. Morgan, o Brasil tem potencial de se tornar a "Miss Universo dos Emergentes" neste ano.

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