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A saga da Oi na bolsa e as dúvidas que restam aos acionistas

Com a saída de Francisco Valim da presidência, analistas estão cautelosos quanto ao futuro da empresa


	Valim foi responsável pela reestruturação da Net e assumiu a Oi para fazer o mesmo
 (Germano Luders/EXAME)

Valim foi responsável pela reestruturação da Net e assumiu a Oi para fazer o mesmo (Germano Luders/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - A substituição de Francisco Valim por José Mauro Mettrau como novo presidente da Oi (OIBR3; OIBR4) causou um rebuliço na empresa e também no mercado.

A notícia trouxe consigo uma série de questionamentos acerca do futuro da empresa, que recentemente passou por uma reorganização societária – o grupo tinha sete classes diferentes de ações na bolsa.

 Os investidores não sabem ao certo qual é o relacionamento entre a diretoria e os maiores acionistas. E, além disso, se as metas propostas na ocasião da reestruturação serão mantidas e cumpridas.

A demissão de Valim não era algo planejado nem pela operadora, nem pelos sócios brasileiros (Andrade Gutierrez e Jereissati), tampouco pela Portugal Telecom. Afinal, embora a personalidade de Valim pudesse incomodar, os resultados estavam agradando.

Dicussões

O que acabou culminando na demissão foi um desentendimento sobre o orçamento de 2013.

Enquanto Valim queria que os investimentos aumentassem dos 6 bilhões de reais previstos anteriormente para 7,5 bilhões de reais, os sócios insistiam para que se mantivesse a proposta original, visto que o novo montante aumentaria o endividamento da Oi, segundo reportagem do Valor

Valim, que não aceitou negociar um meio termo acabou sendo excluído das discussões durante suas férias, das quais voltou com a novidade de sua demissão. 


O executivo havia sido contratado há 1 ano e meio para liderar a virada operacional da Oi e vinha executando as mudanças muito bem, com a empresa apresentando melhoras trimestralmente. Com sua saída, o futuro a viabilidade do cumprimento das metas de longo prazo estabelecidas pela companhia foram postos em cheque.

Dividendos

Uma das metas se refere à distribuição de dividendos. Em abril do ano passado, a Oi anunciou via comunicado ao mercado que havia sido aprovada uma política de pagamento de dividendos entre 2012 e 2015 que previa a distribuição de 8 bilhões de reais aos acionistas.

O dinheiro está sendo pago em etapas, sendo que 2 bilhões referentes ao ano de 2011 já foram pagos, e o 1º bilhão de 2012 também. Segundo o cronograma, o outro bilhão de 2012 deve ser pago em abril desse ano e ainda há 2 bilhões de reais a serem distribuídos em 2013 e mais 2 bilhões de reais em 2014. A única ressalva feita foi o limite da relação dívida/ebitda em 3 vezes.

Resultados

Para tentar acalmar seus investidores – as ações caíram 7,93% com o anúncio da troca na presidência – a Oi decidiu adiantar a divulgação de seus resultados de 2012, quando aproveitou também para dizer que o 1 bilhão de reais em dividendos para completar a parcela de 2012 estava garantido.

A Oi apresentou, no ano, geração de caixa de 8,7 bilhões de reais e dívida líquida de 25 bilhões de reais, representando uma razão dívida líquida/Ebitda em 12 meses de 2,87 vezes, ainda abaixo do limite estipulado pela empresa. Os resultados apresentados estiveram relativamente em linha com a meta da companhia para o ano de 2012, definida em seu plano de longo prazo. 


Embora ainda seja cedo para dizer se a mudança na presidência afetará os planos da empresa – ainda não há data para a escolha de um novo nome -, os analistas a veem com cautela.

Para a Planner, mesmo com a confirmação do pagamento de 1 bilhão em dividendos, o cenário negativo para as ações permanecem inalterado. Ainda mais se for levado em conta que, para atingir as metas de crescimento financeiro da companhia, possibilitando o investimento de 24 bilhões de reais e a distribuição de dividendos aos acionistas entre 2012 e 2015, a empresa estimava crescimento do PIB de 4,0% em 2012 e de 4,5% em 2015, cenário que se torna cada vez mais improvável.

Perspectivas

A analista do Itaú BBA, Susana Salaru, também se mostrou cautelosa em relação a Oi em sua análise. O comprimento do guidance (crescimento de 10,1% na receita e de 13,3% no Ebitda) implica em uma execução de sucesso do processo de virada operacional iniciado por Valim.

“Sua saída reduz a probabilidade de que o plano de três anos, que foi considerado agressivo quando foi anunciado em abril passado, seja alcançado”, afirma Susana.

A analista tem projeções bem menores – crescimento de 4,3% e 5,6%, respectivamente – e acredita que o adiantamento do anúncio dos resultados terá efeito limitado para a ação, já que o mercado compartilha de uma visão mais pessimista que a da empresa. Susana destaca ainda em seu relatório que a a política de dividendos da Oi é incompatível com a geração de caixa e o ciclo de investimento da empresa. 


A agência de classificação de risco Moody’s também vê com dúvidas o futuro da Oi. Em comunicado, a agência de classificação de risco afirmou que embora a alteração não afete imediatamente o rating da Oi, irá monitorar todas as mudanças potenciais na futura estratégia da empresa e no plano de negócios que podem impactar suas métricas de crédito, especialmente no que se refere a dividendos, investimentos e alavancagem.

Portugal Telecom

A Portugal Telecom (PT) disse no domingo que não planeja assumir o controle ou fazer uma oferta pela Oi, após relatos na imprensa de que a empresa portuguesa estaria negociando a compra de fatias de dois acionistas. "Contrariamente a recentes especulações na imprensa, não existem planos que contemplem a PT comprar o controle ou fazer uma oferta pela Oi", diz a companhia, em nota.

A revista Veja divulgou neste fim de semana que a PT estaria tentando comprar as fatias de Carlos Jereissati e Sérgio Andrade na Oi, assumindo assim o controle da companhia. O valor da transação seria da quase R$ 2 bilhões.

Os grupos Andrade Gutierrez e Jereissati também negaram os planos de vender suas participações acionárias no Grupo Oi para a Portugal Telecom. Em nota, as companhias ressaltaram que tratam o investimento na Oi como de longo prazo. "O interesse dos grupos Andrade Gutierrez e Jereissati é alavancar sinergias com a Portugal Telecom no âmbito da parceria estratégica e tecnológica assinada e divulgada em julho de 2010", diz o comunicado.

Na opinião de Alex Pardellas, da CGD Securities, é muito difícil que essa negociação seja concretizada neste momento, visto que a Portugal Telecom registra endividamento elevado, com relação Dívida Líquida/EBITDA em torno de 3,5x. Ele ressalta ainda que a notícia da venda de controle poderá elevar os preços das ações da Oi no curto prazo, principalmente das ações ordinárias. 

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