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A recente alta do minério não convenceu esses analistas - e eles seguem cautelosos com Vale

Menor demanda por minério de qualidade e desconfiança com os rumos da economia chinesa pesam contra uma das maiores empresas da Bolsa

Vale (VALE3): BTG Pactual tem recomendação "neutra" para os ADRs (Beawiharta/Reuters)

Vale (VALE3): BTG Pactual tem recomendação "neutra" para os ADRs (Beawiharta/Reuters)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 3 de julho de 2025 às 16h28.

O ambiente mais adverso levou a Vale (VALE3) a reduzir sua previsão de produção de pelotas para 2025, de 38 a 42 milhões de toneladas, para 31 a 35 milhões de toneladas. E esse é um dos motivos que leva o BTG Pactual (mesmo grupo de controle da Exame) a manter cautela com os papéis da mineradora.

“Embora isso não nos surpreenda, dado o estado crítico da indústria global do aço e os níveis deprimidos de rentabilidade, a magnitude da revisão é relevante para o mercado de pelotas”, escrevem Leonardo Correa e Marcelo Arazi em relatório.

O banco tem recomendação neutra para os ADRs da Vale, com preço-alvo a US$ 11, um potencial de valorização de 12% relativo ao preço atual de US$ 9,82. No Brasil, nesta quinta-feira, 3, os papéis operam em baixa, incapazes de dar sequência aos ganhos expressivos obtidos na sessão de ontem - mesmo com o preço do minério voltando a subir.

O BTG entende que a decisão de corte no guidance representa um esforço da gestão para preservar valor, migrando de um produto mais elaborado (pelotas) e de custo elevado para um mais simples. Em algumas unidades da Vale, o custo de produção de pelotas ficou tão elevado que zerou as margens de lucro.

O banco destaca que o mais importante agora é a Vale ter mantido seu guidance de produção de minério de ferro para 2025 em 325–335 milhões de toneladas. Mesmo assim, o BTG prevê revisões negativas para a companhia ao longo do segundo semestre. A Vale tem calibrado sua produção de acordo com a demanda e há um cenário de preços mais fracos pela frente - o relatório aponta para um preço de minério de ferro reajustado em US$ 95 por tonelada para 2025 e US$ 85 por tonelada para 2026.

Em termos de valuation, para o BTG, ainda parece difícil identificar um upside relevante, com as ações negociando a aproximadamente 4,5x o Ebitda de 2025 e oferecendo dividend yields entre 6% e 8%.

Apesar disso, o banco reconhece “os avanços positivos recentes na história micro da Vale, como a melhora na narrativa da produção de minério de ferro (exemplificada pela decisão prudente de cortar a produção de pelotas), menores custos caixa C1 [da mina ao porto], avanços positivos relacionados à Samarco e melhorias institucionais.”

Menor demanda por pelotas

A Vale decidiu antecipar a manutenção preventiva da planta de pelotização de São Luís no terceiro trimestre de 2025. A unidade é a mais cara da empresa nesse tipo de operação, com custo de transformação em torno de US$ 30 tonelada — o que, no cenário atual, torna a produção inviável economicamente.

A mudança ocorre num momento de excesso de oferta global de aço, com preços baixos e margens negativas. A demanda por pelotas também recuou, refletindo a migração da indústria para minérios de menor qualidade em busca de menor custo.

De olho na China

Um dos fatores que ditam um ambiente externo mais negativo é a China, que segue vulnerável, o que adiciona pressão sobre todo o complexo siderúrgico e mantém uma pressão negativa sobre os preços do minério de ferro.

Na terça-feira, 1º, o presidente Xi Jinping defendeu o combate à concorrência excessiva e a deflação, citando setores como automóveis, painéis solares e aço. Isso deu um alívio para ações de siderúrgicas e mineradoras.

Entretanto, os rumores de que o governo chinês poderia reduzir a capacidade de produção do setor de aço, cortando unidades consideradas obsoletas, para o BTG Pactual, precisam ser analisado, já que não é tão simples assim.

“A experiência mostra que cortar capacidade siderúrgica na China é um processo altamente complexo e politicamente sensível”, escrevem Correa e Arazi em outro relatório.

Além disso, apesar de os comentários de Xi sinalizarem atenção aos riscos deflacionários do excesso de capacidade, eles foram amplos e não específicos ao setor de aço, aponta o documento - mas contrapões: “Ainda assim, se a narrativa de reformas pelo lado da oferta ganhar força, o impacto pode ser relevante.”

Segundo os analistas, cortes reais ajudariam a reequilibrar oferta e demanda e abrir caminho para recuperação das margens. No caso do minério de ferro, apesar da preocupação com a redução da demanda, uma eventual melhora nas margens das siderúrgicas poderia manter os diferenciais de qualidade e os prêmios pagos por pelotas.

“Ainda não chegamos lá”, destacam.

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