As consequências de uma recuperação do dólar podem ser de longo alcance para a economia global e países como o Brasil (Antara Foto/Hafidz Mubarak/Reuters)
Beatriz Quesada
Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 16h45.
Última atualização em 16 de janeiro de 2021 às 15h24.
Há muito tempo o dólar tem sido uma opção de refúgio para investidores globais. Mas, nas fases pós-recessão com apoio fiscal, a estratégia pode ganhar ainda mais força como aposta na recuperação global. Com isso em mente, à medida que os fluxos de capital para os Estados Unidos aumentam, a demanda pela moeda pode seguir a mesma trajetória, para grande desgosto de operadores que começaram 2021 com apostas de baixa do dólar excessivamente ampliadas.
Os EUA injetaram trilhões de dólares na economia, com mais estímulos a caminho, sempre com o objetivo de apoiar a economia durante a pandemia e impulsioná-la à medida que as vacinas são distribuídas. O mercado precifica a tendência com investidores que preferem cada vez mais ativos sensíveis à economia, como ações de pequena capitalização.
“O consenso sobre as previsões econômicas já mostra os EUA como uma das duas únicas grandes economias que devem terminar este ano maiores do que quando começaram no ano passado”, disse Elsa Lignos, responsável global por estratégia de câmbio da RBC Capital Markets, em relatório de 12 de janeiro.
Com a recuperação de empregos e gastos nos EUA, investidores internacionais devem se apressar para ganhar exposição à recuperação dos EUA, possivelmente levando a uma rotação de ações estrangeiras para papéis dos EUA. Para isso, precisarão de dólares. E esses fluxos de capital devem impulsionar a moeda americana.
“Acreditamos que um melhor desempenho econômico nos EUA se traduzirá em vantagem cíclica para o USD vs G10 (grupo que reúne dez das maiores economias industrializadas do mundo) não produtores de commodities em particular”, acrescentou Lignos. “Historicamente, o oposto raramente foi verdadeiro.”
As consequências de uma recuperação do dólar podem ser de longo alcance. Em ações, a correlação inversa entre o dólar e o S&P 500 está na máxima de vários anos desde o início da pandemia. A fraqueza do dólar incentiva investidores globais a comprarem ações dos EUA, que são vistas como caras.
quCom uma corrida para ações dos Estados Unidos e, consequentemente, para o dólar, essa relação pode ruir à medida que ambos aumentam. Mesmo as commodities podem se tornar menos sensíveis ao dólar se houver um projeto de lei de infraestrutura ou um amplo retorno aos escritórios.