Repórter
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 18h03.
A receita parece perfeita: junte uma empresa que já alcançou um valor de mercado histórico de US$ 5 trilhões, uma dose de alta de 65% no lucro líquido na comparação anual e está pronto o cenário para dar fim ao temor de Wall Street sobre uma possível bolha de inteligência artificial (IA). Mas, para alguns analistas, não é bem assim. Pelo menos não ainda.
Gil Luria, chefe de pesquisa tecnológica da D.A. Davidson, afirma que a Nvidia (NVDA) nunca foi o problema do setor.
“O real desafio está em empresas que estão levantando grandes dívidas para construir data centers", disse em entrevista à CNBC. "Quaisquer preocupações sobre a Nvidia foram certamente dissipadas [com os resultados financeiros], mas isso não significa que não precisamos ficar de olho nas empresas que emprestam ou tomam empréstimos para construir centros de dados.”
Segundo Luria, o setor de data centers é um "investimento especulativo" que deve passar por uma correção nos próximos "dois ou três anos" quando o mundo atingir a capacidade máxima. "Mesmo assim, a Nvidia vai continuar a vender chips", disse.
A OpenAI, por exemplo, gastou cerca de US$ 6,7 bilhões em pesquisa e desenvolvimento (incluindo a infraestrutura de servidores) até a primeira metade de 2025. A empresa projetava gastar mais de US$ 8 bilhões em 2025. O valor faz parte de uma meta ousada de aproximadamente US$ 1 trilhão em infraestrutura entre 2032 e 2033.
Brian Mulberry, gerente de portfólio da Zacks Investment Management, também reforçou que a demanda por soluções de hardware da Nvidia continua forte, especialmente entre grandes centros de dados. Para ele, o desempenho da Nvidia coloca a empresa em uma posição vantajosa frente a rivais como AMD e Broadcom.
Outro fator que pode ajudar a Nvidia a escapar de uma possível bolha é a capacidade da empresa em fazer parcerias com outras big techs.
A Nvidia fechou um acordo de US$ 10 bilhões com a Anthropic recentemente e estabeleceu uma parceria com a OpenAI, com uma previsão de US$ 100 bilhões em investimentos para fornecer 10 gigawatts de computação.
Outro acordo importante foi com a Microsoft, que expandiu sua colaboração com a Nvidia em novembro de 2025, integrando suas tecnologias de GPUs Blackwell e switches Ethernet Spectrum-X em suas operações de data centers, além de otimizar os Azure NC Series VMs para IA.
Em setembro, a Nvidia também fez um investimento de US$ 5 bilhões na Intel e anunciou uma parceria para o desenvolvimento de CPUs customizadas para data centers, que serão integradas com a tecnologia de NVLink da Nvidia.
A Nvidia também firmou uma parceria com a Nokia em outubro, investindo US$ 1 bilhão para desenvolver uma plataforma de telecomunicações 6G alimentada por IA.
A colaboração visa desenvolver o Nvidia Arc Aerial RAN Computer, uma plataforma de computação pronta para o futuro 6G, além de fortalecer a integração das soluções de IA-RAN no Japão.
Michael Burry, conhecido por prever a crise de 2008, levantou questões críticas sobre a sustentabilidade do crescimento no mercado de IA.
Em seu perfil no X (antigo Twitter), Burry expressou preocupações sobre o alto custo energético dos chips da Nvidia, em especial o A100, que consome de 2 a 3 vezes mais energia por operação em comparação aos chips mais novos, como o H100.
Ele também questionou a eficiência energética da empresa, apontando que os H100 são 25 vezes menos eficientes do que os chips Blackwell, ainda mais recentes, sugerindo que isso poderia impactar negativamente a rentabilidade futura.
Apesar de reconhecer o sucesso da Nvidia em termos de vendas de chips e sua dominância no mercado de IA, Burry alertou para o risco de um ciclo insustentável no longo prazo.
Para ele, o consumo energético elevado é uma preocupação, especialmente à medida que mais empresas do setor de IA entram em operação, com grandes investimentos em infraestrutura de data centers.
Apesar das incertezas em torno da eficiência energética e do risco associado ao alto nível de dívidas das empresas que estão investindo pesadamente na construção de data centers, a Nvidia continua a ser vista por muitos como a líder incontestável no fornecimento de chips de IA.
"Isso não é uma bolha. É apenas o começo", disse Ray Wang, presidente da Constellation Research e cofundador do AI Forum, à CNBC.