Suzano também é acusada de 'dumping' pelo Departamento de Comércio dos EUA (SOPA Images/Getty Images)
Repórter de mercados
Publicado em 10 de julho de 2025 às 17h58.
Última atualização em 10 de julho de 2025 às 18h04.
Com a maior exposição aos Estados Unidos, a Suzano (SUZB3) tem sido considerada a empresa do setor de commodities que pode ser mais afetada pelo tarifaço do Donald Trump. Os analistas do Goldman Sachs chamam a atenção para os contratos de longo prazo que a companhia exportadora de celulose tem com grandes compradores na região.
Para o Goldman, as vendas direcionadas aos Estados Unidos são grandes demais para ser facilmente redirecionadas a outras regiões (cerca de 19% do total), o que exigiria um esforço comercial e logístico significativo, além de uma possível pressão de preços no processo.
O consumo de celulose de fibra curta na América do Norte alcançou 3,7 milhões de toneladas em 2024 e é amplamente suprido por importações — a Suzano domina 55% do mercado. Os analistas do Bradesco BBI indicam que a tarifa de 50% pode ajudar a concorrência. "Esse movimento pode beneficiar a produção de celulose chilena", avaliam os especialistas. O Uruguai é outro mercado alternativo, com compradores buscando regiões com tarifas mais baixas.
O BBI também vê complicações logísticas, no curto prazo, para a Suzano redirecionar suas vendas. A participação dos EUA nas receitas da companhia é significativa, com 17% do total, sendo 19% provenientes de celulose e 9% de papel, conforme destacado no relatório de Rafael Barcellos, analista do BBI.
Diante dessa situação, o Bradesco BBI reforçou sua preferência pela Klabin (KLBN11), que tem uma exposição bem menor aos EUA, com apenas 2% de sua receita proveniente do mercado americano.
Os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) também comparam a Suzano com seus pares, e trabalham com percentuais parecidos. Enquanto a Klabin tem menos de 5% da receita dos Estados Unidos, a Suzano tem 19% da receita vem da América do Norte (celulose + papel), grande parte dos Estados Unidos.
Eles observam que a demanda global ainda está fraca. Porém, os preços atuais de US$ 500 por tonelada parecem próximos de um piso, limitando quedas adicionais.
Além do aumento das tarifas, há um complicador: a Suzano é acusada de dumping pelo Departamento de Comércio dos EUA. O órgão investiga a venda de papéis não revestidos da companhia entre março de 2023 e fevereiro de 2024 com preços 14,4% abaixo do valor normal.
Embora o caso não envolva o principal produto da empresa, a celulose de fibra curta (BHKP), os analistas da Genial Investimentos alertam para os ruídos regulatórios e o risco de aplicação de tarifas compensatórias caso a acusação seja confirmada.