Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Washington Costa/MF/Flickr)
Repórter
Publicado em 15 de fevereiro de 2023 às 13h19.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2023 às 15h06.
O evento do BTG que aglutinou os maiores nomes do mercado brasileiro em São Paulo foi peça-chave para o governo mudar a percepção de investidores sobre os riscos fiscais e apaziguar os ruídos sobre atritos com o Banco Central. Após o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ter colocado panos quentes na relação com o governo, nesta quarta-feira, 15, foi a vez do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falar. E as falas foram (muito) bem-recebidas pelo mercado.
Os efeitos foram sentidos na bolsa, com o Ibovespa se firmando no campo positivo, em direção oposta às quedas do mercado internacional. No mercado de juros, investidores passaram a precificar taxas mais baixas ao longo do tempo. O DI com vencimento em janeiro de 2024 recua quase 1% nesta tarde.
Para uma plateia de investidores, Haddad disse que tem trabalhado junto ao Banco Central. "Todo dia se conversam Fazenda e Banco Central. Não tem não conversar, porque há decisões a serem tomadas em conjunto. A comunicação nunca deixou e nunca deixará de exisitir", afirmou. "Ou o fiscal conversa com o monetário ou não vamos chegar onde queremos."
A possibilidade de mudança de metas também foi citada, ainda que indiretamente."Com 8% de taxa de juro real é difícil de navegar. É melhor chamar a atenção para isso do que para a meta. Está todo mundo com meta de 3% no mundo, mas ninguém cumpriu a meta. Quem mais se aproximou fomos nós [o Brasil] porque colocamos a taxa de juro no alto, que tem um custo enorme", disse.
Segundo Haddad, são necessárias metas fiscais e monetárias alcançáveis . "Quando projetamos cenários irrealistas perde-se credibilidade. Isso não é ser leniente, mas não dá para trazer de 6% para 3%. Tem formas e formas de endereçar o fiscal e o monetário. Tem que ir para o convencimento", afirmou.
As declarações foram feitas logo após alguns dos gestores mais respeitados (e influentes) do mercado terem defendido uma eventual revisão das metas de inflação. No painel anterior, as gestoras Verde, SPX e JGP afirmaram que a meta de inflação "está errada" por ser excessivamente ambiciosa. O medo, segundo André Jakurski, da JGP, é a revisão de metas abrir mais espaço para mais gastos do governo.
A possibilidade, no entanto, foi amenizada pelo ministro Haddad, que também expressou preocupações com a situação fiscal. De acordo com ele, uma solução deverá ser apresentada já em março, para quando espera já ter em mãos o projeto de uma nova âncora fiscal que irá substituir o teto de gastos.
A PEC da Transição, aprovada no fim do ano passado, previa que uma nova âncora fiscal fosse proposta até o fim do primeiro semestre. A antecipação do projeto para março foi encarada como positiva pelo mercado.
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Bernardo Assumpção, CEO da Arton Advisors, também elogiou as declarações de Haddad. Embora tenha se encontrado diversas vezes com banqueiros, esta foi a primeira vez que Haddad, como ministro da Fazenda, falou abertamente a uma plateia de profissionais do mercado financeiro.
"Haddad teve um discurso muito parecido com o do Palocci no primeiro mandato do presidente Lula com a missão de articulação política. Por ter um perfil não técnico, o ministro dá exemplos simples e superficiais sobre economia, mas não esconde a habilidade conciliadora política", afirmou. Assumpção ainda afirmou que Haddad pode ser o "grande moderador" entre a sociedade, o mercado e a área técnica do governo. "Eu saí mais otimista desse painel do que eu entrei."