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A estratégia de um fundo de R$ 48 bi contra o juro baixo

Como o fundo de pensão da Caixa está se preparando agora que a renda fixa não paga mais o suficiente para que a entidade cumpra suas metas

Brasília Shopping, um dos empreendimentos imobiliários da FUNCEF (Wikimedia Commons)

Brasília Shopping, um dos empreendimentos imobiliários da FUNCEF (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2012 às 12h18.

São Paulo – Os grandes investidores já estão se preparando para a era de juros reduzidos em que o Brasil e o mundo parecem estar entrando. Em palestra no 5º Congresso Value Investing Brasil, nesta semana, o coordenador da área de gestão ativa e renda variável da FUNCEF, Bruno Moreira Barbosa de Britto, explicou a estratégia do fundo de pensão da Caixa para se adaptar ao novo cenário: se voltar mais para ativos imobiliários, títulos de renda fixa atrelados à inflação e renda variável com foco em valor, ao mesmo tempo em que reduz o peso dos ativos atrelados à Selic na carteira.

“Atualmente os fundos de pensão já não conseguem bater suas metas atuariais investindo em títulos públicos”, disse Britto. A meta da FUNCEF é de 5,5% ao ano mais inflação pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mas o coordenador explica que os títulos públicos atrelados à inflação, as NTN-Bs, vem pagando um juro real inferior a 5,5% ao ano desde fevereiro, o que torna o título insatisfatório para a meta do fundo. A NTN-B mais longa à venda atualmente vence em 2050 e paga um juro real de 4,85% ao ano.

Além de pesar mais a mão em ativos mais rentáveis e até de risco um pouco maior, o fundo também está alongando o perfil das carteiras, investindo em ativos de prazo maior, o que representa um ganho de rentabilidade. A FUNCEF aloca apenas 45% de seus 48 bilhões de reais de patrimônio em renda fixa, destinando à renda variável nada menos que 37% no total (o percentual para cada participante varia de acordo com a idade). Para os ativos imobiliários são destinados 7%, quase o limite de 8% permitido aos fundos de pensão.

Renda fixa

De acordo com Bruno de Britto, a FUNCEF vem reduzindo a participação de títulos públicos pós-fixados em sua carteira e preferindo aqueles atrelados à inflação. Hoje apenas 8% da carteira de renda fixa é atrelada à Selic, sendo 41% dela indexada a índices de inflação. Também compõem a carteira títulos de crédito privado. Neste grupo, a FUNCEF inclui também os recebíveis imobiliários, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Direitos Creditórios (FDICs) que investem nesses papéis lastreados em imóveis.

Leia mais sobre os fundos de crédito privado.
- Leia mais sobre as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), espécie de CDB lastreado em imóveis e isento de IR para a pessoa física.

Ativos imobiliários

A FUNCEF é o fundo de pensão com maior percentual de ativos imobiliários em carteira, possuindo 16 shopping centers, cinco hotéis, quatro fundos de investimento imobiliário e cerca de 150 imóveis para renda. Entre os empreendimentos da FUNCEF estão o Hotel Renaissance, em São Paulo, e o Brasília Shopping.


Renda variável

A partir de 2009, a carteira de renda variável da FUNCEF passou a ter mais foco em investimentos de valor, cuja filosofia visa a selecionar ativos depreciados e com grande potencial de valorização por conta de uma má precificação do mercado. São empresas que têm problemas que podem ser sanados em breve, cujos problemas são superestimados pelo mercado ou mesmo cujos pontos fortes ainda não foram devidamente precificados.

“A carteira de ações da FUNCEF sempre foi muito correlacionada com o Ibovespa e o IBrX, até por seu porte e por prezarmos pela liquidez. Desde 2009, porém, tem havido um movimento de redução desta correlação”, diz Britto. Segundo ele, a força motriz do Ibovespa nos últimos anos – petróleo e gás, mineração, bancos e siderurgia – não vai continuar com a mesma intensidade. Futuramente, esse papel será mais desempenhado pelo setor doméstico – logística, infraestrutura, seguros, varejo, transporte, construção civil e bens de capital.

Metade da carteira de renda variável da FUNCEF é terceirizada para outras gestoras de fundos. Mas, por seu porte, a Fundação investe em fundos-espelho, réplicas do fundo principal de cada gestora que permitem ao fundo de pensão deter 100% do fundo. Atualmente a FUNCEF pretende investir em quatro famílias de fundos: IBrX ativo, fundos de valor (incluindo small caps), dividendos e fundos de sustentabilidade.

Em sua apresentação, Bruno de Britto deu destaque às ações sustentáveis. “Empresas preocupadas com esse aspecto normalmente são companhias com práticas de gestão à frente de seu tempo, com times de gestão melhores”, disse. Mas a Fundação não investe em fundos que aplicam em ações do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que é o tipo de fundo de sustentabilidade normalmente disponível para investidores pessoa física. O fundo de pensão preferiu uma gestora com metodologia própria para avaliar quais ações podem ser consideradas sustentáveis, hoje em fase final de contratação.

Para selecionar seus gestores de valor, a FUNCEF analisa mais a qualidade do gestor do que propriamente da carteira, por considerar que os critérios usualmente utilizados para avaliar fundos de ações não se aplicam perfeitamente aos fundos de valor. Segundo Britto, a gestora de recursos é avaliada como se fosse uma empresa, uma espécie de holding. A FUNCEF avalia a filosofia de investimento, a equipe e sua rotatividade, o nível de coparticipação nas empresas, o uso de alavancagem, os critérios de alocação de capital, entre outros fatores.

Além disso, também são feitas reuniões periódicas com os gestores, e sua performance é comparada entre eles, de modo que os aportes ou resgates sejam condicionados aos resultados. A performance dos fundos também é comparada à dos fundos oferecidos ao grande público no mercado.

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