Elon Musk: crescente interferência política de Musk tem afetado a imagem e as vendas da empresa (VINCENT FEURAY / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 24 de julho de 2025 às 06h19.
Última atualização em 24 de julho de 2025 às 07h38.
Elon Musk achou que o robotáxi seria o suficiente para deixá-lo longe de uma crise, mas os resultados da Tesla (TSLA) no segundo trimestre de 2025 mostraram que os desafios a curto prazo não podem ser ignorados. A gigante dos veículos elétricos enfrentou a maior queda de receitas em mais de uma década: uma redução de 12% ano a ano, totalizando US$ 22,49 bilhões, ligeiramente acima das expectativas do mercado. Segundo o índice de bilionários da Bloomberg, a queda custou caro — e Musk perdeu US$ 59,1 bilhões (cerca de R$ 326,5 bilhões, na cotação atual) em apenas um dia.
A crise é multifacetada e uma série de fatores se combinando para impactar negativamente o desempenho da Tesla. O volume de entregas caiu 13,5%, com a empresa entregando 384.122 veículos no período, muito abaixo do esperado, o que resultou em uma perda de cerca de US$ 3 bilhões em receita. Parte da queda pode ser atribuída à diminuição na demanda na Europa, além de um aumento na concorrência, especialmente da BYD, que superou a Tesla em vendas globais, com 223.000 BEVs a mais no mesmo período.
A Tesla também foi forçada a reduzir o preço de seus veículos para defender sua participação no mercado, com cortes de até US$ 7.500 em incentivos e promoções. Embora esses descontos tenham impulsionado as vendas de unidades, prejudicaram a margem bruta da empresa, que caiu para 17,2%, o nível mais baixo desde 2019. O efeito foi agravado pela queda de 51% nas receitas com créditos regulatórios, uma fonte de lucro importante que agora se esvai à medida que as políticas de incentivos começam a expirar.
Embora a empresa tenha superado as expectativas de receita para o segundo trimestre, os desafios continuam em seu caminho, e Musk reconhece que a Tesla enfrentará “alguns trimestres difíceis” à medida que o mercado de veículos elétricos se torna mais competitivo.
A combinação de volume reduzido de vendas, preços mais baixos, créditos regulatórios, a participação de Musk no governo Trump e tarifas elevadas resultou no que pode ser descrito como a tempestade perfeita para a Tesla no segundo trimestre. A empresa, que se acostumou a ver seu crescimento de receita impulsionado por inovações e políticas governamentais favoráveis, agora se vê em um cenário de dificuldades econômicas globais e desafios internos, especialmente com a queda nas vendas e o aumento dos custos de produção e a crise acentuada de seu CEO com o presidente dos Estados Unidos.
Os custos com tarifas aumentaram significativamente devido a novas tarifas sobre componentes de baterias chinesas e modelos fabricados nos EUA, com um impacto de cerca de US$ 300 milhões no trimestre.
Os investidores estão atentos ao longo prazo. Musk segue confiando em sua visão, com a aposta em robotáxis e robôs humanoides sendo apontada como a chave para a recuperação da Tesla nos próximos anos. O teste de robotáxi em Austin, Texas, foi destacado pela companhia como um marco, mostrando seu compromisso com a mobilidade autônoma e a inteligência artificial como ferramentas para sustentar sua liderança no setor.
A empresa também está apostando na produção de um modelo de baixo custo, planejado para o segundo semestre de 2025, que visa atrair uma base de clientes mais ampla. O modelo é aguardado com grande expectativa, já que nenhum novo produto massivo foi lançado desde 2020, o que deixou a linha de modelos da Tesla com um desgaste visível nos showrooms. E a aposta maciça em IA e em tecnologia de robôs não vem sem custos. A Tesla investiu pesadamente em CapEx, com uma previsão de mais de US$ 9 bilhões para 2025.
Musk e Trump: parceria pode ter custado caro para o CEO da Tesla (Photo by Allison ROBBERT / AFP)
O envolvimento político de Musk, com sua liderança no "Departamento de Eficiência Governamental" (DOGE, na sigla em inglês), durante o começo da administração Trump e apoio a partidos de extrema-direita, teve um impacto direto nos resultados da Tesla no segundo trimestre. A reação negativa à sua postura gerou boicotes e protestos contra a empresa, afetando suas entregas e receita no período.
Em mercados como Alemanha e Califórnia, as vendas de veículos caíram drasticamente, com a marca Tesla associada a um desgaste político. A queda de 13,5% nas entregas foi atribuída, em parte, à rejeição de consumidores liberais e de investidores focados em ESG, que viam a marca como um símbolo de virtude ambiental, mas passaram a questionar a postura política de Musk.
Embora a Tesla não tenha divulgado uma estimativa precisa do impacto político, análises indicam que a queda nas vendas pode ter sido responsável por até 4% das entregas, com uma redução nas margens estimada em 30 pontos-(base).
O impacto se refletiu também nas ações da Tesla, que caíram mais de 4% no pós-mercado, após a divulgação dos resultados. Analistas apontaram que a insegurança política de Musk é um obstáculo para o crescimento da empresa, com preocupações de que a marca seja prejudicada por suas associações partidárias.
Analistas de Wall Street mantêm uma visão cautelosa sobre a Tesla, destacando que, enquanto a companhia continua sendo líder no desenvolvimento de tecnologias autônomas, os números do período foram decepcionantes. A reação dos analistas foi mista, com alguns mantendo uma postura positiva a longo prazo, enquanto outros ajustaram suas previsões.
Dan Ives, da Wedbush Securities, manteve sua avaliação positiva sobre a companhia, apesar dos resultados fracos do trimestre. Ele descreveu a Tesla como estando em um "ponto positivo", particularmente no que se refere às iniciativas de inteligência artificial (IA). Ives destacou que a Tesla está bem posicionada para liderar a revolução da mobilidade autônoma e o desenvolvimento de robôs humanoides. No entanto, ele foi claro ao afirmar que, apesar da promessa de longo prazo, os resultados financeiros do segundo trimestre não foram impressionantes e não refletem o crescimento acelerado que os investidores esperavam. Ives também mencionou que, embora os resultados do segundo trimestre não tenham sido "nada de mais", a estratégia de IA da Tesla e o foco em robotáxis podem continuar a impulsionar o valor da empresa no futuro.
Os analistas do Bank of America, por sua vez, adotaram uma postura mais cautelosa, mas ainda assim aumentaram o preço-alvo das ações da Tesla de US$ 305 para US$ 341. Apesar de reconhecerem as dificuldades da empresa com a queda nas vendas de veículos e o impacto das tarifas comerciais, os analistas do banco destacaram o lançamento do robotáxi em Austin como um fator que pode elevar as perspectivas de longo prazo. Segundo o relatório, embora o segundo trimestre tenha sido desafiador, a Tesla continua com uma forte posição no mercado de veículos autônomos, e os projetos de IA e robotáxis podem ser a chave para a recuperação. No entanto, eles também alertaram que as tarifas de importação e os créditos regulatórios desaparecendo representam um risco considerável para a rentabilidade no futuro.
O Goldman Sachs também ajustou sua previsão para a Tesla, elevando o preço-alvo das ações de US$ 285 para US$ 315. Delaney destacou que, embora a queda nas entregas de 13,5% no Q2 2025 tenha sido uma surpresa negativa, as perspectivas de longo prazo da empresa ainda são favoráveis. Ele apontou que, apesar de a empresa não ter atingido as expectativas de entrega e de preços médios, os números ainda ficaram acima da previsão interna da Goldman, que esperava 365.000 unidades entregues. Para o analista Mark Delaney, o principal ponto positivo foi a fórmula de inovação contínua da Tesla, que ainda coloca a empresa na liderança quando se trata de tecnologia de veículos autônomos e sistemas de IA. Contudo, ele também enfatizou que a queda nas margens e o impacto das tarifas comerciais devem ser monitorados de perto.
O Barclays, sob a liderança de Dan Levy, manteve uma postura mais conservadora, avaliando a Tesla com nota de "mantenha" e um preço-alvo de US$ 275. Levy destacou que a empresa está enfrentando uma deterioração das suas bases fundamentais, com uma redução nas margens de lucro e uma queda acentuada nas entregas de veículos. Levy mencionou que o lançamento de novos modelos de baixo custo pode ser uma tentativa de revitalizar as vendas, mas a dependência de produtos de alto custo, como o Cybertruck, pode limitar o impacto de curto prazo. Ele também mencionou o robotáxi como uma promessa de longo prazo, mas alertou que a execução bem-sucedida da tecnologia será a chave para sua viabilidade comercial. Levy afirmouque, se a Tesla não conseguir lidar com os desafios atuais, como as tarifas e os custos de produção, suas perspectivas de crescimento podem ser seriamente limitadas.
Já os analistas da Piper Sandler, representados por Alex Potter, mantiveram uma visão otimista, com uma avaliação de "overweight" e preço-alvo de US$ 400. Potter destacou que, apesar das perdas nos créditos regulatórios, a Tesla continuará a gerar receitas substanciais com seus veículos elétricos, especialmente com o esperado crescimento de vendas nos mercados internacionais. Ele também enfatizou que, embora as tarifas e a concorrência crescente sejam preocupantes, a empresa ainda está fortemente posicionada devido às suas inovações em IA e robotáxis. Para Potter, as perdas de créditos regulatórios terão um impacto limitado nas perspectivas de longo prazo da empresa, e a Tesla ainda tem um bom pipeline de produtos e inovações que podem levar a um crescimento sustentável.