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Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2012 às 08h05.
São Paulo – Com pouco mais de um mês, o Ibovespa já recuperou em 2012 metade do que caiu em 2011. Durante o ano passado, o principal índice da bolsa perdeu pouco mais de 13 mil pontos. Este ano, o Ibovespa já somou mais de 6,7 mil pontos, superando novamente o patamar dos 66 mil pontos.
Não é sorte de Ano Novo nem simpatia do mercado. Motivos muito mais claros do que as superstições de virada do ano impulsionam esse resultado. “Não há um movimento muito forte de capital doméstico. Basicamente toda a entrada de investimento na bolsa vem de fora”, resume Hamilton Moreira Alves, assessor sênior do BB Investimentos.
Uma série de fatores traz esses investidores para cá. Um dos principais pontos de influência para a escalada do Ibovespa são as notícias que vêm de fora. Notícias mais otimistas de uma recuperação nos Estados Unidos, por exemplo, incentivam essa alta.
Muito mais importante, porém, é a situação da Europa. O velho continente continua numa saia justa econômica, mas saiu do cenário catastrófico que apontava. “A partir do momento que acaba a chance da Europa entrar em colapso, ainda que haja recessão, o efeito é positivo para a bolsa”, afirma Paulo Clini, chefe de investimentos da Western Asset Management. Parece estranho que a recessão seja algo positivo, mas como Clini explica, dos males o menor: antes uma leve recessão do que uma depressão, como temia o mercado.
Ainda que não exista uma resolução clara sobre o que vai ocorrer na Europa, o mercado já coloca no preço dos papéis as melhores expectativas. Essas notícias influenciam não só a bolsa brasileira, mas o mercado global como um todo. “Quando o risco diminui, os investidores começam a buscar países com ativos baratos e assim o dinheiro estrangeiro volta para a bolsa brasileira”, afirma Will Landers, diretor para a América Latina da BlackRock, maior gestora global de ativos.
Clini, da Western, concorda e destaca que uma forma de entender quão barato estão os ativos da bolsa é pensar no indicador de preço sobre lucro. Ele estima uma média de P/L em 10,2 vezes para as empresas brasileiras, quando a média histórica é de 13 vezes, o que prova que os ativos estão baratos. O indicador mede o preço de um papel em relação a tempo em que ele pode dar lucro e quanto mais baixo o P/L, mais barato está o ativo. Nesse cenário, também é importante lembrar de outros incentivos para que o investidor estrangeiro aposte fortemente na Bovespa, como a inflação rumando para meta, a Selic abaixo de 10% e o IOF zerado.
A rapidez dessa alta, porém, inspira cuidado. “Quando o investidor estrangeiro volta ao mercado, ele investe grande volume por uma questão tática. Se ele tiver que sair, vai fazer isso da mesma forma”, alerta Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo, empresa de investimentos e consultoria financeira do grupo Vinci Partners.
Bis de 2009?
Diante de uma recuperação como a que vem ocorrendo neste ano, é normal lembrar o que ocorreu em 2009. Após a forte crise em 2008 (-41,2%), o Ibovespa subiu 82,6% e registrou um de seus melhores anos. Embora o movimento de alta parta da mesma combinação entre ativos baratos e demanda por risco reprimida, os especialistas apostam que a valorização do mercado neste ano será muito abaixo do que ocorreu naquela ocasião.
“Em 2009, o retorno da bolsa em dólares superou os 100%, mas o ano anterior tinha sido de uma queda de quase 60%”, lembra Will Landers, da BlackRock, que estima um retorno em dólares de 30% para a bolsa em 2012. Uma queda maior abre sempre mais espaço para uma recuperação mais forte.
A diferença também é vista na economia como um todo e não apenas no mercado financeiro. “Em 2008, a crise teve um impacto muito forte no Brasil e as empresas pisaram no freio de uma forma generalizada”, lembra Frederico Sampaio, diretor de investimentos da Franklin Templeton. “Com esse espaço, houve também uma recuperação muito rápida e uma corrida aos emergentes muito forte”, completa. Segundo ele, saber se a alta vai se sustentar daqui para frente depende muito dos números da economia e dos lucros que as empresas brasileiras devem apresentar.
Bittencourt, da Apogeo, concorda e lembra que uma segunda leva de investimentos estrangeiros em direção do Brasil dependeria desse desempenho. “O grande investidor trabalha com base em indicadores e quando ele vê uma oportunidade, não aplica todo o dinheiro que tem de uma vez”, diz, lembrando que o volume que esses investidores têm para aplicar em emergentes só aumentaria conforme os números provassem a qualidade da aplicação.