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Bolha da rosquinha? Ações da Krispy Kreme disparam sem motivo aparente. É a volta das ‘meme stocks’

Ações subiram mais de 70% na Nyse em um mês puxadas por investidores de varejo e o frenesi com os papéis em fóruns como o Reddit. A história não é nova — e não costuma acabar bem

Krispy Kreme: rede de donuts americana dispara na bolsa e vira 'meme stocks' (Illustration by Scott Olson/Getty Images)

Krispy Kreme: rede de donuts americana dispara na bolsa e vira 'meme stocks' (Illustration by Scott Olson/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 26 de julho de 2025 às 12h23.

Última atualização em 26 de julho de 2025 às 13h26.

Os donuts da americana Krispy Kreme viraram febre em São Paulo, marcada pelas longas filas que se formam na sua única unidade no Brasil, aberta neste ano na Avenida Juscelino Kubistchek, próxima ao centro financeiro do país.

O hype parece ter se estendido também entre os investidores de varejo nos Estados Unidos, onde a rede de rosquinhas está longe de ser novidade. Os combalidos papéis da companhia disparam nos últimos dias na bolsa americana: em 30 dias, a alta é de 70%. Boa parte do desempenho veio apenas nos últimos cinco dias, com uma pernada de 41%.

O motivo? Nenhum aparente, do lado dos fundamentos. A única coisa que mudou foi a popularidade das ações em fóruns como o Reddit.

É uma espécie de "Meme Stocks, O Retorno". Em meio às máximas das bolsas americanas, as pessoas físicas tem apostado em ativos mais arriscados, o que vem alimentando ondas de euforia difíceis de justificar em papéis antes relegados por investidores institucionais.

GameStop 2.0

Qualquer semelhança com episódio da GameStop, em 2021, não é mera coincidência.

Naquele momento, milhares de usuários do fórum r/WallStreetBets começaram a comprar ações da GameStop, uma varejista de videogames então vista como decadente, para pressionar fundos de hedge que estavam fortemente posicionados na venda a descoberto.

O movimento gerou uma disparada histórica nos papéis, forçando grandes investidores institucionais a recomprar as ações a preços inflados para cobrir suas posições — o chamado short squeeze.

Em poucas semanas, a GameStop saiu de menos de US$ 20 para mais de US$ 400 por ação, numa escalada marcada por euforia, volatilidade e debates sobre regulação. O caso simbolizou um momento de virada: o investidor de varejo, antes marginalizado, passou a ser visto como uma força capaz de influenciar o mercado.

Short squeeze no alvo

Nesta nova onda, as conversas nas redes sociais inicialmente se concentraram na Opendoor, uma plataforma de compra e venda de imóveis, que subiu nada menos de 400% no último mês. Mas logo se expandiram para outros nomes cujas ações são negociadas por poucos dólares e tem muitas posições vendidas, apostando na queda.

Além da Krispy Kreme, outras empresas, como a rede de lojas de departamento Kohl's e a GoPro, de câmeras para atividades de ação, figuraram entre os papéis mais comentados na última semana no fórum WallStreetBets,[/grifar] segundo dados da plataforma de análise alternativa Altindex.

“A Krispy Kreme parece ser a mais nova integrante dessa onda especulativa”, escreveu a analista Daniela Hathorn em um relatório, de acordo com a Bloomberg. “Assim como as demais, não houve nenhuma notícia relevante que justificasse o rali, foi pura força vinda do varejo.”

A Krispy Kreme opera com quase 32% das suas ações em circulação no mercado vendidas a descoberto, por investidores que apostam na queda.

Na última quinta-feira, 23 a ação da Krispy Kreme chegou a subir 39%, mas acabou fechando com alta de 4,6%, com um volume recorde de negociação de mais de 151 milhões de ações, em comparação com a média de 5,28 milhões dos últimos 50 dias.

Um dia antes, as ações subiram quase 27%, com 44 milhões de ações negociadas.

Cuidado com as ‘meme stocks’

Assim como foi na época do GameStop, é preciso cuidado: os ralis são extremamente voláteis, alertam especialistas. As ações da Kohl’s chegaram a cair 14% na quarta-feira, 23, após terem fechado com alta de 38% no pregão anterior.

Também na quarta-feira os papéis da Opendoor recuaram pelo segundo dia seguido, caindo 20% após a disparada dos seis dias anteriores. Mais de 515 milhões de ações trocaram de mãos no pregão — mais de 340% acima da média dos últimos três meses, aponta a Bloomberg.

Hathorn, da Capital.com, reforça a cautela: "Esses picos costumam estar desconectados dos fundamentos da empresa e podem ser revertidos violentamente. Investidores que buscam impulso sem uma estratégia de saída podem ser pegos em quedas dolorosas."

O apetite desenfreado do varejo pode ser ainda um alerta para todo o mercado. O estrategista Michael Harnett, do Bank of America, está enxergando um risco crescente de uma bolha nas bolsas americanas, justamente num momento em que elas alcançam seus picos históricos.

Segundo ele, a combinação entre cortes de juros ao redor do mundo e mudanças regulatórias que incentivam o varejo está criando um ambiente de “liquidez excessiva e volatilidade”. “Mais varejo, mais liquidez, maior volatilidade, maior bolha”, apontou o analista em relatório.

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