Invest

A aposta da Eternit (ETER3) para alcançar novos voos na construção civil

Em cinco anos, o sistema construtivo cresceu de 2% para 8% no faturamento da fabricante de materiais de construção civil

O CEO projeta que, em menos de dez anos, a Eternit será reconhecida não apenas pelas telhas de fibrocimento, que representa 30% de seu market share, mas por seus sistemas construtivos, um negócio com margens mais altas e maior valor agregado (Divulgação / Eternit)

O CEO projeta que, em menos de dez anos, a Eternit será reconhecida não apenas pelas telhas de fibrocimento, que representa 30% de seu market share, mas por seus sistemas construtivos, um negócio com margens mais altas e maior valor agregado (Divulgação / Eternit)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 21 de agosto de 2025 às 17h46.

Última atualização em 21 de agosto de 2025 às 17h49.

Um ano depois de sair da recuperação judicial e encerrar o legado do amianto no Brasil, a Eternit (ETER3) traçou uma nova estratégia de crescimento. São os chamados ‘sistemas construtivos’, que já representam 8% de sua receita e prometem ser um dos grandes pilares da companhia na próxima década.  

A aposta é vista pela empresa como forma de diversificar o portfólio e capturar margens mais altas em comparação às telhas de fibrocimento, seu produto mais tradicional. 

O destaque é a construção a seco, com estruturas em steel frame (metálica) ou wood frame (madeira), que substituem a alvenaria convencional. Nessas obras, a Eternit fornece painéis cimentícios para fechamento das paredes, fabricados industrialmente e entregues como módulos semiprontos 

O método reduz o desperdício de materiais, exige menos uso de cimento e acelera drasticamente o prazo das obras: empreendimentos que levariam até dois anos podem ser concluídos em dois a três meses. 

“Uma das principais dores da construção civil hoje é a falta de mão de obra qualificada. O sistema construtivo ajuda a resolver esse problema, e a Eternit é parte dessa solução”, afirma o CEO Rodrigo Inácio. 

A pandemia acelerou a demanda por esse modelo, com a construção de hospitais de emergência e outros projetos rápidos. “Com a produção mais ágil, conseguimos aumentar nossa receita de maneira significativa”, completa o executivo. 

Margens mais altas

Com crescimento consistente — os sistemas respondiam por apenas 2% da receita cinco anos atrás —, a Eternit projeta que o segmento ganhará peso frente às telhas de fibrocimento, onde ainda detém 30% do mercado. 

A vantagem está na rentabilidade: enquanto as telhas competem com materiais de baixo custo, os sistemas construtivos disputam espaço em nichos mais sofisticados, com maior valor agregado e soluções sob medida para cada cliente. 

A infraestrutura da companhia também acelera a transição. Hoje, a Eternit atende 3.800 cidades no Brasil e pode converter suas plantas de telhas para o novo segmento a custo baixo, uma vantagem competitiva relevante em relação a empresas que precisam erguer as plantas do zero. “Em Caucaia, cada máquina para produzir telha custou R$ 185 milhões. Para adaptá-la ao sistema construtivo, o investimento foi de apenas R$ 10 milhões”, diz Inácio. 

Recuperação financeira 

O movimento estratégico acontece após um período de reestruturação. Com o fim da RJ, a Eternit voltou a acessar crédito em bancos de primeira linha e renegociou prazos mais longos com fornecedores, reforçando sua posição financeira. 

“A disciplina, a decisão de pedir RJ no momento certo e a credibilidade construída em 85 anos de história foram fundamentais para sair da recuperação judicial”, afirma a CFO Carisa Portela. 

O processo foi mais longo que o esperado, com entraves jurídicos e a necessidade de encerrar negócios deficitários, como a joint venture com a Corona, no Ceará. Ainda assim, a empresa manteve investimentos estratégicos, somando R$ 500 milhões em expansão de fábricas, revitalização da unidade de Manaus (AM) e aquisição da planta de Caucaia (CE). 

Dívida sob controle 

No segundo trimestre de 2025, a Eternit registrou lucro líquido de R$ 30,6 milhões, alta de 161,9% sobre um ano antes. A alavancagem recuou para 1,44 vez dívida líquida/EBITDA, contra 1,56 vez em 2024. 

Segundo a CFO, trata-se de um nível confortável, mesmo com metade da dívida concentrada no curtíssimo prazo, via antecipação de recebíveis. “A exportação de amianto, especialmente para a Ásia, permite antecipar a entrada de caixa com taxas atrativas”, explica. 

Toda a produção da mina em Minaçu (GO) continua destinada exclusivamente à exportação, conforme determina a lei. Além disso, a companhia tem buscado novas fontes de recursos, como a revisão de tributos, que rendeu R$ 20 milhões em créditos de PIS e Cofins no trimestre. 

Acompanhe tudo sobre:EternitRecuperação JudicialConstrução civilAmianto

Mais de Invest

Ações de empresa caem 12% após mudança polêmica no logo

Dólar fecha em alta de olho em simpósio de Jackson Hole

Nubank troca de CEO no México: Armando Herrera assume comando de operação estratégica

BB já caiu 17% este ano na bolsa. Mas o Safra alerta: ainda não está barato