Xi Jinping, presidente da China: interesse do governo central em manter controle econômico pode estar por trás de falta de estímulos, avalia analista (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Repórter
Publicado em 19 de abril de 2024 às 07h00.
A China superou as estimativas de crescimento para o primeiro trimestre ao apresentar uma alta de 5,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. O país tem como meta crescer ao menos 5% neste ano. Ainda que esteja nos trilhos para cumprir o objetivo, grande parte do mercado ainda desconfia sobre a possibilidade de a meta ser alcançada e acredita que seriam necessários novos estímulos para acelerar a economia local. Essa é a opinião de Andrew Batso, diretor de China da casa de análise Gavekal Research.
"O fato mais interessante na economia da China este ano é o que não aconteceu: um estímulo substancial", afirma Batso em relatório. "Os novos empréstimos bancários no primeiro trimestre diminuíram substancialmente em relação ao ano passado. Entretanto, o lento progresso do governo na resolução da crise imobiliária não transmitiu muita urgência."
Em sua análise, Batso discorre sobre quatro teorias que explicam por que a China não está estimulando sua economia como outrora. "Essas teorias não são mutuamente exclusivas: mais do que um fator certamente está em jogo. No entanto, implicam cenários diferentes para a forma como a macropolítica evolui a partir daqui."
A primeira teoria de Batso envolve uma suposta complacência das autoridades locais quanto à situação econômica da China. "Nesse caso, o governo considera que as previsões do mercado estão erradas e que a recuperação do consumo, a estabilização do investimento e as exportações sólidas proporcionarão o crescimento desejado sem exigir muita intervenção oficial."
Batso considera que essa teoria estaria ganhando força nas últimas semanas à luz de dados mais fortes da economia americana. "A demanda externa ajudou a manter o crescimento do PIB no primeiro trimestre acima das expectativas e acima dos 5%, o que poderia de fato permitir ao governo poupar alguma da sua munição política para usar mais tarde."
A segunda tese seria o maior conservadorismo dos formuladores de política econômica. "O Banco Central da China prefere ajustar a política monetária apenas gradualmente, avaliando o seu impacto ao longo do tempo, em vez de fazer mudanças drásticas." Algo semelhante, portanto, estaria sendo feito na política fiscal, avalia Batso. "Nesta perspectiva, um estímulo excessivamente agressivo agravaria os problemas estruturais da China e correria o risco de ser ineficaz e dispendioso."
Outra teoria de Batso é de que o governo estaria disposto a fazer estímulos mais robusto, mas estaria enfrentando dificuldades de execução. "Os funcionários de nível inferior muitas vezes não têm certeza sobre qual objetivo perseguir e têm pouco incentivo para tomar a iniciativa na resolução de problemas."
Já a quarta teoria de Batso envolve o suposto interesse do governo central de manter maior controle sobre a economia chinesa. "Os principais atores de estímulos passados foram governos locais e o setor imobiliário. Neste contexto, a política macroeconómica pode ser interpretada como uma tentativa de prestar apoio à economia sem permitir outro boom de investimento descentralizado que desgastaria o controlo central", comenta Batso.
O analista espera que o governo mude de direção, caso a política atual se mostre conservadora ou complacente demais. "Essa parece ser a visão dominante no mercado local. É claro que também é possível que os acontecimentos se desenvolvam de tal forma que a complacência política e o conservadorismo se revelem justificados e não seja necessária qualquer mudança." Por outro lado, Batso considera que se o problema for de execução ou se o governo central não estiver disposto em reduzir o controle, as chances de uma mudança dramática de política serão menores.