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3 crises simultâneas impedem queda do dólar: moeda volta a superar R$ 5,60

Agravamento da pandemia deteriora perspectivas de crescimento e amplia riscos fiscais, anulando efeitos positivos sobre o câmbio que poderiam vir do aumento da taxa Selic

Não há aumento de juro que, por enquanto, faça a moeda brasileira ganhar valor: há múltiplas razões para forçar o dólar para cima (Roberto Machado Noa / Colaborador/Getty Images)

Não há aumento de juro que, por enquanto, faça a moeda brasileira ganhar valor: há múltiplas razões para forçar o dólar para cima (Roberto Machado Noa / Colaborador/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 24 de março de 2021 às 20h05.

O dólar saltou 2,20% nesta quarta-feira, 24, e registrou a maior alta diária em seis meses. A moeda voltou a ficar acima de 5,60 reais em um movimento puxado pela piora da percepção de risco sobre o Brasil, à medida que a pandemia explode no país e ameaça a perspectiva de retomada econômica e de aprovação de reformas que aliviem a crise fiscal.

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O Morgan Stanley rebaixou a previsão de crescimento da economia brasileira de 4,3% para 3,5% em 2021, citando impactos justamente do agravamento da crise sanitária, além da persistente incerteza fiscal e, agora, inflacionária.

Com o rali desta sessão, o dólar zerou as perdas acumuladas desde a semana passada, quando o Banco Central surpreendeu o mercado ao elevar os juros em ritmo mais forte que o imaginado, subindo a taxa de 2% para 2,75% ao ano.

O dólar à vista fechou esta quarta cotado a 5,6380 reais na venda. A alta de 2,20% foi a mais forte desde 18 de setembro de 2020 (+2,77%).

Tripé negativo

Na avaliação de profissionais do banco britânico Barclays, o Brasil está hoje envolto na intensificação de três crises: (1) aceleração da pandemia, (2) deterioração de perspectivas de crescimento e (3) crescente risco de ruptura fiscal. Um fator adicional seria o ressurgimento do ex-presidente Lula na cena política.

O banco privado ainda vê chances de o real se apreciar no período de três a seis meses, mas estima que o alívio durará pouco, com a moeda voltando a sofrer no quarto trimestre à medida que discussões sobre o Orçamento de 2022 e o teto de gastos antes das eleições de 2022 ganhem tração. A previsão do banco é que o dólar feche 2021 em 5,50 reais.

"Existe um incômodo com [a questão] fiscal, a dívida e a pandemia em aceleração", disse Joaquim Kokudai, gestor na JPP Capital. "A percepção do estrangeiro em relação ao Brasil realmente está ruim", completou.

Evidência disso, segundo o gestor, foi mais um dia de salto nas taxas de juros dos contratos de DI da B3, que chegaram ao fim da tarde em altas de até 30 pontos-base -- o equivalente a 0,3 ponto percentual.

A inclinação entre os DIs de janeiro 2027 e de janeiro 2023 -- uma medida de percepção de risco -- saltou a 212,5 pontos-base nesta quarta. Trata-se de uma diferença bem acima dos 201 pontos-base da terça e bem acima do nível de 170 pontos-base do dia 18 de março, quando o prêmio de risco na curva caiu após o BC elevar inesperadamente a Selic.

Mesmo o Ibovespa, que resistiu em alta durante boa parte da sessão, acabou virando no fim da tarde para uma queda de 1,06% no fechamento.

Real volta a liderar perdas

O mal-estar no mercado brasileiro também teve componente externo, já que as bolsas em Nova York caíram e o dólar subiu frente a uma cesta de rivais, mas a intensidade das perdas aqui voltou a ser maior.

O real teve, de longe, o pior desempenho no mundo nesta quarta, e o Ibovespa contrariou o sinal positivo da maioria de seus pares latino-americanos.

Causou ruído a decisão do Ministério da Saúde de promover mudanças em registros de morte por Covid-19 -- ela foi suspensa posteriormente devido a pressão de governadores.

A tentativa de alteração pela pasta ocorreu no dia seguinte à divulgação de que o país contabilizou pela primeira vez mais de 3.000 mortos em 24 horas por Covid-19. O país superou nesta quarta a marca de 300 mil vítimas.

O Brasil é hoje o epicentro global da pandemia e tem causado preocupação entre autoridades de saúde e governos de todo o mundo devido à incapacidade de controlar a disseminação da doença.

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