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2010: o ano da queda livre da Positivo na bolsa

Mesmo com o consumo de tecnologia e eletrônicos liderando vendas, a empresa sofre com a queda de mais de 50% no valor de suas ações

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2010 às 10h30.

São Paulo - O ano de 2010 foi cruel para as ações da Positivo. De janeiro até hoje, os papéis  (POSI3) se desvalorizaram 55,66%, ocupando um desonroso espaço no top cinco das maiores quedas da BM&FBovespa no período.

É difícil definir a dimensão das perdas da líder do mercado de tecnologia nacional. Ainda mais em um ano pautado por gadgets e consumo digital, impulsionado pelo crescimento do crédito e ancorado pela estabilidade macroeconômica. No entanto, os balanços da companhia mostraram números de crise, principalmente no terceiro trimestre: o lucro líquido despencou 74,1% em relação ao mesmo período de 2009, o Ebitda caiu 65,5% e as margens tombaram de 10,2 para 3,6%.

Com o mercado aquecido, o principal causador da turbulência contábil da companhia foi o acirramento da concorrência – a empresa perdeu fatia de mercado e sofreu com a guerra de preços e a agressividade de concorrentes internacionais como Dell, HP e mesmo a Apple.

Os papéis da Positivo já abriram janeiro no vermelho, mas foi o terceiro trimestre o estopim para a brutal desvalorização na bolsa. “Era notório o aumento da competição no segmento, mas a companhia conseguia manter uma performance comercial razoável. No terceiro tri veio o resultado absolutamente desastroso nas margens”, explica a analista de tecnologia Sandra Peres, da corretora Coinvalores.

Nesta quarta-feira, as ações fecharam cotadas a 9,60 reais – um grande tombo no valor de mercado desde o IPO em 2006, que teve ações negociadas a 23,50 reais. “O mercado puniu o papel e diminuiu sua crença na sustentabilidade das margens”, afirma  Carlos Nunes, estrategista do HSBC.  “É um case de investimento totalmente diferente uma empresa com margens na casa de 10 e de 3%”, diz Nunes.

Potencial de valorização?

Os analistas afirmam que a empresa pode reagir à má fase e tentar recuperar o espaço perdido. Uma vantagem estratégica a ser explorada é o potencial de vendas para o governo, na qual a empresa é líder nacional, diz Sandra Peres. “A companhia tem força nesse segmento e pode ter fortes ganhos oriundos dele em 2011”.

A Coinvalores atribuiu recomendação de manutenção para o papel e mantém seu preço alvo em revisão. “Como os papéis caíram muito, e o cenário econômico continua favorável, temos uma perspectiva otimista para o longo prazo”, afirma Sandra.  “A ação deve responder também aos esforços da companhia em melhorar eficiência operacional e diminuir custos e despesas, principalmente com garantia e assistência técnica”, completa.

Outra missão obrigatória é tentar estancar a queda nas margens de lucro. ”Isso representará um desafio no quarto trimestre, com o aumento sazonal de despesas para marketing e as promoções de Natal”, argumenta Nunes.

Em relatório recente, a corretora Ágora recomendou a compra das ações apostando num alto potencial de valorização dos papéis. “O upside é vantajoso dado o pobre desempenho recente das ações”, explicam  Luiz Azevedo e Rodrigo Santoro no relatório. O HSBC mantém preço alvo e recomendação para a empresa em revisão.

Rumo ao risco

No curto prazo, no entanto, o cenário continua nebuloso para as ações. Mais que isso -  o novo jogo de forças no setor a altera os fundamentos para a análise das empresas de tecnologia no Brasil, alerta Nunes. “Perde-se um pouco as referências dos últimos meses para o setor, que tem diminuída sua previsibilidade. É uma leitura totalmente diferente”. Ou seja, a Positivo torna-se uma ação de risco, com grande volatilidade pela frente.

Para acalmar os investidores, falta um posicionamento mais claro da empresa sobre a concorrência, diz o analista do HSBC. “Ela não deixou claro se o atual contexto é passageiro ou se é uma tendência de mercado”, afirma Nunes. “Falta uma sinalização mais direta sobre como a companhia vai lidar com essa nova realidade”.

Ambos os analistas aconselham os donos de papéis da empresa a aguardar novos números antes de calcular se a ação está cara ou barata e rever posições. “Quem ainda manteve ações ganha mais esperando e apostando no longo prazo”, diz Sandra Peres. Para Nunes, os próximos resultados devem dar maior luz ao comportamento futuro dos papéis. “Como o papel já teve uma depreciação muito forte, o impacto de alguma notícia positiva na cotação deve ser expressivo”, complementa.

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