Pedidos de cancelamento de registro de companhia aberta aumentam em 2016 (Thinkstock)
Anderson Figo
Publicado em 16 de abril de 2016 às 07h00.
Última atualização em 22 de dezembro de 2016 às 17h22.
São Paulo - A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão regulador do mercado de capitais no Brasil, analisa atualmente 14 pedidos de OPAs (Ofertas Públicas de Aquisição) para fechamento de capital. Outros dois já foram aceitos neste ano.
Se mantiver o ritmo, 2016 pode ser o ano com o maior número de ofertas desse tipo desde o início da série histórica disponível no site da CVM, em 2006. No ano passado, sete empresas deixaram de ser listadas na Bolsa brasileira. Em 2008, foram dez.
A própria CVM adotou recentemente medidas para facilitar a deslistagem de empresas da Bovespa, concedendo licenças a exigências para realizar a operação.
O motivo por trás disso, segundo analistas, é simples: a crise. A economia deve contrair mais de 3% neste ano, o desemprego se aproxima de dois dígitos e a inflação segue bem acima do teto da meta do governo, de 6,5%.
Em cenário de deterioração econômica, os preços das ações despencaram e continuam bem abaixo da média dos últimos anos, mesmo com o recente respiro do mercado acionário diante das apostas de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“As empresas estão avaliando os prós e os contras de permanecer na Bolsa”, diz Caio Weil Villares, presidente da Ancord (Associação Nacional das Corretoras). “Ser uma empresa de capital aberto envolve muitos custos.”
Entre eles estão os gastos com a montagem e manutenção do departamento de RI (Relações com Investidores), produção e divulgação de eventos societários e publicação de demonstrações financeiras, por exemplo.
Os custos compensam em um quadro de economia pujante, já que a procura pelas ações aumenta e, consequentemente, o valor de mercado das empresas fica maior. Mas na crise, isso pode se tornar um peso no orçamento debilitado das companhias.
“É por isso que vemos muitas empresas querendo sair da Bolsa, e nenhuma entrando”, afirma Roberto Indech, analista da corretora Rico. “Se elas conseguirem listar ações agora, vão captar muito menos recursos do que conseguiriam em um momento bom da economia.”
O último IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) realizado na Bovespa foi em 2015, quando a Par Corretora (PARC3) entrou no mercado brasileiro de ações. Foi o único IPO do ano. Em 2014 também houve apenas uma operação desse tipo, da Ouro Fino (OFSA3).
Oportunidade
Na avaliação do advogado especializado em mercado de capitais Marcelo Godke, do escritório Godke Silva & Rocha Advogados, o momento é propício para as empresas recomprarem “por um preço infímo aquilo que foi vendido caro”.
“Vamos fazer de conta que eu vendi um carro a você por R$ 30 mil. O valor de mercado real dele seria R$ 29 mil, mas por motivos econômicos ele está sendo negociado por R$ 18 mil. Eu julgo que o preço de negociação atual está baixo e, então, vou lá e recompro”, diz.
“É o que acontece com as empresas que querem sair da Bolsa. Isso é bastante comum em tempos de crise”, continua.
O advogado lembra que ninguém melhor do que a própria empresa para saber quanto realmente vale seus papéis, mas ressalta que a operação de fechamento de capital também envolve custos.
“É preciso pagar pelas ações, por isso a operação tende a ser feita por empresas que possuem caixa. É uma forma de aproveitar os recursos parados, já que não vale a pena investir na ampliação do negócio e da capacidade em um cenário de baixa demanda”, completa.
Veja as 16 empresas que estão dando adeus à Bolsa
OPAs registradas:
Arteris
Tempo Participações
OPAs em análise:
Marina de Iracema Park
Companhia Celg de Participações
Banco Daycoval
Vigor Alimentos
Manufatura de Brinquedos Estrela
Iguaçú Celulose e Papel
Mundial
Tereos Internacional
Unipar Carbocloro
Wembley Sociedade Anônima
Évora
Banco Sofisa
TecToy
Banco Indusval