Centro de distribuição de produtos do Mercado Livre no estado de São Paulo: ações continuam a se destacar em 12 meses (Mercado Livre/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 2 de março de 2021 às 06h15.
O Mercado Livre superou as expectativas do mercado com a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2020 na noite de segunda-feira, depois do fechamento do mercado. A gigante de tecnologia líder em e-commerce na América Latina registrou uma alta anual de 96,9% na receita líquida, ou seja, quase o dobro de 2019. O montante chegou a 1,33 bilhão de dólares, acima do 1,21 bilhão de dólares esperado pelo consenso de analistas ouvidos pela Bloomberg.
A régua estava alta, mas as expectativas também vinham fortes. Tanto que, no pregão antes da divulgação dos resultados, as ações do Mercado Livre tiveram alta de 4,59% na bolsa americana Nasdaq (MELI). Por aqui, o BDR que espelha o ativo do Mercado Livre (MELI34) subiu 4,56% nesta segunda-feira, 1º de março.
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A grande dúvida de investidores é avaliar se os dias de disparada das cotações na bolsa estão contados ou se as ações ainda podem subir (muito) mais.
“As ações do Mercado Livre tem muito espaço para decepção. O valuation da empresa é 12 vezes maior que o da Amazon, empresa líder do setor. Mesmo que o negócio continue crescendo, não vejo motivos para o papel continuar em alta”, afirma Bernardo Carneiro, CFA, analista de BDRs da EXAME Invest Pro.
Em relatório, o analista compara a valorização atual das gigantes de tecnologia com a bolha das empresas "pontocom" no fim da década de 1990, até o ano 2000. Na virada do século, muitos investidores ficaram obcecados com ações de marcas inovadoras e de rápido crescimento, se esquecendo de fundamentos do valuation, que pressupõe um pagamento a partir de resultados concretos.
Diferentemente das empresas que quebraram na bolha passada, o Mercado Livre é uma companhia robusta, que já teve seu modelo de negócio testado e aprovado por milhões de consumidores. A questão é que, por enquanto, a empresa está no vermelho. O prejuízo líquido foi de 50,6 milhões de reais no último trimestre de 2020.
A preferência atual da companhia é investir na expansão do negócio em detrimento do lucro. O Brasil, a propósito, deve receber um investimento de 10 bilhões de reais do Mercado Livre em 2021 para que a empresa fique ainda mais forte em seu principal mercado. É o chamado “growth investing”, segmento que aposta no crescimento futuro do negócio.
“Os papéis crescem em linha com o aumento da receita, não do lucro. Isso porque os investidores acreditam que, em algum momento, a companhia vai conseguir transformar essa receita em lucro efetivo”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, corretora que opera no mercado americano.
Para Alves, isso demonstra que as ações podem estar caras ou baratas dependendo da perspectiva.
“Os múltiplos de negociação do Mercado Livre são altos em comparação a empresas do setor, mas o mercado latino-americano de e-commerce tem um potencial gigantesco de crescimento. O que ainda não se sabe é em que medida o Mercado Livre vai conseguir participar dessa expansão e se esse crescimento vai efetivamente acontecer como se projeta”, afirma.
Um dos fatores que podem atrapalhar os planos da empresa de tecnologia é a ameaça de inflação nos Estados Unidos e o consequente aumento do rendimento dos títulos do Tesouro americano. A alta do juro dos Treasuries de longo prazo, em especial o que tem vencimento em 10 anos, significa uma elevação no custo de capital das empresas. Como têm seus lucros majoritariamente no futuro, as empresas de tecnologia são as que sofrem mais nesse cenário.
A ameaça derrubou os papéis do Mercado Livre em 14,25% no mercado americano na última semana. Ainda assim, a ação acumula alta de 178,12% na Nasdaq nos últimos 12 meses. Já o BDR da empresa (MELI34) tem alta acumulada de 256,52% no mesmo período.