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Marcio Appel, Adam Capital, convicções e o preço das escolhas

Os maiores gestores são pessoas com consagrada trajetória profissional, mas o que adquirimos ao investir é uma expectativa para o futuro

Painel de cotações de ações na B3: ano de queda para muitos ativos em 2021 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações de ações na B3: ano de queda para muitos ativos em 2021 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Juliana Machado*

Juliana Machado*

Publicado em 13 de dezembro de 2021 às 07h00.

Quem investe sabe que a decisão de aplicar recursos em um ou outro produto ou ativo implica necessariamente em ter uma tese e botar dinheiro nela. Como tudo na vida, a leitura pode estar correta e gerar lucros ou pode estar errada e gerar perdas. E, também como tudo na vida, investir é nada mais do que a extensão de se reconhecer na fase adulta da vida: você é responsável pelas escolhas que faz e arca com as consequências delas. Nada mais bonito do que a simplicidade da dureza, eu diria. E diria também que esse preâmbulo descreve bem todos aqueles que investem lado a lado de Marcio Appel, sócio e fundador da Adam Capital.

A dureza da vida também é a dureza dos homens e de tudo aquilo que eles criaram à sua imagem e semelhança, como o mercado financeiro – a Adam que o diga. Quem olha para o histórico total das três estratégias centrais da casa – Adam Macro, Adam Macro Strategy e Adam Advanced – certamente verá que os três produtos superam o CDI em intervalos comparáveis. De julho de 2017 até dezembro de 2021, o Adam Macro, talvez o mais conhecido (e acessível), registrou um retorno de 39,1%, o Adam Macro Strategy acumulou alta de 48,6%, e o Adam Advanced avançou 60,3%; para que se tenha base de comparação, a alta do CDI foi de 25,2% em igual intervalo.

A volatilidade dos fundos Macro e Macro Strategy gira entre 6% e 7%, enquanto o Advanced roda a 17%. São números controlados, mas, comparados ao retorno até o começo do quarto trimestre, reforçaram o descontentamento dos investidores. O estrago está feito: a frustração cresceu, os resgates se intensificaram. O investidor avaliou que tal retorno era apenas uma fração do histórico estelar do Safra Galileo, gerido por Appel por sete anos antes da fundação da Adam.

Logo aqui já lembramos que o investidor brasileiro precisa parar de comprar histórico. Os maiores gestores são pessoas com consagrada trajetória profissional, mas o que adquirimos ao investir é uma expectativa para o futuro. O passado é a informação de que dispomos para formar uma opinião a respeito do futuro potencial. Só. É por isso que o passado não promete ganhos – e quem se atém a isso para investir provavelmente terá mais momentos de tristeza do que de realizações, o grande objetivo de investir.

O último drawdown máximo dos fundos Adam, ou seja, o maior “mergulho” da cota máxima à sua mínima, foi marcado na segunda metade deste ano, entre julho e outubro, quando as três estratégias da casa amargavam retornos e despertavam a ira dos investidores. O Adam Advanced, produto de maior volatilidade da casa e com maior concentração internacional, chegou a perder 9% na queda máxima, enquanto os dois irmãos cederam algo como 4%.

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As escolhas, como falei, são duras e geram consequências, seja para quem decidiu investir com a Adam, seja para o próprio Marcio Appel, que efetivamente toma as decisões de investimento. Nos dois casos, o mercado premia aquele que é capaz de, antes de qualquer coisa, manter a sua coerência e a sua consistência em posições mais sobreviventes do que vencedoras. Gera um sabor amargo no processo, mas é do jogo.

Appel é bastante assertivo na opinião sobre o Brasil: negativa, com pouco viés de ganho, com pouca esperança de melhora. Uma mensagem dura. “A gente voltou para a estaca zero, num Brasil que vai continuar sendo mediano”, começa o gestor, durante o último podcast Fundos em Foco.

“O mesmo Congresso que impede que a gente colapse também impede que a gente deslanche e tenha um patamar de crescimento muito acima do que já tivemos historicamente. A esperança é só que a gente não vai colapsar, é o máximo que podemos esperar. Independentemente de quem será o próximo presidente, será difícil mudar de forma significativa a estrutura econômica para alavancar o crescimento.”

Essa visão tão dura afastou a Adam de ativos brasileiros, com posições locais resumidas na curva de juros ou em Petrobras e Vale, por exemplo. Toda convicção tem uma consequência – e Appel arcou com ela. Assim como arcam com suas próprias decisões os investidores que decidiram acompanhá-lo, sejam os que depois embolsaram prejuízo solicitando resgates, sejam os que seguraram o amargor para aproveitar o alívio de fim de ano: em 2021 até 8/12, o Adam Macro sobe 2,46%, o Macro Strategy avança 5,09%, e o Adam Advanced ganha 0,73%. O CDI sobe 3,79% no mesmo período. O Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), que mede o retorno médio da indústria de multimercados brasileiros, avança 1,82% no intervalo.

O investidor que está desde o começo na gestora Adam tomou uma decisão. O investidor que saiu no pior momento, idem. O investidor que seguiu até agora, também. Mais do que tentar saber qual a decisão certa ou a errada, um status tão relativo, é melhor começarmos a procurar, como investidores e investidoras, qual é a decisão que somos capazes de bancar e cujas consequências somos capazes de assumir.

Para ouvir a entrevista completa com o gestor, acesse o podcast no Spotify aqui, ou ainda em Google e Apple.

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a EXAME Invest quinzenalmente.

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