(Germano Lüders/Exame)
Bianca Alvarenga
Publicado em 23 de janeiro de 2021 às 06h23.
Apesar da chegada da tão esperada vacina, ainda não se sabe quando a pandemia do coronavírus vai acabar. Mas na visão de Fernando Didziakas, sócio diretor da Buildings, empresa de pesquisa do mercado imobiliário, o horizonte para os fundos de investimento imobiliário (FIIs) começa a ficar mais claro.
Ele conta que a taxa de desocupação dos escritórios aumentou durante a pandemia, em razão da diminuição da demanda e da devolução de espaços. Por outro lado, as empresas perceberam que o ambiente físico não é dispensável, e o modelo híbrido (uma mistura de home office com trabalho presencial) será o mais adotado em 2021.
Didziakas participou nesta sexta-feira, 22, do programa FIIs em EXAME ao lado do professor Arthur Vieira de Moraes, da EXAME Research. "São raríssimas as empresas que estão dizendo que vão aderir 100% ao regime remoto e que vão abrir mão de ter uma operação de escritório. Uma vez superada a crise de saúde, o novo normal tende a ser mais parecido com o antigo normal do que com o que estão dizendo por aí", diz o diretor da Buildings.
Antes de a pandemia do coronavírus chegar, a cidade de São Paulo, onde está a maioria dos ativos de FIIs, tinha uma vacância de apenas 11% no chamado mercado de classe A, o de prédios corporativos de alto padrão. Nos bairros centrais essa taxa era de 6%, chegando a 2,7% em regiões disputadíssimas, como a Faria Lima.
Didziakas disse que o preço dos alugueis começam a mudar quando a vacância chega aos 10%. Se a taxa fica acima disso, há uma preção pela redução das mensalidades. Se fica abaixo, os contratos podem subir. É por isso que a vacância é um indicador importante para avaliar o potencial de pagamento de dividendos de um FII de tijolo.
O cenário de alta ocupação começou a mudar em março, quando a demanda por espaços novos despencou e algumas empresas passaram a devolver os espaços locados para reduzir custos. Mas o pior momento parece ter ficado no terceiro trimestre de 2020, quando a absorção líquida (como é chamada a diferença entre o volume locado e vago) foi negativa e recorde.
"No quarto trimestre ainda houve um volume de devoluções, mas menor. A nossa expectativa para o primeiro semestre de 2021 é ainda uma taxa de absorção negativa, mas a depender de como as coisas caminharão para o segundo semestre, considerando a distribuição de vacinas e a própria retomada do PIB, pode ser que voltemos a ter dados positivos, principalmente no mercado classe A", prevê o diretor da Buildings.
O especialista pondera que a situação na cidade do Rio de Janeiro é pior do que em São Paulo. O mercado carioca chegou a ter uma taxa de vacância de 50% em 2017, mas viu uma melhora gradual desde então, chegando a uma vacância de 38% antes da pandemia -- um número ainda considerado alto.
"Esperamos que o maior efeito negativo de devoluções de escritórios no Rio aconteça agora, em 2021. Observamos que o mercado carioca leva 6 meses para refletir o que acontece em São Paulo, então o pior momento para o Rio de Janeiro ainda será visto", diz Didziakas.
Entender as perspectivas de vacância para os ativos é um passo essencial para quem investe em fundos imobiliários, especialmente os de tijolos. "Quando o investidor compra uma cota, ele passa a deter a menor parte do patrimônio do fundo. É essencial que ele, antes de qualquer coisa, entenda o que é aquele patrimônio e quais ativos estão contidos no FII", aconselha o professor Moraes, da EXAME Research.
O gestor da buildings corrobora essa visão e cita o exemplo do mercado de São Paulo. Um edifício considerado de classe B ou C (prédios mais antigos) bem localizado tem menos chances de ficar vago do que um edifício de classe A em um bairro menos demandado. "O investidor em FII compra uma cota, mas lá atrás ele está comprando tijolo", lembra Didziakas.
Os ativos imobiliários logísticos estão na contramão dos escritórios. Durante a pandemia, o crescimento do e-commerce causou um avanço forte nos fundos de galpões.
"Só as gigantes do setor (Mercado Livre, Amazon e Magazine Luiza) fizeram mais de 30 novas locações em 2020. O mercado logístico, que já vinha em uma crescente forte, não só parece não ter sentido o impacto da pandemia, como cresceu ainda mais nesse período", observa o diretor da Buildings.
A taxa de vacância do segmento, que já foi de 25%, caiu para 13%, e a absorção líquida foi recorde no quarto trimestre de 2020. Arthur Moraes, da EXAME Research, lembra que os fundos imobiliários captaram quase 30 bilhões de reais no ano passado e que a maior parte desses recursos foi para o segmento logístico.
Os especialistas ponderam que o crescimento relâmpago do setor deve motivar a construção de novos galpões, o que pode aumentar a oferta de espaço e, consequentemente, a vacância dos ativos logísticos. "Se considerarmos os projetos que podem, um dia, ser tocados, o estoque de espaço do setor logístico pode praticamente dobrar e em um período relativamente rápido", diz o diretor da Buildings.
Assista ao programa na íntegra abaixo: