O mercado tenta antever o que vai acontecer no futuro e coloca os cenários que entende como mais prováveis nos preços | Foto: Amanda Perobelli/Reuters (Amanda Perobelli/Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2022 às 09h41.
Formou-se um consenso segundo o qual 2022 será uma guerra, pois a polarização política está infernal e deve apenas se intensificar até as eleições de outubro.
As eleições polarizadas do passado sempre trouxeram volatilidade aos mercados. Por que com este processo eleitoral seria diferente? Esta eleição seria polarizada, como todas as eleições costumam ser, mas de um jeito distinto?
Todavia, como é de praxe, todo consenso de mercado sobre o futuro é sempre antecipado, de tal sorte a produzir efeitos imediatos e trazer para o presente o que já se toma como certo para frente.
O futuro está no preço.
Segue-se desse raciocínio que o pior de 2022, por causa dos radicalismos e das incertezas sobre a economia, já está acontecendo. Não apenas bem antes do fato, mas também sem a certeza de que vai ser assim mesmo.
Muitos futuros idealizados só vão existir no terreno do pretérito. É o que se negocia nos mercados de derivativos.
É possível que 2022 seja muito diferente do que se imagina. Na verdade, a experiência tende a mostrar que o amanhã é quase sempre diferente do que se projeta hoje, uma vez que o futuro tem por ofício ser incerto. As certezas pessimistas sobre o futuro podem não se confirmar. Como, aliás, é comum com as outras certezas sobre o porvir.
O futuro próximo, vale dizer 2022, parecia especialmente complexo quando observado do segundo semestre de 2021, daí: (i) o câmbio excessivamente depreciado; (ii) a inflação no pico; (iii) a curva de juros empinada; (iv) a bolsa descontada; e (v) os fundos imobiliários com preços abaixo do valor patrimonial dos imóveis.
O chamado “kit Brasil” sofreu o que costuma sofrer em épocas de eleições difíceis, mas no ano anterior, em 2021. A pandemia desarrumou as noções de tempo, como se sabe.
Mas o que nos aguarda em 2022?
Vão se confirmar os prognósticos? Vão se justificar os preparativos para o Apocalipse?
O que vier de notícia ruim, muitos dirão que já estava no preço. E as notícias boas serão todas tomadas como surpresas.
Não olhe para 2022. Talvez já tenha passado.
*Gustavo Franco é sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos e ex-presidente do Banco Central do Brasil. Este artigo faz parte da Carta Estratégias de janeiro, relatório mensal distribuído pela Rio Bravo a seus clientes e reproduzido com exclusividade pela EXAME Invest.