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Risco idiossincrático: o que é e como reduzir com diversificação

Entenda por que eventos específicos de uma empresa afetam seu portfólio e como a diversificação inteligente dilui esse risco sem abrir mão do retorno esperado

A diversificação de investimentos funciona porque empresas diferentes enfrentam desafios distintos em momentos variados. (Ilker Celik/Getty Images)

A diversificação de investimentos funciona porque empresas diferentes enfrentam desafios distintos em momentos variados. (Ilker Celik/Getty Images)

Luanda Moraes
Luanda Moraes

Colaboradora

Publicado em 30 de setembro de 2025 às 11h34.

Todo investidor sabe que o mercado financeiro envolve riscos. O que poucos compreendem é que uma parcela significativa desses riscos pode ser eliminada da carteira sem grandes esforços. Trata-se do risco idiossincrático, aquele que afeta empresas ou setores específicos e que, ao contrário do risco sistêmico, não precisa ser aceito como inevitável.

O primeiro passo começa pela distinção entre ambos, fundamental para quem busca proteger seu patrimônio. Enquanto o risco de mercado atinge todos os investidores de forma indiscriminada, o idiossincrático pode ser mitigado com a diversificação — que, segundo alguns estudos, pode ser capaz de neutralizar quase completamente esse tipo de risco. Abaixo, veja como e o que considerar antes de aplicar essa estratégia.

O que é risco idiossincrático?

O termo idiossincrático, que deriva do grego e significa "característica peculiar", no mercado financeiro, refere-se aos riscos exclusivos de uma empresa ou setor específico. É um tipo de risco que, diferentemente das oscilações gerais do mercado, pode ser completamente eliminado através da diversificação adequada da carteira.

Esses riscos surgem de fatores internos ou circunstâncias específicas que afetam apenas determinadas empresas. Uma greve prolongada em uma fábrica, um recall de produtos que compromete a reputação da marca, ou mudanças regulatórias que atingem apenas determinado segmento são exemplos clássicos desse tipo de evento.

Na Teoria Moderna de Portfólios, desenvolvida por Harry Markowitz, o risco idiossincrático é a parcela da volatilidade que não está correlacionada com os movimentos gerais do mercado. Em termos gerais, é aquela variação no preço de uma ação que ocorre independentemente do que acontece com o Ibovespa ou outros índices amplos.

Como ele funciona nos investimentos

O funcionamento do risco idiossincrático nos investimentos segue uma lógica matemática que se traduz em resultados práticos consideráveis. Quando um investidor mantém todo seu capital em uma única empresa, fica exposto integralmente aos problemas específicos daquele negócio, sejam eles operacionais, financeiros ou estratégicos.

À medida que novos ativos são adicionados à carteira, especialmente de setores diferentes, o cenário muda. Os problemas específicos de cada empresa, que antes podiam devastar o patrimônio, passam a representar parcelas cada vez menores do resultado total. Uma empresa pode enfrentar dificuldades de liquidez enquanto outra experimenta crescimento excepcional, criando compensações naturais.

No contexto brasileiro, onde o Ibovespa conta com forte concentração em setores como commodities e financeiro, a gestão de risco requer uma atenção adicional, já que, mesmo uma carteira com várias ações pode manter uma exposição elevada a riscos setoriais se todas as empresas escolhidas pertencerem a segmentos correlacionados. Portanto, a verdadeira diversificação exige não apenas quantidade, mas também variedade setorial e geográfica.

Diferença entre risco idiossincrático e sistêmico

Enquanto o risco idiossincrático afeta empresas ou setores isoladamente, o risco sistêmico atinge o mercado como um todo de forma simultânea. Essa distinção fundamental determina as estratégias possíveis de proteção para cada tipo de exposição.

É importante ressaltar que a característica mais importante que diferencia esses riscos é a diversificabilidade. O risco idiossincrático, por ser específico, diminui rapidamente conforme novos ativos não correlacionados são adicionados à carteira. Estudos empíricos demonstram que com 20 a 30 empresas bem selecionadas, esse tipo de risco se aproxima de zero.

Já o risco sistêmico, que surge de fatores macroeconômicos como crises de crédito ou mudanças nas taxas de juros, permanece presente independentemente do número de ativos na carteira.

Para mensurar esses riscos, o mercado utiliza ferramentas distintas. O beta mede a sensibilidade de um ativo aos movimentos gerais do mercado, capturando o risco sistêmico. Por outro lado, o risco idiossincrático aparece como variância residual nas análises estatísticas, representando as oscilações que não podem ser explicadas pelos fatores de mercado.

Por que a diversificação é importante para reduzir riscos

A diversificação de investimentos funciona porque empresas diferentes enfrentam desafios distintos em momentos variados. Essa não sincronização de problemas e oportunidades cria um efeito de compensação que reduz drasticamente a volatilidade total da carteira.

Quando uma empresa varejista, que depende do consumo doméstico, enfrenta queda nas vendas devido a uma recessão localizada, uma exportadora pode estar se beneficiando da desvalorização cambial. Enquanto bancos sofrem com inadimplência crescente, empresas de tecnologia podem estar capturando novos mercados. Essa dinâmica de compensações naturais é o que torna a diversificação uma estratégia tão fundamental.

Além disso, a diversificação não se limita apenas à quantidade de ações. A combinação de diferentes classes de ativos, como renda fixa, fundos imobiliários e até exposição internacional através de BDRs, cria camadas adicionais de proteção. Cada classe responde de forma diferente a condições econômicas variadas, o que contribui para estabilizar retornos ao longo do tempo.

Vale ressaltar que diversificar adequadamente não significa simplesmente acumular ativos aleatoriamente. A seleção criteriosa de empresas sólidas em setores variados, combinada com análise fundamentalista, garante que a redução de risco não venha acompanhada de sacrifício excessivo de retorno. Os famosos ETFs, que já oferecem diversificação instantânea ao replicar índices amplos, são uma alternativa interessante para investidores que buscam simplicidade.

Por fim, em um ambiente como o brasileiro, onde fatores políticos e econômicos podem afetar empresas de forma imprevisível, manter uma carteira bem diversificada não é apenas recomendável, mas essencial para a preservação e crescimento do patrimônio.

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