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Redação Exame
Publicado em 12 de janeiro de 2023 às 22h13.
Última atualização em 6 de outubro de 2023 às 15h45.
Existe uma modalidade de crédito que pode ser oferecida pelas empresas, em conjunto com bancos e instituições financeiras, aos seus fornecedores de produtos e serviços. No entanto, ela acaba sendo pouco conhecida por muitos empresários. Essa operação é conhecida como risco sacado.
Sendo assim, é muito importante entender o que é risco sacado e como ele funciona, já que essa modalidade, quando executada de forma correta, pode oferecer vários benefícios que facilitam o fechamento de um acordo comercial.
O risco sacado, também chamado de “forfait”, é um serviço oferecido por bancos e também uma prática realizada por empresas, tratando-se de uma modalidade de antecipação de recebíveis.
O risco sacado pode ser oferecido por bancos, instituições financeiras ou ser realizado pela empresa que está contratando um serviço ou adquirindo determinado produto de um fornecedor. Essa operação é bastante comum entre empresas do setor de varejo, por exemplo.
Em 2016, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu um documento orientativo que estabelecia diretrizes para transações de risco sacado.
A exigência era de que as empresas divulgasse em notas explicativas casos em que essas transações tivessem prazos de pagamento mais longos do que o usual.
Isso ocorreria quando a empresa obtivesse um benefício de capital de giro ao estender o prazo original de compra com o fornecedor devido ao risco sacado, permitindo a antecipação dos recursos pelo fornecedor, se desejado.
No entanto, não havia uma obrigatoriedade explícita de classificar essas transações como endividamento na contabilização do risco sacado.
Ou seja: na prática, muitas empresas não informam o montante do risco sacado em seus registros de fornecedores, o que pode levar os investidores a cometerem erros durante a análise financeira, subestimando as obrigações financeiras da empresa.
A partir de 2024, para fazer uma operação risco sacado, as empresas estarão sujeitas a novas diretrizes de divulgação das transações de Risco Sacado, que devem ser incluídas como anexos em suas demonstrações financeiras.
Esses anexos devem conter algumas informações, como os termos e condições das transações realizadas com fornecedores e o impacto do Risco Sacado nos fluxos de caixa do balanço financeiro.
Além disso, a demonstração contábil da empresa deve dar detalhes das operações contratadas, incluindo prazos de pagamento, impactos não monetários e possíveis riscos de liquidez.
Por fim, vale ressaltar que essa exigência se aplica apenas às demonstrações financeiras anuais e não aos relatórios trimestrais.
O risco sacado funciona da seguinte forma: uma empresa recebe os produtos de seu fornecedor ou a execução dos seus serviços de forma antecipada ao pagamento. Assim, o valor e as formas de pagamento são acordadas entre as partes de forma prévia.
Nessa operação, o fornecedor realiza a emissão de uma fatura com um prazo a ser financiado por um banco ou instituição financeira autorizada a oferecer essa modalidade, ou seja, o banco credor do risco sacado.
No entanto, o valor de venda não é considerado pelo fornecedor em sua contabilidade quando essa operação é feita. Da mesma forma, a empresa que está pagando de forma antecipada também não reconhece o valor de saída em seu passivo oneroso.
Ao invés de considerar como “passivo oneroso”, a empresa coloca o valor do montante pago como passivo de “fornecedores”.
Uma das principais vantagens do risco sacado é que a empresa compradora/contratante tem a possibilidade de aumentar os prazos de pagamento, enquanto consegue ter mais tempo para organizar suas finanças e seu fluxo de caixa.
Além disso, trata-se de uma operação de crédito que possui garantia do banco e da empresa, assim como taxas menos custosas para as companhias.
Assim, as empresas conseguem estar em dia com seus fornecedores, ao mesmo tempo que continuam com recursos em caixa para dar prosseguimento ao negócio.
Para o fornecedor, a vantagem está em antecipar o fechamento do negócio e ter uma garantia de que o valor será recebido.
A operação é isenta de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e gera outras vantagens no âmbito fiscal.
Quando se trata de entender como funciona risco sacado, é preciso detalhar também as suas desvantagens. Primeiro, pode levar a um aumento do custo de financiamento, pois os credores exigem taxas de juros mais altas devido à incerteza do pagamento.
Além disso, pode causar estresse financeiro e falta de liquidez para a empresa, dificultando a realização de investimentos e o cumprimento de obrigações – e, consequentemente, aumentando sua dívida líquida.
O risco sacado também pode afetar a reputação da empresa, tornando-a menos confiável para futuras transações comerciais.
O risco sacado pode fornecer uma quantia significativa para que os fornecedores que não possuem capital de giro adequado ou precisam de fundos imediatos. No entanto, embora a estratégia tenha várias vantagens, é fundamental examinar os requisitos únicos de cada transação comercial e a possível influência nas operações.
Assim, algumas das 7 desvantagens do risco sacado são:
O risco sacado é geralmente apropriado para transações comerciais de médio a longo prazo que utilizam instrumentos de dívida, como letras de câmbio ou notas promissórias. Desse modo, pode não ser adequado para acordos comerciais de curto prazo ou pequenos acordos, caso outras soluções financeiras estiverem disponíveis.
O risco sacado incorre em diversas taxas e despesas, incluindo taxas de desconto, taxas de manuseio e despesas administrativas. Estes encargos podem ser significativos em comparação com opções de financiamento alternativas, afetando a rentabilidade total do fornecedor.
O risco sacado tem alcance de mercado limitado porque é empregado principalmente no comércio internacional, focado em transações entre fornecedores e empresas de diversas nações. Se o mercado primário de um fornecedor for o mercado interno, as oportunidades de risco sacado podem ser restringidas.
As transações do risco sacado exigem vários documentos, incluindo faturas, letras de câmbio e outros instrumentos legais. O fornecedor deve garantir que a documentação relevante esteja em vigor, o que pode levar tempo e exigir conhecimentos jurídicos.
Uma vez perdidas as contas a receber de exportação, as opções de gestão da dívida do fornecedor são limitadas, ou seja, sem o controle sobre os recebíveis, impossibilidade de alteração das condições ou falta de negociação com os clientes.
O risco sacado pode influenciar as relações com os clientes, uma vez que o fornecedor passa a autoridade para cobrar o pagamento à instituição financeira. Desse modo, algumas empresas contratantes podem preferir relações diretas com os fornecedores e hesitar em envolver-se em acordos de risco sacado.
O sucesso de uma transação de risco sacado depende fortemente da qualidade de crédito da empresa contratante. Suponha que a empresa não pague ou enfrente dificuldades financeiras. Nesse caso, o fornecedor pode ter dificuldade em obter o montante total das contas a receber por meio do risco sacado.
Além disso, algumas empresas arriscam se tornarem demasiadas dependentes do risco sacado. Isto pode levar a um plano financeiro que depende apenas de um tipo de credor ou fonte monetária, o que nem sempre é uma boa estratégia.
Existem diversos exemplos de risco sacado no qual as empresas conseguiram se utilizar das diversas vantagens dessa modalidade. Apesar disso, essa operação de crédito também ganhou notoriedade em casos que não tiveram um fim tão agradável para certas companhias, como o da Americanas.
No dia 11 de janeiro de 2023, a empresa anunciou ao mercado que havia constatado “inconsistências contábeis” na ordem de R$ 20 bilhões.
As operações de risco sacado da Americanas não constavam no balanço trimestral da companhia. Assim, elas não eram divulgadas ao mercado como “dívidas”, mas como uma conta de fornecedores.
Já os juros que seriam pagos ao banco eram contabilizados como redução na conta de fornecedores e não como uma despesa financeira da empresa varejista.
Assim, a empresa acumulou uma dívida bilionária com seus fornecedores que não era de conhecimento do mercado financeiro e dos investidores.
Após o ocorrido, as ações da Americanas, negociadas na Bolsa de Valores brasileira (B3) com o ticker AMER3, “derreteram” 77,33% na sessão do dia 12 de janeiro de 2023, sendo este um dos grandes marcos da história do mercado financeiro do Brasil.
Entendendo mais profundamente o que é risco sacado, fica claro que é um processo que envolve uma série de etapas. Primeiro, é necessário identificar as empresas ou clientes com os quais você deseja realizar transações comerciais.
Em seguida, é preciso avaliar o risco de crédito dessas entidades, considerando fatores como histórico de pagamento, situação financeira, análise de mercado, dívida bruta e outros indicadores importantes. Após essa análise, pode-se decidir contratar uma seguradora de crédito para cobrir o risco sacado.
A seguradora fornecerá uma avaliação de crédito e, se aprovada, emitirá uma apólice de seguro que protegerá contra o não pagamento das dívidas por parte dos clientes.
Por fim, é importante ler e entender os termos e condições da apólice antes de finalizar o contrato. Ao contratar o risco sacado, o contratante transfere parte do risco para a seguradora, aumentando a segurança financeira e protegendo sua empresa contra inadimplências.
Um fornecedor pode querer aliviar a pressão sobre o seu fluxo de caixa recebendo o pagamento imediato por contas a receber de médio ou longo prazo, ou seja, o montante devido pelo importador pelos bens exportados.
Com isso, o fornecedor abordará uma instituição financeira especialista em financiamento comercial. A instituição financeira compra os recebíveis com desconto e assim evita qualquer atraso no pagamento. O importador pagará então o valor total das contas a receber à instituição financeira.
Em outras palavras, a empresa contratante arca com o custo do risco sacado, e as instituições financeiras deduzem os custos do valor pago ao fornecedor.
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