Em tempos de alta volatilidade e excesso de informação, pensar com a própria cabeça é mais do que uma virtude: é uma estratégia de sobrevivência no mercado (AdobeStock)
Publicado em 26 de maio de 2025 às 14h48.
Um boato corre em grupos de investidores e, em minutos, milhares de pessoas começam a comprar a mesma ação, mesmo sem entender o porquê. Esse é o retrato clássico do chamado “efeito manada”, um comportamento tão antigo quanto os mercados, mas cada vez mais amplificado por redes sociais e plataformas digitais.
O termo define o comportamento coletivo de investidores que, diante de uma tendência percebida, passam a tomar decisões iguais — geralmente comprar ou vender ativos — sem avaliar com profundidade os fundamentos por trás daquela movimentação.
Essa atitude é motivada por emoções como medo, ganância e insegurança, além da chamada FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar de fora). Ao ver uma maioria agindo de determinada forma, o investidor sente que precisa fazer o mesmo para não perder uma oportunidade — ainda que isso o leve a escolhas incompatíveis com seu perfil ou estratégia.
Na prática, o efeito manada alimenta ciclos de alta e baixa exagerados. Compras em massa inflacionam artificialmente o preço de ativos, enquanto vendas coletivas geram quedas abruptas e prejuízos generalizados. É assim que se formam bolhas financeiras — como a das “pontocom”, nos anos 2000, ou a do mercado imobiliário norte-americano em 2008.
Outro risco comum é o desalinhamento com o perfil de risco do investidor. Movido pelo impulso, ele entra em ativos voláteis, sem entender os riscos, e abandona seu plano financeiro de longo prazo. Isso gera desconforto, decisões emocionais e perdas.
Ao contrário de outros vieses comportamentais, o efeito manada tem base na dinâmica social. O investidor se sente mais seguro ao agir como a maioria, mesmo que essa escolha não faça sentido racional. É o instinto de pertencimento substituindo a análise individual.
O cenário atual amplia esse fenômeno: fóruns de discussão, influencers financeiros e plataformas de negociação facilitam a propagação de tendências em tempo real. O resultado é uma reação em cadeia que pode arrastar mesmo os mais cautelosos.
Manter-se fiel a uma estratégia pessoal, baseada em análise e objetivos concretos, protege o investidor de perdas por modismos passageiros. Isso permite tomadas de decisão mais conscientes e alinhadas ao longo prazo, além de reduzir o estresse emocional.
Quem resiste ao efeito manada costuma aproveitar oportunidades fora do radar da maioria e evita entrar em bolhas especulativas. É o investidor que compra com fundamento, não por empolgação.
Para não ser mais um na manada, o primeiro passo é a educação financeira. Entender o mercado, seus ciclos e armadilhas reduz a influência de emoções sobre decisões de investimento.
Também é essencial desenvolver autocontrole emocional e disciplina. Ter um plano de investimentos, diversificar os ativos e respeitar o próprio perfil de risco são atitudes que funcionam como antídoto contra o contágio coletivo.
Outro recurso valioso é contar com o apoio de profissionais de confiança, que ajudem a interpretar dados e evitar decisões precipitadas. Questionar tendências, mesmo as mais populares, é uma habilidade que diferencia o investidor consistente do impulsivo.