A execução acontece através da bolsa de valores, com a empresa comprando suas ações como qualquer outro investidor, respeitando os preços de mercado. (iStock/Getty Images)
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Publicado em 28 de setembro de 2025 às 12h00.
O mercado de ações brasileiro vive um momento histórico de recompra de ações, com 126 programas aprovados pela B3 em 2024, envolvendo 4,8 bilhões de papéis — números recordes que mostram como as empresas estão apostando nessa estratégia para sinalizar confiança em seus próprios negócios.
Conhecida no mercado como buyback, essa estratégia pode parecer contraditória à primeira vista. Afinal, por que uma empresa gastaria dinheiro comprando algo que ela mesma emitiu? A resposta está em uma combinação de fatores que vão desde a sinalização de otimismo até a otimização da estrutura financeira, com impactos diretos no bolso do investidor.
De maneira geral, a recompra de ações pode ser explicada como uma operação em que a empresa usa seu próprio caixa para comprar ações que estão circulando na bolsa. É como se a companhia se tornasse investidora de si mesma, adquirindo papéis que podem ser guardados em tesouraria ou simplesmente cancelados.
Outro ponto importante é que quando uma empresa faz buyback, ela reduz o número de ações disponíveis no mercado. Sendo assim, imagine uma pizza dividida em oito fatias que passa a ser dividida em apenas seis pedaços maiores. Cada acionista que permanece com suas ações acaba ficando com uma participação proporcionalmente maior na empresa, sem precisar investir um real a mais.
A operação é regulamentada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) através de regras rígidas que limitam o volume a 10% das ações em circulação e estabelecem prazos máximos de 18 meses para ações ordinárias. Essas normas existem para evitar manipulação de mercado e garantir transparência para todos os investidores.
Quando uma empresa anuncia um programa de recompra, ela está basicamente dizendo ao mercado que acredita tanto em seu futuro que prefere investir em si mesma do que em outras oportunidades. É um voto de confiança que geralmente anima investidores e analistas.
Com menos papéis circulando, o lucro da empresa é dividido entre menos ações, aumentando o lucro por ação (LPA). Se uma companhia tem lucro de R$ 100 milhões e 10 milhões de ações, cada papel representa R$ 10 de lucro. Se ela recompra 1 milhão de ações, o mesmo lucro agora vale R$ 11,11 por papel, uma valorização de mais de 11%.
Algumas empresas preferem recomprar ações a distribuir dividendos, especialmente quando há vantagens tributárias. No Brasil, ganhos de capital até R$ 20 mil por mês são isentos de imposto para pessoa física, enquanto dividendos de algumas empresas podem ter tributação diferente.
As ações recompradas podem ficar guardadas em tesouraria para serem usadas em programas de stock options para funcionários ou como moeda de troca em futuras aquisições. É uma forma de ter munição para oportunidades futuras sem precisar emitir novas ações.
O principal efeito positivo é a possível valorização das ações. Com menos papéis no mercado e o mesmo valor de empresa, cada ação passa a valer mais. Além disso, o anúncio de recompra geralmente gera um movimento de alta no curto prazo, já que sinaliza otimismo da gestão.
Quem mantém suas ações durante um programa de recompra acaba ficando com uma fatia maior da empresa. É como se o acionista ganhasse participação adicional sem precisar comprar mais papéis, um benefício importante para quem pensa em investimentos de longo prazo.
Por outro lado, menos ações circulando pode significar menor liquidez no mercado. Para o pequeno investidor isso raramente é um problema, mas grandes investidores institucionais podem encontrar dificuldade para comprar ou vender grandes lotes sem impactar o preço.
Nem toda recompra é positiva. Se a empresa usa recursos que seriam melhor aproveitados em expansão ou inovação, o buyback pode prejudicar o crescimento futuro. É importante avaliar se a companhia tem saúde financeira para fazer a recompra sem comprometer investimentos essenciais.
O processo de recompra de ações, na prática, segue uma sequência bem definida. Primeiro, o conselho de administração aprova o programa, estabelecendo volume, prazo e condições. Em seguida, a empresa faz uma publicação informando todos os detalhes ao mercado, garantindo transparência para investidores.
A execução acontece através da bolsa de valores, com a empresa comprando suas ações como qualquer outro investidor, respeitando os preços de mercado. As empresas não podem manipular cotações nem comprar em períodos vedados, como próximo à divulgação de resultados.
Por fim, as ações compradas podem ter dois destinos diferentes. Algumas ficam em tesouraria, como uma espécie de poupança que a empresa pode usar no futuro para diversas finalidades. Outras são simplesmente canceladas, reduzindo permanentemente o capital social da companhia.
Vale lembrar que todo esse processo é acompanhado de perto pela CVM e deve respeitar limites rígidos. A empresa precisa manter liquidez suficiente para suas operações e não pode comprometer sua saúde financeira, garantindo proteção aos acionistas minoritários e credores.