Em tempos de Selic alta, o ideal pode ser aumentar a proporção de renda fixa, mas sem abandonar completamente as oportunidades que surgem no mercado de ações. (Gajus/Thinkstock)
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Publicado em 20 de agosto de 2025 às 17h48.
Com a Selic estacionada em 15% ao ano e promessa de permanecer nesse patamar por um período prolongado, investidores se veem diante de um dilema clássico: apostar na segurança da renda fixa ou arriscar na renda variável? A resposta, como quase tudo no mundo dos investimentos, depende de uma combinação de fatores que vão além dos números.
Se antes era preciso correr riscos para conseguir retornos interessantes, hoje um simples título do governo paga rentabilidade de dois dígitos sem sobressaltos. Mas será que isso significa abandonar completamente as ações? Entender o que está em jogo é o primeiro passo para uma boa estratégia.
A Selic, sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, funciona como o termômetro da economia brasileira. Taxa básica de juros definida pelo Banco Central, ela influencia desde o financiamento da casa própria até o rendimento da poupança. Quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne a cada 45 dias, todo o mercado financeiro se mobiliza para acompanhar.
Na prática, a Selic serve como ferramenta principal para controlar a inflação. Funciona assim: quando os preços sobem demais, o Banco Central aumenta os juros para esfriar a economia. Com o dinheiro mais caro, pessoas e empresas consomem menos, reduzindo a pressão sobre os preços.
Além disso, essa taxa serve de referência para praticamente todos os investimentos do país. Quando você ouve que um CDB rende 100% do CDI, está ouvindo sobre uma aplicação que acompanha de perto a Selic.
A renda fixa representa o conjunto de investimentos em que você conhece as regras de remuneração desde o início. É como emprestar dinheiro e saber exatamente quanto receberá de volta. Nessa categoria entram os títulos públicos do Tesouro Direto, CDBs bancários, LCIs e LCAs do agronegócio e imobiliário, além das debêntures de empresas.
A grande vantagem desses investimentos está na previsibilidade. Um Tesouro Selic, por exemplo, acompanha a taxa básica de juros dia após dia, sem sustos. Já um CDB prefixado garante exatamente quanto você receberá no vencimento, independentemente do que aconteça com a economia.
Vale destacar que renda fixa não significa ausência total de risco, já que empresas podem quebrar e bancos podem ter problemas. Por isso, existe o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que protege até R$ 250 mil por CPF em cada instituição financeira, além dos títulos públicos, emitidos pelo governo federal, que são considerados os investimentos mais seguros do país.
A renda variável engloba investimentos cujo retorno é imprevisível. Ações, fundos imobiliários e ETFs são os principais representantes dessa categoria. Aqui, você se torna sócio de empresas ou proprietário de cotas de empreendimentos, participando tanto dos lucros quanto dos prejuízos.
Diferentemente da renda fixa, onde você empresta dinheiro, na renda variável você compra um pedaço do negócio. Se a empresa vai bem, suas ações valorizam e você pode receber dividendos. Se vai mal, o valor pode despencar. É possível ganhar 50% em um ano ou perder 30% em um mês, por exemplo.
Apesar da volatilidade, historicamente a renda variável oferece os maiores retornos no longo prazo. Empresas sólidas tendem a crescer ao longo dos anos, gerando riqueza para seus acionistas. O segredo está em escolher bem e ter o emocional preparado para aguentar as oscilações do caminho.
A relação entre Selic e investimentos é direta. Quando os juros sobem, a renda fixa fica mais atrativa, pois oferece retornos elevados com baixo risco. Um Tesouro Selic pagando 15% ao ano compete diretamente com o retorno esperado de ações, mas sem a montanha-russa emocional.
Por outro lado, juros altos prejudicam as empresas, uma vez que o crédito fica mais caro, dificultando investimentos e expansão. Consumidores também compram menos, já que os financiamentos ficam mais restritivos. O resultado se mostra com lucros menores e ações em queda. Setores como varejo, construção civil e bens de consumo sofrem particularmente.
Com a Selic em patamares elevados, a escolha entre renda fixa e variável se torna ainda mais complexa. Cada modalidade apresenta vantagens e desvantagens que precisam ser cuidadosamente pensadas conforme o perfil e objetivos de cada investidor.
Entre as vantagens, destaca-se a excelente relação risco-retorno. Com a Selic a 15%, até mesmo investimentos conservadores superam facilmente a inflação. Além disso, a previsibilidade permite um planejamento financeiro mais preciso.
Já as desvantagens incluem a limitação de ganhos. Por melhor que seja um título de renda fixa, ele nunca renderá mais que o combinado. Também existe o custo de oportunidade, já que, enquanto seu dinheiro rende 15% ao ano, algumas ações podem estar sendo negociadas com desconto de 40% ou 50%, representando oportunidades únicas para o longo prazo.
Do lado positivo, alta da Selic cria oportunidades de compra. Muitas empresas sólidas veem suas ações despencarem junto com o mercado, mesmo mantendo bons fundamentos. Para investidores com horizonte longo, pode ser o momento ideal para montar posições. Empresas boas pagadoras de dividendos podem oferecer yields competitivos com a renda fixa.
Já as desvantagens incluem volatilidade extrema e possibilidade de perdas significativas no curto prazo. Com juros altos pressionando a economia, até empresas sólidas podem ver seus lucros diminuírem temporariamente. É preciso ter o emocional preparado e, principalmente, não precisar do dinheiro no curto prazo.
A palavra-chave para uma carteira de investimentos em tempos de juros altos é equilíbrio. Uma estratégia inteligente combina a segurança da renda fixa com oportunidades selecionadas em renda variável.
O famoso método das caixinhas pode ajudar, então, separe sua reserva de emergência, seus objetivos de médio prazo e seu dinheiro para o longo prazo.
Para a reserva de emergência, nada supera a liquidez e segurança do Tesouro Selic ou CDBs com liquidez diária. Já para objetivos de médio prazo, títulos prefixados ou atrelados à inflação podem fazer sentido, especialmente se você acredita que os juros cairão no futuro. Nesse cenário, esses papéis podem gerar ganhos de capital interessantes.
No longo prazo, mesmo com a Selic alta, vale considerar uma parcela em renda variável. Empresas de setores defensivos, como energia elétrica, saneamento e telecomunicações, além de boas pagadoras de dividendos, podem compor uma carteira equilibrada. A diversificação continua sendo a melhor proteção contra imprevistos.
A resposta depende do seu horizonte de tempo. A história mostra que crises e momentos de juros altos costumam criar as melhores oportunidades de compra. Após a crise de 2008, o Ibovespa subiu 82% em apenas um ano. Padrão similar ocorreu após outros momentos turbulentos da economia brasileira.
Para quem pensa em cinco, dez anos ou mais, ignorar completamente a renda variável pode significar perder oportunidades únicas, já que empresas sólidas continuam gerando valor independentemente do ciclo econômico. O segredo está em ser seletivo, focando em negócios com vantagens competitivas duradouras e balanços saudáveis.
Por fim, vale lembrar que uma carteira bem construída combina o melhor dos dois mundos: a segurança e previsibilidade da renda fixa com o potencial de crescimento da renda variável. Em tempos de Selic alta, o ideal pode ser aumentar a proporção de renda fixa, mas sem abandonar completamente as oportunidades que surgem no mercado de ações.