Tanques de guerra na Ucrânia: títulos indexados a índices de preço, ações de petrolíferas e de setores considerados defensivos, como os de energia, são recomendados neste momento (Valentyn Ogirenko/Reuters)
Marília Almeida
Publicado em 11 de março de 2022 às 06h00.
Última atualização em 11 de março de 2022 às 14h22.
Desde que o presidente Vladimir Putin iniciou a invasão a Ucrânia, tropas russas realizam bombardeios na capital Kiev e em diversas cidades do país. A tragédia humana, com saldo de mais de 300 civis mortos, é inegável. Mas o conflito vai além e também afeta a economia global, além dos investimentos ao redor do mundo.
Apesar de a Europa e os Estados Unidos já terem anunciado sanções para intimidar o governo russo, as negociações para o fim do conflito, que já soma 15 dias, não avançaram. E, quanto mais o conflito se estender, maiores serão seus efeitos.
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Essencialmente, a guerra tem um potencial inflacionário relevante, em um momento no qual os preços já estão em níveis historicamente mais elevados no mundo.
Isso porque há um choque na oferta do petróleo, que é a base da cadeia produtiva no mundo todo. O motivo: a Rússia é o segundo país com maior produção diária de petróleo do mundo depois dos Estados Unidos. O país também é responsável pelo abastecimento de aproximadamente um terço do gás natural consumido na Europa. Um dos efeitos é o aumento do preço dos combustíveis. Nesta quinta-feira, dia 10, a Petrobras anunciou um reajuste de quase 20% da gasolina.
A guerra provoca também um aumento de preço dos alimentos. Além de a Ucrânia ser uma grande exportadora de grãos, como o milho, tanto o país como a Rússia são grandes produtores de fertilizantes. O Brasil, por exemplo, importa 80% de fertilizantes que são utilizados na plantação de soja e milho, entre outros produtos. Ou seja, caso os fertilizantes produzidos pela Rússia sofram sanções econômicas, a oferta do produto acaba restringida e o preço sobe.
Para conter a alta dos preços, a previsão é a de que Copom suba novamente a taxa básica de juros, a Selic, em sua próxima reunião, na semana que vem. Além disso, o aumento da incerteza e da aversão ao risco afetam ativos mais considerados mais arriscados, como ações. Como consequência, há uma fuga de capital para ativos mais seguros. Esse movimento provoca uma elevação do sobe-e-desce, a chamada volatilidade, tanto nas bolsas como no câmbio.
Diante de tanta imprevisibilidade, o que fazer para proteger o patrimônio? Veja abaixo quatro as estratégias recomendadas por analistas:
A recomendação para o investidor mais conservador é aproveitar a alta da taxa de juros no país. A expectativa dos analistas da Genial Investimentos é que a Selic fique acima dos 12% ao ano no decorrer do ano. A taxa está atualmente no patamar de 10,75% ao ano.
Rodrigo Crespi, analista de mercados da Guide Investimentos, recomenda a aplicação em títulos privados atrelados ao IPCA (o índice oficial de inflação ao consumidor), como LCIs, LCAs, CRIs e CRAs, que são isentos do pagamento de Imposto de Renda. "Em geral, eles oferecem uma taxa prefixada atraente acima do IPCA e garantem ganho real no carrego dos títulos, mesmo nos de curta duração."
Mesmo em um cenário de arrefecimento do conflito, Crespi acredita que a tendência é que os preços continuem a subir, o que reforça a estratégia. "A inflação americana continua forte, ainda que em linha com o esperado. O conflito é apenas uma grande cereja do bolo."
Para o investidor com perfil arrojado, é possível se proteger investindo em empresas exportadoras que podem se beneficiar do movimento de alta da cotação do petróleo.
A Genial recomenda ao investidor adquirir papéis de empresas de exploração da matéria-prima. Isso porque o conflito deve seguir pressionando para cima a cotação. A preferência de analistas é a 3R Petroleum (RRRP3), que, ao longo do ano, deve concluir a aquisição de ativos comprados da Petrobras e começar o trabalho de revitalização de campos adquiridos. A Petrobras (PETR3, PETR4) seria outro nome, mas incertezas quanto ao cenário político e a sua política de preços recomendam cautela com o papel.
Crespi, da Guide, ressalta que esses papéis já tiveram uma forte valorização desde a eclosão do conflito. "O petróleo está sendo negociado agora a US$ 130 o barril. Se voltar ao preço de US$ 80, pode machucar quem entrar na ação agora."
"Mas, dependendo da extensão do conflito, bancos estrangeiros apostam que o preço pode ultrapassar os US$ 150. Portanto, continua sendo uma estratégia importante. O que antes eu recomendaria para uma porção de 15% da carteira, agora cairia para algo entre 10% e 12,5%", afirmou.
O setor elétrico é apontado como um setor mais defensivo pelos analistas do BB. Caso os conflitos caminhem para um pior cenário, o banco indica duas companhias setor elétrico, cujo faturamento é protegido contra pressões inflacionárias por serem indexados a índices de preços, como o IGP-M: AES Brasil e Alupar.
Crespi ressalta que a Alupar, que é tanto transmissora como geradora de enegia, pode não oferecer dividendos tão atraentes como aquelas que atuam apenas no segmento de transmissão de energia, mas o papel tem potencial de valorização.
Em momentos de turbulência e alta da inflação, é natural a recomendação para aplicar em ativos considerados porto-seguros, como dólar e ouro.
É possível se expor à moeda americana investindo em exportadoras, como as petrolíferas. Mas outras opções são fundos de investimentos focados em commodities sem hedge, além de ETFs de commodities, que têm maior exposição ao dólar, recomenda Crespi. "São ativos reais que atuam como reserva de valor importante. "Não vemos o dólar caindo abaixo de 5 reais no médio prazo. Então, é um bom momento para se posicionar na moeda".